Por que falta água?
por Malu
Ribeiro*
Rio Piracicaba Abaixo do Nível. Foto: Paulo Pinto/
Fotos Públicas (12/02/2014).
É fato que o Brasil tem a maior reserva de água
doce do mundo. Cerca de 12% da água doce superficial do planeta corre em nossos
rios e bacias. Temos ainda grandes reservas de águas subterrâneas e chuvas
abundantes em 90% do nosso território. Entretanto, em meio a maior crise
hídrica da história do país, fica a pergunta: por que falta água no sudeste do
Brasil?
O primeiro ponto é entendermos como esse cenário de
abundância serviu para a construção do mito de que a água seria um recurso
inesgotável. Ao longo da história do país, que é ligada a exploração dos
recursos naturais, fomos aprendendo com os erros e com alguns esforços voltados
a recuperar o que perdemos. O mais conhecido deles fica no Rio de Janeiro e
data de 1861, quando o Imperador D. Pedro II ordenou um plano de
reflorestamento da Floresta da Tijuca como solução ao enfrentamento de uma
grave seca.
As florestas são grandes produtoras de água e
protetoras de todo o ciclo hidrológico, por isso, fundamentais para a garantia
de água, em quantidade e qualidade. A vegetação, sobretudo as matas ciliares,
aquelas que protegem as margens de rios e mananciais, evita a perda de umidade
do solo, a erosão e o assoreamento, abastece as nascentes e ainda mantém a
umidade do ar, lançando vapor na atmosfera e favorecendo o retorno da água em
forma de chuva.
Para avaliar a situação da vegetação nas principais
bacias hidrográficas da região Sudeste, como a do Rio Guandu, a SOS Mata
Atlântica realizou um estudo que apontou a relação direta entre o desmatamento,
a oferta de água e a presença de remanescentes florestais nas áreas de drenagem
dos sistemas de abastecimento.
Das bacias analisadas, a do Rio Guandu, principal
fonte de água para o Estado do Rio de Janeiro, é a que se encontra em melhor
situação, apesar de ainda estar longe do ideal. Dos 4.723 km2 que a compõe,
62,2% (2.939 km2) contém cobertura florestal natural acima de 1 hectare. Os
bons índices devem-se às áreas protegidas e unidades de conservação públicas e
privadas existentes nessa região, já que quase 70% do que está preservado está
nessas áreas.
Tão importante quanto conservar e recuperar esses
recursos naturais é evitar a pior forma de desperdício de água, a poluição. O
potencial de contribuição dos nossos rios ao abastecimento público, incluindo
aqueles que cortam as cidades, é tamanho que podemos afirmar que não haveria
crise se houvesse mais cuidado com essas águas e boa gestão. No entanto,
continuamos a tratar nossos rios como esgotos a céu aberto, a exemplo do que
acontece com importantes rios do Rio de Janeiro, como o Carioca, um dos mais
poluídos, mas que já foi fonte de água potável para a cidade.
Cito aqui outro estudo da SOS Mata Atlântica,
divulgado há poucos dias, e que registrou, no intervalo de apenas um ano, um
aumento da poluição e uma piora na qualidade da água dos rios pesquisados no
Rio de Janeiro. Dos 15 pontos em que a coleta foi realizada, somente 5
apresentaram qualidade regular e os outros 10 pontos registraram qualidade
ruim. Em 2014, 9 pontos tinham qualidade regular e 6 ruim. Nenhum dos pontos
analisados apresentou qualidade boa ou ótima. Esses indicadores revelam a
precária condição ambiental dos rios urbanos monitorados e reforçam a
necessidade de investimentos em saneamento básico.
Para enfrentar a crise da água e melhorar a
qualidade de vida é essencial recuperar nossas florestas e rios com
investimentos e avanços nos índices de tratamento de esgoto, gestão dos
resíduos sólidos, fiscalização e recuperação das áreas de preservação
permanente urbanas e rurais. O desafio é urgente e de todos. (SOS Mata
Atlântica/ #Envolverde).
* Malu Ribeiro é coordenadora da Rede das
Águas da Fundação SOS Mata Atlântica.
Fonte: SOS Mata Atlântica
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