sábado, 25 de abril de 2015

O gênero ficção climática tem lugar na Índia.
por Dan Bloom*
As devastadoras inundações, que em 2014 causaram estragos no Estado de Assam, na Índia, levaram o governo a construir pontes de bambu. Este homem e este menino vão de uma aldeia a outra de barco e cruzam as pontes a pé. Foto: Priyanka Borpujari/IPS.

Taipe, Taiwan, 22/4/2015 – Os corredores das universidades dos Estados Unidos já não são alheios ao gênero literário e cinematográfico chamado ficção climática e, em breve, a Índia se somará a essa tendência graças a um professor pioneiro em seu ensino nesse país, T. Ravichandran.

Ficção Climática e Filmes Climáticos é o título do curso que Ravichandran dará no Instituto de Tecnologia Kanpur (IITK), no Estado indiano de Uttar Pradesh. O curso começará no final de julho e contará com 15 módulos que versarão sobre ecoficção, ecofabulismo e representações de questões vinculadas à mudança climática em filmes e documentários.

Os temas foram pensados para estudantes do IITK e será o primeiro curso desse tipo na Índia, confirmou Ravichandran à IPS. “Na Índia não há tanta consciência sobre a mudança climática como nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha”, explicou.

“Minha última pesquisa, intitulada Literatura, Tecnologia e Ambiente: Perspectivas Global e Pedagógica, patrocinada pela bolsa de excelência acadêmica e profissional Fulbright-Nehru, oferecida pela Fundação Educacional Estados Unidos-Índia (Usief-Índia), e realizada na Universidade de Duke, na Carolina do Norte, foi um ponto de inflexão na minha carreira”, destacou Ravichandran.

O professor de literatura afirmou que, enquanto esteve na Carolina do Norte, experimentou uma mudança de paradigma em seu pensamento sobre como se conectava com o ambiente. “Me fez pensar seriamente em meu papel como professor de literatura para estudantes de engenharia”, explicou à IPS. “Quanto tempo continuarei ensinando (William) Shakespeare e (Percy) Shelley, fazendo com que lhes agrade a beleza dos narcisos ou dos sabiás, quando logo estarão em perigo se a mudança climática não for detida?”, se perguntou.

“Para que minha existência seja relevante na Terra, pensei que pelo menos deveria gerar consciência sobre a mudança climática nos estudantes. Assim, comecei a trabalhar no curso. Espero ter êxito na Índia e ser efetivo”, pontuou, esperançoso.

Dado que o principal motivo de preocupação global atualmente é a mudança climática, que elimina as barreiras geopolíticas e conecta os humanos na busca de soluções comuns, Ravichandran destaca o enfoque interdisciplinar do curso. “A ficção climática e os filmes climáticos oferecem um estudo interdisciplinar de um fenômeno ameaçador do qual os humanos da era Antropocena (período mais recente da história na Terra) são testemunhas impotentes, como se estivessem presos em um barco que naufraga”, afirmou.

“A verdadeira questão a ser atendida não é, como dizem os céticos da mudança climática, se a catástrofe é tão alarmante a ponto de os humanos terem de agir imediatamente, mas quanto tempo a humanidade pode se permitir permanecer insensível a algo tão evidente”, acrescentou.

Ravichandran espera que, se conseguir que seus alunos se concentrem em literatura e filmes de ficção climática, promoverá uma mudança de mentalidade que lhes permita pensar no uso sustentável dos recursos escassos e assegurar um sustento simbiótico entre humanos e não humanos no planeta Terra.

Os estudantes do curso pioneiro do IITK lerão romances como O Ano do Dilúvio, de Margaret Atwood, Um Amigo da Terra, de T. Coraghessan Boyle, e Flight Behavior (Comportamento de Voo), escrita em 2012 por Barbara Kingsolver. Também assistirão e debaterão sobre filmes como Interestelar, dirigido por Christopher Nolan e que estreou em 2014, Snowpiercer (Limpa-Neve), um filme sul-coreano-norte-americano estreado em 2013, dirigido por Bong Joon-ho e escrito por Kelly Masterson, e O Dia Depois de Amanhã, de 2005, dirigido por Roland Emmerich, elencou Ravichandran. É gratificante o auge do gênero ficção climática no Ocidente, é gratificante que na Índia o IITK ofereça um curso desse tipo a estudantes de engenharia, opinou.

O gênero ficção climática pode ser considerado uma abertura do prisma cultural, um termo de moda, um instrumento de relações públicas ou um conceito de mercado, mas chegou para ficar, e a Índia não fez mais do que se unir ao clube, seguindo o auge que já se registrou em países ocidentais.

De fato, o professor Ravichandran e seus alunos farão história com o curso, e esperamos que os meios de comunicação em Uttar Pradesh e outros Estados considerem essa história como uma notícia e a publiquem em inglês e hindi. O curso poderia se converter em um modelo a ser imitado por outros acadêmicos da Índia. 

* Dan Bloom é jornalista independente de Boston e mora em Taiwan. Em 1971 se formou na Tufts University, onde se especializou em literatura francesa. Pode ser seguido em seu Twitter: @polçarcityman.


Fonte: ENVOLVERDE

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