O ciclone Pam atingiu fortemente
a pobreza de Vanuatu.
por
Catherine Wilson, da IPS
Os assentamentos informais de Port Vila,
caracterizados por suas moradias vulneráveis, foram devastados pelo ciclone Pam
que açoitou Vanuatu. Foto: Organização Internacional para as Migrações.
Canberra, Austrália, 14/4/2015 – O ciclone tropical
Pam, que açoitou o Estado insular de Vanuatu no dia 13 de março, agravou a
situação de vulnerabilidade dos moradores nos assentamentos informais da
capital, Port Vila. Os ventos de até 270 quilômetros por hora e as chuvas torrenciais
destruíram moradias precárias, interromperam os serviços públicos e inundaram
localidades que já sofriam maus sistemas de drenagem e saneamento deste país do
sul do Oceano Pacífico, um dos de menor desenvolvimento do mundo.
“O ciclone afetou 80% da minha comunidade. Temos
comida suficiente, mas a qualidade da água é muito ruim”, contou à IPS Joel,
morador de Port Vila. Os fortes ventos danificaram sua casa, mas muitas outras
ficaram completamente destruídas.
Na última semana, a Organização Internacional para
as Migrações registrou 50 refugiados em estruturas semelhantes a cortiços nos
assentamentos informais, um mês depois da passagem do ciclone. As vítimas
precisam de víveres, água e saneamento, enquanto esperam ajuda para
reconstrução de suas casas.
Vanuatu é um arquipélago de mais de 80 ilhas, a
nordeste da Austrália, com cerca de 265 mil habitantes. O ciclone matou 11
pessoas e alterou a vida de 166 mil moradores, ou 63% da população. É
considerado o pior desastre natural na história do país.
Port Vila, o principal centro urbano, situado na
costa sudoeste da ilha de Efate, está muito exposto às inclemências do tempo e
do mar. Entre 30% e 40% de seus 44 mil habitantes vivem em assentamentos
informais, com Freswota e Seaside. A moradia inadequada, os serviços básicos
insuficientes e a lotação contribuem para uma taxa de pobreza de 18% na cidade,
em contraste com 10% das zonas rurais.
“A maioria dos refugiados em zonas urbanas e
suburbanas é de vulneráveis às futuras crises. A magnitude da devastação das
moradias e da infraestrutura é enorme. Pontes e estradas também foram
danificadas, o que, sem dúvida, terá um alto custo no esforço de recuperação”,
afirmou Peter Korisa, gerente de operações do Escritório Nacional de Gestão de
Desastres.
Frido Henrickx, chefe da equipe de apoio da Cruz
Vermelha Internacional em Vanuatu, disse à IPS que testemunhou a gravidade dos
danos nos assentamentos urbanos. “Durante a primeira semana depois do ciclone,
havia 43 centros de evacuação em Port Vila que amparavam entre quatro mil e
cinco mil pessoas”, afirmou.
O porta-voz da Organização das Nações Unidas (ONU),
Stéphane Dujarric, disse, no dia 10, que os países doadores prometeram apenas
36% dos US$ 30 milhões que o fórum mundial pediu para ajudar Vanuatu. Dujarric
destacou que há 111 mil pessoas sem acesso a água potável e alertou que a
destruição de 90% dos cultivos do país implica um perigo para os que dependem
da agricultura para sobreviver.
Embora a maioria viva no meio rural, a urbanização
avança rapidamente ao ritmo anual de 4% em Vanuatu, superando a capacidade de
planejamento urbano do Estado. Atualmente, 25% da população é urbana, e
espera-se que esse número aumente para 53% até 2050, segundo o independente
Instituto de Política Pública do Pacífico.
Este Estado insular fica no que se conhece como
Cinturão de Fogo do Pacífico e em uma zona de clima tropical ao sul do Equador,
com temporada de ciclones de novembro a abril. Essas condições deixam o país
vulnerável a terremotos, erupções vulcânicas, ciclones e tsunamis.
Pelo menos 20 ciclones açoitaram Vanuatu nos
últimos 25 anos. Em 2014, o ciclone Lusi afetou 20 mil pessoas das províncias
do norte e do centro e destruiu aldeias inteiras e plantações. Este país tem a
população mais exposta aos desastres naturais do mundo, com 63,6% do total,
segundo as Nações Unidas.
A vulnerabilidade da população urbana se agrava
porque 27% das casas na capital são rudimentares. A construção de uma moradia
forte e resistente é muito cara e o financiamento não está ao alcance de muitos
dos habitantes com salários reduzidos.
“O objetivo do governo é dar moradia às pessoas,
mas só pode lhes proporcionar a terra, não tem recursos financeiros para também
construir casas”, afirmou o chefe Kalanga Sawia, no assentamento de Freswota,
com cerca de sete mil a oito mil pessoas. Por isso, as pessoas constroem suas
casas com materiais recuperados ou baratos, como madeira, ferro corrugado,
estanho e alguns tipos de chapas.
O ciclone Pam interrompeu os serviços de
eletricidade, água e comunicações, “que agora voltaram ao estado em que estavam
antes do ciclone, que não é ótimo”, afirmou Henrickx, da Cruz Vermelha. Por
exemplo, os residentes do subassentamento Freswota 2 têm acesso ao fornecimento
de água, mas apenas metade deles tem eletricidade. Em todo o país, somente 28%
da população tem acesso a energia elétrica e 64% aos serviços de saneamento.
Há nove anos, Vanuatu se converteu no primeiro país
insular do Pacífico a integrar a gestão de risco de desastres ao seu
planejamento nacional. Em 2013, um moderno centro de alerta de desastres, com
capacidade para registrar atividades vulcânica, sísmica e dos tsunamis, abriu
suas portas em Port Vila. Na medida em que o ciclone Pam se aproximava, foi
usada a nova tecnologia para enviar alertas e recomendações aos moradores por
mensagens de texto, e dessa forma 80% da população foi atingida.
Entretanto, como um dos países de menor
desenvolvimento do mundo, Vanuatu tem capacidade mínima para enfrentar a
destruição provocada pelas catástrofes ano após ano. Korisa, do Escritório
Nacional de Gestão de Desastres, alerta que a recuperação dos assentamentos de
Port Vila será muito lenta e enfrentará obstáculos devido a problemas como
posse da terra e as limitações financeiras e de recursos.
Fonte: ENVOLVERDE
Nenhum comentário:
Postar um comentário