A tal da sacolinha!
por Benjamin Gonçalves, do
Instituto Ethos
A
vantagem das novas sacolas é que são feitas a partir da cana-de-açúcar,
matéria-prima renovável, ao contrário das anteriores, à base de petróleo.
Há duas semanas (5/4), começou a valer, na cidade
de São Paulo, a Lei Municipal 15.374/2011, que determina o uso de novas sacolas
plásticas nos supermercados. A partir de então, os consumidores paulistanos não
recebem mais as tradicionais sacolinhas brancas, feitas de material derivado de
petróleo. Em seu lugar, estão à sua disposição sacolas nas cores verde ou
cinza, que têm em sua composição elementos derivados de matéria-prima
renovável, como a cana-de-açúcar.
Proibidos de distribuir as sacolas tradicionais,
sob o risco de serem multados em até R$ 2 milhões, os supermercados decidiram
cobrar entre R$ 0,08 e R$ 0,10 por unidade das novas sacolinhas. Em entrevista
sobre o assunto, em 9/4, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, disse não
ver coerência nessa atitude dos estabelecimentos comerciais. “As lojas sempre
tiveram a liberdade de cobrar ou não pelas sacolinhas, mas nunca cobraram. Logo
agora, que temos um projeto de sustentabilidade para a cidade, vão passar a
cobrar? Considero essa uma atitude incoerente com a responsabilidade ecológica
que todo empresário deve ter. Eles deveriam promover a sustentabilidade, e não
colocar obstáculos para que ela se torne realidade”, afirmou.
Maiores e mais resistentes que as anteriores, as
novas sacolinhas trazem impressas orientações sobre o descarte correto de
resíduos, entre as quais exemplos de produtos que poderão ser descartados em
cada tipo de sacola, bem como os que não são permitidos. A sacola de cor verde
deve ser reutilizada somente para o descarte de materiais recicláveis – metal,
papel, plástico e vidro – que são recolhidos pelo Programa de Coleta Seletiva e
encaminhados para as centrais mecanizadas de triagem. Já a sacola de cor cinza
deve ser reutilizada para o descarte do lixo não reciclável, recolhido pela
coleta convencional, como restos de alimento, papel sujo, fraldas e bitucas de
cigarro, por exemplo.
É importante ressaltar, no entanto, que a
vantagem das novas sacolinhas é o fato de elas serem feitas a partir da
cana-de-açúcar, que é uma matéria-prima renovável, ao contrário das anteriores,
à base de petróleo, fonte não renovável. Acontece que esse novo material, tanto
quanto o anterior, não é biodegradável e continuará a causar problemas, como o
entupimento de bueiros ou a morte de animais por ingestão.
A opção mais consciente, portanto, é desestimular
o consumo de sacos plásticos, seja de que material for, pois qualquer tipo
trará prejuízos ao meio ambiente.
Além dos supermercados
A Prefeitura de São Paulo vai criar um decreto de
lei para regulamentar também o uso de sacolas plásticas distribuídas em lojas
de roupas e outros tipos de estabelecimentos comerciais na cidade, as quais não
serão utilizadas para descarte de lixo, de acordo com o secretário municipal de
Serviços, Simão Pedro. “Por isso, elas não precisam ser verdes ou cinza, como
as de supermercado”, afirmou.
“Pelo entendimento rigoroso da lei, as sacolas
plásticas tradicionais estão proibidas e precisam ser enquadradas. Embora
tenham outra reutilização, que não a coleta seletiva, entendemos que elas devem
ser fabricadas com uma composição de bioplástico e, portanto, haverá uma
normatização”, ressaltou Pedro.
De acordo com o secretário, há pelo menos cinco
meses um grupo de trabalho criado pela Prefeitura estuda como será essa
regulamentação. As sacolas distribuídas nos shoppings de São Paulo também
deverão ter, futuramente, 51% de material biodegradável, como as dos
supermercados, mas poderão ser de qualquer cor e manter o logotipo das lojas.
