Os desastres se acumulam, o
governo se abstém.
por Pedro
Telles*
Imagens aéreas mostram destruição causada por
tornado em Xanxerê. Foto: ©divulgação.
O começo da semana foi marcado por um desastre
natural com graves consequências na região Sul do Brasil : a cidade de Xanxerê,
em Santa Catarina, foi atingida por um tornado que deixou dois mortos, seis mil
desabrigados, e destruiu metade da área do município. Além das irreparáveis
perdas humanas, os prejuízos cálculados já chegam na casa dos R$50 milhões, e a
cidade pode levar um ano para ser reconstruída.
Infelizmente, o tornado que atingiu Xanxerê não é
um fenômeno isolado. Entre 1990 e 2010, 96 milhões de brasileiros foram
afetados de alguma forma por desastres naturais, e a frequência destes têm
aumentado com o passar dos anos. Diversos fatores contribuem para a
intensificação destes eventos, mas há um fator em comum com potencial
de agravar o risco de todos eles: mudanças climáticas.
Enquanto isso, em Brasília, o governo sinalizou que
vai ignorar desastres como o de Santa Catarina e descontinuou um importante
estudo sobre os impactos previstos para as mudanças climáticas no Brasil.
Denominado “Brasil 2040”, o estudo está sob responsabilidade da Secretaria de
Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência, e tem como objetivo estimar
possíveis impactos das mudanças climáticas sobre recursos hídricos, geração de
energia, agricultura, saúde e infraestrutura.
Ou seja, impactos que afetarão a vida de toda
sociedade. O novo ministro da SAE, Roberto Mangabeira Unger, indicou que não
pretende produzir um relatório final que consolide os resultados e apresente
propostas e prioridades para medidas de adaptação a serem adotadas no país.
Se o estudo for de fato engavetado, o governo
indicará que de fato caminha na contramão de urgências óbvias. Do tornado em
Xanxerê à grave crise hídrica que afeta o Sudeste, já estamos vivendo fenômenos
naturais extremos que retratam com clareza o que podemos esperar se não
colocarmos o enfrentamento às mudanças climáticas como prioridade das nossas
políticas ambientais, econômicas e sociais.
Para além das gavetas do ministro Mangabeira, este
é um ano-chave para o clima: em dezembro, espera-se que uma nova rodada de
negociações na ONU resulte em um ambicioso acordo global pela redução da
emissão dos gases de efeito estufa, responsávei pelas mudanças climáticas.
Enquanto isso, diversos países desenvolvem e implementam planos para se adaptar
à nova realidade de um mundo onde o desafio climático é central. O Brasil tem
todas as condições de se tornar uma verdadeira referência no assunto, para além
da retórica de diplomatas – mas precisa demonstrar isso na prática.
* Pedro Telles é da campanha de Clima e
Energia do Greenpeace Brasil.
Fonte: Greenpeace Brasil
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