quarta-feira, 15 de abril de 2015

Estudo traz dados inéditos para restauração de florestas.
por Rita Stella, da Agência USP
No nordeste de SP as matas são formadas por Florestas Estacionais Semideciduais. Foto: Cecília Bastos / Jornal da USP.

Em um estudo inédito realizado no nordeste do estado de São Paulo, especificamente nas cidades de Ribeirão Preto, Jaboticabal, Monte Alto e Sertãozinho, durante mais de quatro anos, a bióloga Fabiana Palmeira Fragoso coletou dados sobre a presença de insetos polinizadores, como abelhas, moscas e borboletas, nos ambientes em processo de restauração florestal. Ela lembra que essa é uma região com grande degradação ambiental, o que torna quase impossível a restauração por meio de regeneração natural e, portanto, é imprescindível o plantio de árvores.

Nessa região, as matas são formadas, principalmente, por Florestas Estacionais Semideciduais, um tipo de vegetação pertencente ao bioma da Mata Atlântica e que ocorre em regiões que possuem duas estações climáticas bem definidas, o inverno seco e o verão chuvoso. No Brasil, elas ocupam as regiões de transição entre as zonas úmidas costeiras, onde temos as florestas ombrófilas sempre verdes, e as zonas mais áridas do interior do continente. Segundo a bióloga, no nordeste do estado de São Paulo, a Floresta Estacional Semidecidual foi quase que totalmente substituída pela cana de açúcar e outras culturas, havendo hoje pouca vegetação remanescente.

Os resultados da pesquisa mostraram que, logo nos primeiros anos de plantio para recuperação de áreas degradadas dessas florestas, os insetos polinizadores retornam, e que as grandes responsáveis por esse fenômeno são, na verdade, as plantas que se regeneram espontaneamente. Em sua maioria, essas são as chamadas plantas ruderais, que são plantas que conseguem se desenvolver em ambientes fortemente perturbados pela ação humana.

“No meu estudo, foi interessante notar que, além das espécies arbóreas plantadas, existem muitas outras que chegam espontaneamente na área e que também florescem em grande quantidade. A maior parte dessas espécies são plantas herbáceas e arbustivas como Emilia ou serralhinha (Emilia fosbergii), Melão-de-são-caetano (Mormodica charantia), Serralha (Sonchus oleraceus), Corriola (Ipomea cairica), Gervão (Stachytarpheta cayennensis), Cambará (Lantana câmara), etc. Nos estágios iniciais da restauração poucas espécies das árvores plantadas atingem a maturidade e produzem flores, com isso ofertam poucos recursos aos insetos”, afirma Fabiana.

Manejo de áreas com cultivo específico

O trabalho desenvolvido por Fabiana tem implicações práticas para o manejo de áreas restauradas. Também mostra a importância de alguns destes insetos na manutenção das comunidades em processo de restauração. “Estes dados têm aplicações nos casos onde houver preocupação particular com a recuperação das interações plantapolinizador”.

A pesquisadora cita como exemplo as restaurações que visam melhorar o serviço da polinização para áreas de cultivo próximas. “Podemos usar o conhecimento gerado para manejar tanto plantas quanto polinizadores, de modo a se tentar aumentar a biodiversidade local nas florestas restauradas. Com a introdução de certas espécies de plantas, é possível atrair determinado grupo de polinizadores que sejam também eficientes na polinização de algum cultivo de interesse”, destaca Fabiana.

A bióloga lembra que a presença destes animais em qualquer ambiente é extremamente importante porque eles são responsáveis pela polinização, um processo que permite a reprodução sexual da maioria das plantas. Na ausência de polinizadores, diz, várias espécies vegetais não conseguem produzir frutos ou sementes e, consequentemente, não deixam descendentes. “No caso específico de áreas restauradas, seu restabelecimento é essencial não somente para a perpetuação da floresta implantada, como também pode fazer dela local fonte de espécies fornecedoras de um serviço ecológico de grande valor, já que os animais polinizadores também polinizam diversas frutas e legumes que consumimos como alimento”.

Eles se tornam ainda mais importantes em ambientes como a Mata Atlântica, considerada ambiente altamente diverso, por conterem um número muito maior de espécies do que outros ecossistemas, como, por exemplo, as florestas temperadas do hemisfério norte. Segundo estudos já publicados, a Mata Atlântica abriga mais de 20 mil espécies de plantas, incluindo muitas espécies raras e endêmicas — ou seja, espécies que só ocorrem nesse ambiente. “A grande biodiversidade e as altas taxas de endemismo ocorrem não somente para as plantas, mas também com animais vertebrados e invertebrados”.

No Brasil ainda são poucos os estudos com comunidades de visitantes e polinizadores, em especial em Mata Atlântica. Segundo Fabiana, na sua revisão bibliográfica foram encontradas duas teses, uma delas na Floresta Baixa Montana Semidecídua no sul do estado de São Paulo, e a outra na Floresta Ombrófila Densa, no Paraná. “O foco dos dois estudos foi um pouco diferente do meu, já que compararam áreas restauradas com áreas regeneradas naturalmente. Ambos descobriram que, pelo menos nos estágios iniciais da restauração, o plantio de árvores não leva a diferenças nas comunidades de polinizadores quando comparado à regeneração natural”.

O estudo Restabelecimento das interações entre plantas e visitantes florais em áreas restauradas de Floresta Estacional Semidecidual foi desenvolvido na Faculdade Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, com orientação da professora Elenice Mouro Varanda e a defesa aconteceu no final de 2014. (Agência USP/ #Envolverde).


Fonte: Agência USP

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