As sacolinhas pelo mundo
Embora recente no Brasil, o debate sobre proibir
ou não o fornecimento de sacolas plásticas por estabelecimentos comerciais tem
sido feito há muito tempo em várias partes do mundo. Iniciativas para banir ou
taxar o uso de sacolas plásticas já existem há mais de dez anos. É interessante
observar que, em diversos locais, as sacolinhas foram banidas, e não
substituídas por embalagens de outro material.
Para reduzir o consumo das sacolas de
polietileno, alguns governos locais optaram por cobrar uma taxa do consumidor
que insista em usar o modelo tradicional. É o que ocorre na Irlanda desde 2002,
medida que reduziu a distribuição de sacos plásticos em mais de 90%. Mas o
primeiro país europeu a banir de fato as sacolas de polietileno foi a Itália,
em 2011. As lojas italianas, que antes distribuíam 20 bilhões de sacolas por
ano, o maior índice do continente, agora só podem oferecer sacos de papel, de
pano ou de materiais biodegradáveis.
Em 2002, Bangladesh foi um dos primeiros países a
proibir a fabricação, distribuição e uso de sacolas plásticas em seu
território. A decisão se deveu às inundações que ocorreram no país em 1989 e
1998, provocando inúmeras mortes. De acordo com ambientalistas e urbanistas
locais, os sacos plásticos que se espalhavam pelas ruas, entupindo bueiros,
agravaram a situação. Já em algumas regiões da vizinha Índia, como a cidade de
Dharamsala, nenhum lojista, distribuidor, comerciante, vendedor ou ambulante
pode fornecer sacolas plásticas aos consumidores desde 2010. A iniciativa foi
adotada para diminuir o impacto no meio ambiente e também para impedir a morte
de vacas, animal sagrado, pela ingestão do material. Além de multas, a violação
da lei prevê prisão de até 5 anos.
Na China, em 2008, não apenas as sacolas
plásticas foram banidas, mas também a produção, distribuição e uso de saquinhos
menores e mais finos, como os usados para embalar produtos a granel. Até então,
os chineses consumiam cerca de 3 bilhões de sacolinhas por dia. A iniciativa
evitou o uso de 1,6 milhões de toneladas de petróleo no seu primeiro ano.
Em 2003, o governo da África do Sul decidiu
proibir as lojas de distribuir sacolas plásticas aos clientes. Quem infringir a
lei pode receber uma multa correspondente a até R$ 50 mil ou ser condenado a
dez anos de prisão. Outro país africano a proibir todos os tipos de saco
plástico foi Ruanda. Graças a essa medida, as ruas de suas cidades estão entre
as mais limpas do continente.
Desde agosto de 2010, a Cidade do México também
conta com leis que proíbem o fornecimento de sacolas plásticas nos
estabelecimentos comerciais, que só podem vender sacolas biodegradáveis.
Quem
desobedecer as regras pagará multas entre US$ 4,4 mil e US$ 90 mil. A medida
está prevista no “Plano Verde”, que propõe uma série de estratégias para
estimular o desenvolvimento sustentável na cidade e mitigar os efeitos das
mudanças climáticas.
Nos Estados Unidos, também aboliram o uso de
sacolas plásticas as cidades de San Francisco (em 2007), Washington (em 2010) e
Los Angeles (em 2014). Apenas em San Francisco, a prefeitura estimou que, em
seu primeiro ano, a iniciativa reduziu o consumo de petróleo em 3 milhões de
litros.
Na Austrália do Sul, um dos seis estados
australianos, as sacolas plásticas estão proibidas desde 2009. Em muitas outras
regiões do país, embora não haja lei semelhante, os supermercados resolveram
unir-se para estimular o uso de sacolas alternativas às embalagens plásticas.
Eles dispõem inclusive de ecobags térmicas para levar artigos quentes ou frios.
Fonte: Instituto
Ethos
Nenhum comentário:
Postar um comentário