Ministro do Desenvolvimento
Agrário promete priorizar manejo florestal para comunidades na região amazônica.
por IEB
Reativação e presença do Estado podem reduzir
desmatamento ilegal e garantir renda para populações extrativistas
Foto: Letícia Freire/IEB.
Com apoio de movimentos sociais como a Federação
Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar (Fetraf), a
Confederação Nacional da Agricultura (Contag) e o Movimento Sem Terra (MST),
organizações que representam comunidades extrativistas da Amazônia e ONGs que
apoiam projetos de desenvolvimento sustentável na região estão pressionando o
governo federal para reativar o Programa de Apoio ao Manejo Comunitário, criado
em 2011, mas deixado de lado logo em seguida.
Uma comissão representando as 47 entidades
empenhadas em obter Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) contínua para
comunidades extrativistas e cooperativas que trabalham com manejo florestal
madeireiro e não-madeireiro esteve nesta quarta-feira (25) com o ministro do
Desenvolvimento Agrário, Patrus Ananias, que se comprometeu a reativar o Grupo
de Trabalho Interministerial criado para colocar o programa federal de manejo
florestal comunitário e familiar em prática.
Presidido alternadamente pelo MDA e pelo Ministério
do Meio Ambiente (MMA) e por representantes da sociedade civil que compõem a
Rede de Apoio ao Manejo Comunitário e Familiar da Amazônia e movimentos
sociais, o GT só se reuniu uma vez, há três anos. O ministro Patrus, que
preside o GT pelos próximos dois anos, deve convocar a próxima reunião para
abril.
“A questão ambiental, social e econômica da
Amazônia me interessa profundamente. No que depender de nós, esse assunto será
prioridade”, garantiu o ministro.
Com 210 cooperados, a Cooperativa Mista da Floresta
Nacional do Tapajós (Coomflona), próxima a Santarém, no Pará, é a única do país
a fazer manejo florestal comunitário em escala – como as grandes madeireiras.
Contando com ajuda de projetos de cooperação internacional, a Coomflona
capacitou técnicos em gestão, em manejo florestal e em administração. Deixou
para trás o tempo em que os agora cooperados trabalhavam para projetos de
manejo de madeireiras e já comercializa a madeira, além de ter aberto uma
fábrica de móveis no ano passado.
Mesmo sendo um projeto modelo, os cooperados não
conseguem crédito bancário para financiar a compra do maquinário, cujo aluguel
consome cerca de 30% dos gastos anuais. Estão juntando todo o lucro para
comprar as máquinas caras e pesadas, capazes de carregar e arrastar as toras
cortadas nas áreas de manejo. “Fechamos 2014 com quase R$ 10 milhões no banco,
mas o Banco do Brasil não tem linha de crédito para a cooperativa e temos
dificuldade até parafinanciar R$ 50 mil”, conta Aloísio Patrocínio, diretor de
Organização Social e Política da Coomflona.
Sem rumo
Para Patrocínio, “o governo está perdido. Não tem
proposta, não tem meta, não tem plano e não tem orçamento para manejo florestal
comunitário”.
O primeiro encontro da Rede, articulado pelo
Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB) em novembro passado,
constatou na Carta de Brasília que as florestas comunitárias são alvo de
pressão, exploração ilegal e fonte para o mercado ilegal de madeira na
Amazônia. A madeira ilegal, que não paga impostos, acaba sendo mais barata que
a produzida pelas comunidades sem prejuízo para a floresta. Além da competição
injusta, a
extração de madeira ilegal fomenta a violência na Floresta Amazônica e
reforça a necessidade de estímulo ao manejo por parte das comunidades que vivem
em Reservas Extrativistas e Assentamentos de Reforma Agrária.
Segundo o relato do diretor financeiro do Conselho
Nacional de Populações Extrativistas (CNS), Manoel Cunha, o Instituto Nacional
de Colonização e Reforma Agrária (Incra), responsável pela assistência técnica
e extensão rural para o manejo florestal comunitário trabalha com um déficit de
R$ 20 milhões. “Boa parte da ATER para extrativismo está na Amazônia e as empresas
que ganharam as licitações para prestar a assistência estão tendo que arcar com
atrasos de três a quatro meses nos repasses: Quem faz assistência técnica
específica para extrativismo está quebrando”, denuncia Cunha.
“Existem linhas de financiamento, como Pronaf
florestal, mas não são acessadas”, reforça Ana Luiza Espada, Coordenadora do
Programa de Manejo Florestal Comunitário do Instituto Floresta Tropical (IFT).
“Os bancos não vão a campo e ainda existe a visão de que manejo é a mesma coisa
que desmatamento, quando na verdade o manejo é o corte não predatório”.
Economia florestal
A economia florestal no Brasil corresponde a 4% do
Produto Interno Bruto (PIB) e a maior parte disto é plantio de eucalipto para
produção de papel. “Um terço da madeira que poderia ser usada em manejo na
Amazônia está em Assentamentos de Reforma Agrária”, ressaltou Rubens Gomes,
presidente do Grupo de Trabalho Amazônico (GTA), para quem a participação da
economia florestal no PIB brasileiro poderia ser bem maior. E lembrou que desde
que a Rede se reuniu com a ministra do Meio Ambiente, há um mês, se espera a
retomada do Grupo de Trabalho. “Temos que agilizar este processo, porque as
comunidades clamam pela presença do Estado”, resume.
Enquanto buscam novas alianças nos movimentos
sociais para ampliar a pressão e planejam para o final de abril um encontro em
Santarém, os representantes da Rede vão buscar também o apoio da ministra
Tereza Campello, do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, para ajudar a dar
visibilidade à agenda mínima acordada no ano passado: a Rede quer uma chamada
pública para uma ATER diferenciada, adequada ao manejo florestal na Amazônia,
além de financiamento específico para manejo comunitário por parte do Fundo
Amazônia, gerido pelo BNDES.
Manuel Amaral, Coordenador do Escritório do IEB em
Belém, acredita que “a repactuação e o resgate da agenda do manejo comunitário
e familiar estão ganhando musculatura junto aos movimentos sociais e setores do
governo. A materialização deste processo remete ao resgate das instâncias de
governança do Programa Federal, prometido pelo governo, e à estruturação da
agenda a ser defendida pela sociedade civil”.
Fonte: ENVOLVERDE
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