quarta-feira, 29 de abril de 2015

Os desastres se acumulam, o governo se abstém.
por Pedro Telles*
Imagens aéreas mostram destruição causada por tornado em Xanxerê. Foto: ©divulgação.

O começo da semana foi marcado por um desastre natural com graves consequências na região Sul do Brasil : a cidade de Xanxerê, em Santa Catarina, foi atingida por um tornado que deixou dois mortos, seis mil desabrigados, e destruiu metade da área do município. Além das irreparáveis perdas humanas, os prejuízos cálculados já chegam na casa dos R$50 milhões, e a cidade pode levar um ano para ser reconstruída.

Infelizmente, o tornado que atingiu Xanxerê não é um fenômeno isolado. Entre 1990 e 2010, 96 milhões de brasileiros foram afetados de alguma forma por desastres naturais, e a frequência destes têm aumentado com o passar dos anos. Diversos fatores contribuem para a intensificação destes eventos, mas há um fator em comum com potencial de agravar o risco de todos eles: mudanças climáticas.

Enquanto isso, em Brasília, o governo sinalizou que vai ignorar desastres como o de Santa Catarina e descontinuou um importante estudo sobre os impactos previstos para as mudanças climáticas no Brasil. Denominado “Brasil 2040”, o estudo está sob responsabilidade da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência, e tem como objetivo estimar possíveis impactos das mudanças climáticas sobre recursos hídricos, geração de energia, agricultura, saúde e infraestrutura.

Ou seja, impactos que afetarão a vida de toda sociedade. O novo ministro da SAE, Roberto Mangabeira Unger, indicou que não pretende produzir um relatório final que consolide os resultados e apresente propostas e prioridades para medidas de adaptação a serem adotadas no país.

Se o estudo for de fato engavetado, o governo indicará que de fato caminha na contramão de urgências óbvias. Do tornado em Xanxerê à grave crise hídrica que afeta o Sudeste, já estamos vivendo fenômenos naturais extremos que retratam com clareza o que podemos esperar se não colocarmos o enfrentamento às mudanças climáticas como prioridade das nossas políticas ambientais, econômicas e sociais.

Para além das gavetas do ministro Mangabeira, este é um ano-chave para o clima: em dezembro, espera-se que uma nova rodada de negociações na ONU resulte em um ambicioso acordo global pela redução da emissão dos gases de efeito estufa, responsávei pelas mudanças climáticas. Enquanto isso, diversos países desenvolvem e implementam planos para se adaptar à nova realidade de um mundo onde o desafio climático é central. O Brasil tem todas as condições de se tornar uma verdadeira referência no assunto, para além da retórica de diplomatas – mas precisa demonstrar isso na prática. 

* Pedro Telles é da campanha de Clima e Energia do Greenpeace Brasil.


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