Quinze
anos e para sempre.
José Graziano da Silva. Foto: Cortesia do autor
Por José Graziano da Silva*
Roma, Itália, 29/9/2015 – Os próximos 15 anos serão
decisivos para o futuro de nosso planeta. Durante esse período, enfrentaremos
alguns dos maiores desafios do século 21, em meio a uma transição contínua e
profunda na economia global.
A superação da fome e da pobreza extrema são os
desafios mais importantes. Hoje em dia, quase 800 milhões de pessoas não têm
alimento suficiente para comer, apesar de se produzir comida suficiente no
mundo para alimentar a todos. É evidente que precisamos de soluções urgentes
para superar os gargalos estruturais que impedem que os que sofrem fome tenham
acesso aos alimentos.
Em outras palavras, a inclusão social deve se
converter na coluna vertebral do desenvolvimento. Entretanto, não conseguiremos
nem a inclusão social e nem o desenvolvimento, a menos que nossas decisões
estejam guiadas pela sustentabilidade.
Somos a primeira geração que pode acabar com a fome
e fazer com que a segurança alimentar e nutricional seja verdadeiramente
universal. E talvez também sejamos a última geração em condições de evitar
danos irreversíveis provocados pela mudança climática.
O contexto político necessário para avançar na
direção correta requer um grau sem precedentes de compromisso político.
Este mês foi dado um importante passo nesse
sentido, quando a comunidade internacional apoiou os 17 Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS), com uma agenda ambiciosa para mudar o mundo
para melhor nos próximos 15 anos.
Esse novo pacto global para o futuro inclui
crucialmente acabar com a pobreza e a fome até 2030, a mitigação e adaptação à
mudança climática e a busca de formas mais sustentáveis de fazer com que a
oferta atenda a demanda.
As decisões que tomamos como consumidores se
tornaram tão importantes para o futuro quanto as que tomamos como produtores.
Além dos cerca de 800 milhões de pessoas que sofrem
desnutrição crônica, a má nutrição também é um problema importante com
aproximadamente dois bilhões de pessoas sofrendo deficiências de
micronutrientes e outros 500 milhões que sofrem obesidade, esta última uma
doença que está aumentando em muitos países de renda média e alta.
O mundo que se prevê por meio da consecução dos
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável não é uma quimera inalcançável. Não é
uma utopia e podemos torná-lo realidade.
A solução está no problema. Na medida em que a
riqueza continuar ganhando distância da justiça, a sobrevivência dependerá mais
e mais do imperativo da cooperação.
Ou construímos um futuro para todos, ou não haverá
futuro aceitável para ninguém. Qualquer dúvida a respeito empalidece diante do
êxodo que presenciamos, com refugiados arriscando suas vidas em uma tentativa
desesperada de encontrar uma vida melhor em outro lugar.
Mais de 70% da insegurança alimentar no mundo se
concentra nas zonas rurais dos países pobres e em desenvolvimento.
Uma das soluções é reconhecer e apoiar o papel que
a agricultura familiar de pequena escala pode desempenhar para conseguir fome
zero de uma maneira sustentável.
Para conseguir isso. precisamos de políticas
públicas que desenvolvam as capacidades das pessoas, apoiar a produção,
facilitar o acesso ao crédito financeiro, à tecnologia e a outros serviços, e
promover a cooperação internacional.
Para erradicar a fome e a pobreza, devemos começar
fazendo mais do que enfrentar situações de emergência quando ocorrem e em seu
lugar dirigir nossos esforços para fazer frente às condições que as causam.
O custo do fracasso está claro. Se prevalecer o
enfoque de negócio, como tem sido até agora, em 2030 ainda teremos 650 milhões
de pessoas sofrendo fome.
Estimamos que para acabar com a fome até 2030 é
necessária uma combinação de investimentos em proteção social e agricultura e
desenvolvimento rural de aproximadamente US$ 267 bilhões. Isto significa cerca
de US$ 160 ao ano para cada pessoa que sofre fome.
Isto é mais ou menos o preço de um telefone
celular. Trata-se de uma quantidade relativamente pequena a pagar com a
finalidade de liberar o mundo do flagelo da fome e de fazê-lo durante nossas
vidas. Envolverde/IPS.
* José Graziano da Silva é diretor-geral da
Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).
Fonte: ENVOLVERDE
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