A poluição é um fator subestimado
nos ODS.
por
Stephen Leahy, da IPS
O rio Quibú, que passa pelo bairro do Náutico,
em Havana, sempre está cheio de lixo. Foto: Jorge Luis Baños/IPS.
Uxbridge, Canadá, 30/3/2015 – A poluição será, com
toda probabilidade, o problema de saúde mundial mais urgente nos próximos anos,
se não houver prevenção nem gestões de limpeza eficazes, afirma os
especialistas. A contaminação do ar, da água e do solo mata cerca de nove
milhões de pessoas por ano e afeta a saúde de mais de 200 milhões em todo o
mundo. Muitas outras morrem mais devido à contaminação do que por malária e
HIV/aids combinados.
O desenvolvimento e o aumento dos níveis de
poluição seguem estreitamente vinculados, como se evidencia claramente na China
e na Índia. Mas os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) oferecem uma
grande oportunidade para frear a contaminação e reorientar as economias para
vias de desenvolvimento limpo e verde.
“A chave para o desenvolvimento e a melhoria da
saúde de todos exige estratégias novas e limpas para o desenvolvimento econômico”,
afirmou Fernando Lugris, representante especial do ministro das Relações
Exteriores do Uruguai para assuntos de ambiente e funcionário da embaixada de
seu país em Berlim. “Não se pode ignorar o impacto global dos produtos químicos
tóxicos nos ODS”, afirmou à IPS.
Existem pelo menos 143 mil produtos químicos
artificiais registrados, e a maioria não foi submetida a estudos sobre suas
possíveis consequências para a saúde. Além disso, o mundo gera mais de 400 mil
toneladas de resíduos perigosos a cada ano, conforme denunciou Julian Cribb em Planeta
Envenenado: Como a Constante Exposição a Produtos Químicos Artificiais Arrisca
Sua Vida.
A neve em cima do monte Everest está muito
contaminada para se beber. Um estudo concluiu que os recém-nascidos estão contaminados
com uma média de 212 substâncias químicas diferentes, segundo Cribb.
Os ODS serão uma nova série de objetivos, metas e
indicadores universais que os países deverão utilizar para definir suas agendas
e políticas públicas entre 2016 e 2030. Eles ampliam os Objetivos de
Desenvolvimento do Milênio (ODM), o marco aplicado entre 2000 e 2015, que
estavam concentrados nos países do Sul em desenvolvimento. Embora poucos ODM
tenham sido alcançados, foram cruciais para enfocar a ajuda e as políticas de desenvolvimento,
bem como um ponto de referência muito visível para medir os esforços
internacionais.
Os 17 ODS propostos incluem metas para erradicar a
pobreza e a fome, conseguir uma vida saudável, proporcionar uma educação de
qualidade, conseguir a igualdade de gênero e reduzir as desigualdades.
O
terceiro ODS, focado em “garantir uma vida saudável e promover o bem-estar para
todos de todas as idades”, inclui uma meta específica de redução da
contaminação. Ele estipula: “Reduzir substancialmente até 2030 o número de
mortes e doenças como consequência de produtos químicos perigosos e da
contaminação do ar, da água e do solo”.
“A meta é genial, mas nos preocupa o indicador
proposto atualmente”, apontou Richard Fuller, da Terra Pura, uma organização
independente norte-americana, antes conhecida como Instituto Blacksmith, que
ajuda a limpar locais onde é lançado lixo tóxico nos países mais pobres. A
Terra Pura também integra a Aliança Mundial para a Saúde e Contra a
Contaminação (GAHP).
Os indicadores dos ODS são ferramentas ou métodos
para medir o progresso no êxito de uma meta. Contar com o indicador adequado é
fundamental para saber se o objetivo foi alcançado, explicou Fuller. Porém, o
único indicador atual é a mediação dos níveis de poluição do ar nas zonas urbanas.
“Não há nada neste momento sobre a água, o solo ou a poluição do ar interior”,
destacou.
Mas há tempo para mudar essa situação. Os ODS serão
aprovados na sessão da Assembleia Geral da ONU dos dias 25, 26 e 27 de
setembro. A Comissão de Estatística das Nações Unidas, que prepara os
indicadores para os 17 ODS e suas 169 metas, avisou que não poderá concluir seu
trabalho antes de março do próximo ano.
A GAHP, junto com o Programa das Nações Unidas para
o Meio Ambiente (Pnuma), Alemanha, Suécia e Uruguai propuseram um conjunto mais
amplo de indicadores baseados em medições de mortalidade e deficiência no
contexto da metodologia denominada carga global de enfermidade.
Embora se
entenda que a exposição à contaminação tem efeitos graves sobre a saúde, isso pode
ser difícil de quantificar.
A Organização Mundial da Saúde e o Instituto para
os Indicadores e a Avaliação da Saúde, da Universidade de Washington,
desenvolveram uma forma de medir as consequências da contaminação na saúde,
utilizando os anos de vida ajustados por incapacidade. “Este é um indicador
aceito, mas tem que ser melhorado, já que ainda não cobre os impactos da
contaminação dos solos”, disse Fuller.
A GAHP propôs que o indicador da redução da
contaminação mostre as taxas atuais de mortalidade e incapacidade geradas pelas
diferentes formas de contaminação, em comparação com uma base de referência de
2012 fixada mediante a metodologia da carga global de enfermidade. “A
contaminação afeta tudo e todos, mas a consciência de suas repercussões é escassa.
Este é o momento para colocar o tema sobre a mesa”, ressaltou Lugris.
Envolverde/IPS.
* Stephen Leahy ganhou em 2012 o prêmio
Global Príncipe Alberto/Nações Unidas para jornalismo sobre mudança climática e
é autor do livro Your
Water Footprint: The Shocking Facts About How Much Water We Use To Make
Everyday Products (Sua Pegada de Água: Dados Impactantes Sobre a Quantidade
de Água que Utilizamos para Fazer os Produtos Cotidianos).
Fonte: ENVOLVERDE
Nenhum comentário:
Postar um comentário