sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Cerrado terá R$ 60 milhões para pesquisa.
Cerrado: savana mais rica do planeta. Foto: © Bento Viana/WWF-Brasil.

Recursos permitirão a coleta informações sobre a importância do bioma para a população e para o combate às mudanças climáticas.

O Cerrado, segundo maior bioma do Brasil, recebeu, no dia 10 de setembro, a doação de R$ 60 milhões (US$ 16,45 milhões), para o levantamento e a divulgação de informações sobre seus recursos florestais. A contribuição integra o Programa de Investimento Florestal (FIP, do inglês Forest Investment Program), vinculado ao Fundo de Investimentos Climáticos (CIF, do inglês Climate Investment Funds) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) será a instituição responsável pelo gerenciamento e execução dos desembolsos.

O projeto, denominado “Informações Florestais para uma Gestão Orientada à Conservação e Valorização dos Recursos Florestais do Cerrado pelos Setores Público e Privado”, será executado pelo Serviço Florestal Brasileiro (SFB), órgão vinculado ao Ministério do Meio Ambiente (MMA) e prevê a realização do Inventário Florestal Nacional (IFN) nos 11 Estados que compõem o bioma e a consolidação do Sistema Nacional de Informações Florestais (SNIF), uma plataforma, voltada à gestão e disseminação de informações sobre os recursos florestais do país.

Estimativa

Ao final do projeto, que tem duração de 48 meses, a sociedade terá em mãos estimativas detalhadas quanto à área de cobertura florestal e aos diferentes usos da terra; fragmentação, saúde e vitalidade das florestas; diversidade e abundância de espécies florestais; árvores fora da floresta; estimativas dos estoques florestais (volume e biomassa) e estoques de carbono acima e abaixo do solo; características do solo sob as florestas; manejo de florestas; e ainda dados socioambientais, tais como usos de produtos e serviços da floresta pela população local, além da percepção das comunidades quanto à importância das florestas do bioma Cerrado.

O IFN é uma iniciativa do Serviço Florestal Brasileiro, prevista no Artigo 71 do novo Código Florestal (Lei nº 12.651/2012), para levantar informações sobre os recursos florestais do país de forma sistematizada e periódica. Tem como objetivo produzir dados sobre a qualidade e o estado das florestas e dos recursos florestais do país, para fundamentar a formulação, implantação e execução de políticas públicas de desenvolvimento, uso, recuperação e conservação desses recursos. Os dados são baseados na coleta de dados em campo, em cerca de 15.000 pontos espalhados de maneira sistemática em todo o território nacional.

No início, os inventários visavam principalmente o monitoramento de estoques de madeira. Mas, a partir da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (Rio 92) e do desenvolvimento de novas tecnologias, os inventários florestais nacionais têm ampliado o seu escopo, valorizando a produção de informação sobre outros temas. Dentre os assuntos de maior interesse atualmente estão os estoques de biomassa e carbono, a biodiversidade, a saúde e a vitalidade das florestas, o manejo florestal e a importância social que as florestas desempenham nos dias de hoje.

Disponibilidade

A realização do Inventário Florestal Nacional tem sido feita por bioma ou Estado, conforme a disponibilidade de recursos financeiros e envolvimento dos Estados. Uma área correspondente a 102 milhões de hectares já foi inventariada. Em cinco Estados e mais o Distrito Federal já foram concluídos os levantamentos de dados em campo (DF, CE, RN, SE, ES, SC).

Além do projeto FIP-Cerrado, encontram-se em andamento mais dois projetos com o mesmo intuito: “Fortalecimento do Marco Nacional de Conhecimento e Informação para Subsidiar Políticas de Manejo Sustentável dos Recursos Florestais” (com o Global Environment Fund – GEF – Food and Agriculture Organization – FAO) e o “Inventário Florestal Nacional no Bioma Amazônia” (com o Fundo Amazônia – Banco Nacional de Desenvolvimento Social -BNDES).

O FIP-Cerrado

Cerca de 5 mil pontos serão visitados para a coleta de dados no bioma Cerrado. Segundo a gerente de Informações Florestais do SFB, Claudia Rosa, o FIP-Cerrado promoverá melhorias na gestão do bioma e contribuirá para a redução das emissões de gases do efeito estufa, a partir da proteção dos estoques de florestas e da promoção do manejo sustentável. “O Brasil não dispõe de informações adequadas sobre seus recursos florestais e essas informações são fundamentais para se estabelecer políticas públicas, de conservação e uso dos recursos”, enfatizou.

Claudia destacou que, a partir do projeto, os tomadores de decisão e a sociedade como um todo terão informações detalhadas sobre os recursos do Cerrado e sobre como eles estão sendo usados pela população. “As informações geradas irão contribuir, entre outras coisas, para a promoção de programas sustentáveis voltados à mitigação de emissões de gases de efeito estufa” explicou.

Sobre o bioma

Segundo dados do MMA, do ponto de vista da diversidade biológica, o Cerrado brasileiro é reconhecido como a savana mais rica do mundo, abrigando 11.627 espécies de plantas nativas já catalogadas. O bioma é lar de 5% de todas as espécies do mundo e comprime 30% da biodiversidade brasileira. Além dos aspectos ambientais, tem grande importância social.

Muitas populações sobrevivem de seus recursos naturais, incluindo etnias indígenas, quilombolas, geraizeiros, ribeirinhos, babaçueiras, vazanteiros e comunidades quilombolas que, juntas, fazem parte do patrimônio histórico e cultural brasileiro, e detêm um conhecimento tradicional de sua biodiversidade.

No entanto, a expansão da fronteira agrícola e a exploração predatória do material lenhoso para produção de carvão, nas três últimas décadas, causam uma progressiva e excepcional perda de habitat natural. Essa contínua degradação torna o bioma ainda mais vulnerável aos efeitos do aquecimento global. Em razão de sua extensão e da elevada quantidade de carbono fixado tanto em sua biomassa quanto no solo, o Cerrado apresenta papel fundamental na mitigação dos efeitos das mudanças climáticas decorrentes.

* Por Marta Moraes. Edição: Marco Moreira.


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