O gênero ficção climática tem
lugar na Índia.
por Dan
Bloom*
As devastadoras inundações, que em 2014 causaram
estragos no Estado de Assam, na Índia, levaram o governo a construir pontes de
bambu. Este homem e este menino vão de uma aldeia a outra de barco e cruzam as
pontes a pé. Foto: Priyanka Borpujari/IPS.
Taipe, Taiwan, 22/4/2015 – Os corredores das
universidades dos Estados Unidos já não são alheios ao gênero literário e
cinematográfico chamado ficção climática e, em breve, a Índia se somará a essa
tendência graças a um professor pioneiro em seu ensino nesse país, T.
Ravichandran.
Ficção Climática e Filmes Climáticos é o título do
curso que Ravichandran dará no Instituto de Tecnologia Kanpur (IITK), no Estado
indiano de Uttar Pradesh. O curso começará no final de julho e contará com 15
módulos que versarão sobre ecoficção, ecofabulismo e representações de questões
vinculadas à mudança climática em filmes e documentários.
Os temas foram pensados para estudantes do IITK e
será o primeiro curso desse tipo na Índia, confirmou Ravichandran à IPS. “Na
Índia não há tanta consciência sobre a mudança climática como nos Estados
Unidos e na Grã-Bretanha”, explicou.
“Minha última pesquisa, intitulada Literatura,
Tecnologia e Ambiente: Perspectivas Global e Pedagógica, patrocinada pela
bolsa de excelência acadêmica e profissional Fulbright-Nehru, oferecida pela
Fundação Educacional Estados Unidos-Índia (Usief-Índia), e realizada na
Universidade de Duke, na Carolina do Norte, foi um ponto de inflexão na minha
carreira”, destacou Ravichandran.
O professor de literatura afirmou que, enquanto
esteve na Carolina do Norte, experimentou uma mudança de paradigma em seu
pensamento sobre como se conectava com o ambiente. “Me fez pensar seriamente em
meu papel como professor de literatura para estudantes de engenharia”, explicou
à IPS. “Quanto tempo continuarei ensinando (William) Shakespeare e (Percy)
Shelley, fazendo com que lhes agrade a beleza dos narcisos ou dos sabiás,
quando logo estarão em perigo se a mudança climática não for detida?”, se
perguntou.
“Para que minha existência seja relevante na Terra,
pensei que pelo menos deveria gerar consciência sobre a mudança climática nos
estudantes. Assim, comecei a trabalhar no curso. Espero ter êxito na Índia e
ser efetivo”, pontuou, esperançoso.
Dado que o principal motivo de preocupação global
atualmente é a mudança climática, que elimina as barreiras geopolíticas e
conecta os humanos na busca de soluções comuns, Ravichandran destaca o enfoque
interdisciplinar do curso. “A ficção climática e os filmes climáticos oferecem
um estudo interdisciplinar de um fenômeno ameaçador do qual os humanos da era
Antropocena (período mais recente da história na Terra) são testemunhas
impotentes, como se estivessem presos em um barco que naufraga”, afirmou.
“A verdadeira questão a ser atendida não é, como
dizem os céticos da mudança climática, se a catástrofe é tão alarmante a ponto
de os humanos terem de agir imediatamente, mas quanto tempo a humanidade pode
se permitir permanecer insensível a algo tão evidente”, acrescentou.
Ravichandran espera que, se conseguir que seus
alunos se concentrem em literatura e filmes de ficção climática, promoverá uma
mudança de mentalidade que lhes permita pensar no uso sustentável dos recursos
escassos e assegurar um sustento simbiótico entre humanos e não humanos no
planeta Terra.
Os estudantes do curso pioneiro do IITK lerão
romances como O Ano do Dilúvio, de Margaret Atwood, Um Amigo da Terra,
de T. Coraghessan Boyle, e Flight Behavior (Comportamento de Voo),
escrita em 2012 por Barbara Kingsolver. Também assistirão e debaterão sobre
filmes como Interestelar, dirigido por Christopher Nolan e que estreou
em 2014, Snowpiercer (Limpa-Neve), um filme sul-coreano-norte-americano
estreado em 2013, dirigido por Bong Joon-ho e escrito por Kelly Masterson, e O
Dia Depois de Amanhã, de 2005, dirigido por Roland Emmerich, elencou
Ravichandran. É gratificante o auge do gênero ficção climática no Ocidente, é
gratificante que na Índia o IITK ofereça um curso desse tipo a estudantes de
engenharia, opinou.
O gênero ficção climática pode ser considerado uma
abertura do prisma cultural, um termo de moda, um instrumento de relações
públicas ou um conceito de mercado, mas chegou para ficar, e a Índia não fez
mais do que se unir ao clube, seguindo o auge que já se registrou em países
ocidentais.
De fato, o professor Ravichandran e seus alunos
farão história com o curso, e esperamos que os meios de comunicação em Uttar
Pradesh e outros Estados considerem essa história como uma notícia e a
publiquem em inglês e hindi. O curso poderia se converter em um modelo a ser
imitado por outros acadêmicos da Índia.
* Dan Bloom é jornalista independente de
Boston e mora em Taiwan. Em 1971 se formou na Tufts University, onde se
especializou em literatura francesa. Pode ser seguido em seu Twitter:
@polçarcityman.
Fonte: ENVOLVERDE
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