Reduzir emissões não dependerá
apenas da Amazônia, diz pesquisador do Inpe.
Por Talise Rocha, do Observatório
ABC
“A Amazônia reduziu seu papel na assimilação de
dióxido de carbono e isso pode implicar na sua perda como mitigadora global”,
diz Luiz Aragão, pesquisador da Divisão de Sensoriamento Remoto do Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Segundo ele, o Brasil terá que investir
em alternativas como mudanças no uso da terra para mitigar suas emissões sem
depender apenas das florestas para esse papel.
A constatação veio a partir do estudo publicado
pela revista “Nature”, cujo resultado revelou que um aumento na mortalidade das
árvores na Amazônia está afetando sua capacidade em sequestrar carbono. O gás
armazenado pelo bioma na década de 1990 chegou a dois bilhões de toneladas por
ano. De 2000 para cá, essa capacidade reduziu até chegar a um bilhão de toneladas
de CO2 por ano, uma queda de 50% em pouco mais de 20 anos. O estudo considerou
áreas que não sofreram consequências diretas de atividades humanas.
Diante desse cenário, o pesquisador ressalta que
qualquer método que vise reduzir a emissão de carbono pode ser uma alternativa.
“É preciso combater as emissões de carbono por meios alternativos,
principalmente diminuir o desmatamento e a degradação florestal, mudanças no
uso da terra e redução do uso de combustíveis fósseis”.
Perda de árvores
Uma combinação de fatores pode ter levado ao
aumento da mortalidade de árvores na Amazônia. O excesso de carbono, elemento
essencial para a fotossíntese, gerou um rápido crescimento das plantas e,
consequentemente, uma morte precoce. Além disso, severas mudanças climáticas
como as secas na região em 2005 e 2010 provocaram um déficit de água no solo.
De acordo com a pesquisa, desde a década de 1980 as taxas de mortalidade de
árvores da Amazônia aumentaram em mais de um terço.
“Seja por ‘intoxicação’ por excesso de CO2 na
atmosfera ou por eventos de secas intensas e prolongadas na Amazônia, as
árvores, mesmo aquelas em áreas protegidas, estão morrendo”, alerta Paulo
Moutinho, diretor executivo do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia
(Ipam). Além de menos árvores absorvendo carbono, diz o especialista, o
processo de decomposição do material vegetal gera uma intensa liberação de gás
na atmosfera.
Em 2012, pesquisadores da Agência Espacial
Americana (Nasa) identificaram a diminuição da capacidade da floresta de
absorver carbono, relacionada às intensas secas sofridas no bioma. De acordo
com Moutinho, o mesmo alerta já havia sido dado pelo Ipam em experimentos de
exclusão de chuva realizados na região anos atrás.
Segundo Moutinho, estudo recente do Ipam mostrou
que o desmatamento contribuiu igualmente para o aumento da mortalidade de
árvores, graças ao aumento excessivo na temperatura regional devido à remoção
da vegetação nativa. “Sem a floresta, o calor aumenta e a evapotranspiração das
árvores diminui, reduzindo a quantidade de vapor de água na atmosfera”.
Com a redução de chuva local, maior a mortalidade
árvores e maior a incidência de fogo florestal. “Com mais CO2, mais seca e mais
fogo, a mortalidade poderá aumentar ao longo do tempo e trazer sérios danos na
capacidade da Amazônia funcionar com um “ar condicionado” ou “regador” da
região”.
Para o diretor do Ipam, cortar emissões de outras
fontes é um caminho que deve ser trilhado sempre.
“A agricultura de baixo
carbono certamente tem um papel fundamental nesse processo de mitigação das
emissões”. Moutinho ressalta, contudo, a importância da preservação de grandes
áreas florestadas. “De nada adiantará uma agricultura sustentável se não houver
um clima úmido e chuvoso propiciado pelas florestas nativas da região. Em um futuro
próximo, a floresta será a garantia de um clima adequado à produção agrícola
que, esperamos, seja em grande parte de baixa emissão de carbono”, finaliza.
Fonte: EcoDebate
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