quarta-feira, 1 de abril de 2015

O Brasil caminha para trás na rota até Paris.
por Lúcia Chayb e René Capriles, da Eco21
Chuva numa floresta da Indonésia.
Foto: Andrew Suryono – Sony Awards 2015
A edição de março de 2015 da Eco21, uma das principais publicações sobre meio ambiente e sustentabilidade no Brasil, traz excelentes textos. Veja abaixo o editorial.

Editorial

Ao mesmo tempo em que a Suíça assumia a liderança mundial com um programa de redução imediata de suas emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE), o Presidente Obama ordenava que todas as instâncias do Governo dos EUA reduzissem já as suas emissões em 40% e a União Europeia lançava o maior desafio de sua história para desacelerar o crescimento de forma sustentável, o Brasil surpreendia a todos ao bloquear o mais importante estudo nacional já feito sobre a adaptação e o combate às mudanças climáticas: o Relatório “Brasil 2040: Cenários e Alternativas de Adaptação à Mudança do Clima”. Iniciado há dois anos na Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da República, ainda na gestão do economista Marcelo Neri, tinha previsão de ser entregue no próximo mês (Abril). Este Relatório seria a base das propostas que o Brasil encaminharia à ONU como contribuição para a redação de um acordo final sobre o clima durante a COP-21, em Paris. O novo titular da SAE, o Ministro, Mangabeira Unger, demitiu o economista e especialista em assuntos climáticos, Sérgio Margulis, Secretário de Desenvolvimento Sustentável e a administradora de empresas Natalie Unterstell, Diretora de Programas da SAE, ambos encarregados da elaboração desse estudo. O “Brasil 2040”, cujo custo foi de R$ 3,5 milhões, desenvolvia diversos cenários sobre as consequências das mudanças climáticas nas áreas da agricultura, recursos hídricos, transportes, influências nas áreas costeiras, energia, saúde, problemas urbanos, etc. Segundo do Coordenador-Executivo do Observatório do Clima, Carlos Rittl, em depoimento à Patrícia Fachimdo portal IHU afirmou que “o tema de mudanças climáticas, apesar de ser o maior desafio ao desenvolvimento de todas as nações neste século, ainda é tratado pelo Governo Federal como um tema de segunda ou terceira importância. Não se discute qual é a nossa responsabilidade e o que temos de fazer em relação às reduções das emissões e como devemos nos preparar para um clima mais hostil”. A medida tomada por Unger revela que agora a questão climática não é um assunto prioritário para o Governo, sendo que internacionalmente já é tratado como tema fundamental. Enquanto isso, a ofensiva dos últimos dias efetuada por Obama exige que se amplie a geração de energia renovável para 30% do consumo do Governo Federal. Com essa medida os contribuintes economizariam cerca de US$ 18 bilhões em custos de eletricidade, e reduziriam as emissões em 40% durante a próxima década, em comparação aos níveis de 2008. Já o governo suíço afirmou que cortará as emissões nacionais em 50% até 2030. Ao comentar a decisão da SAE, a Vice-Presidenta do IPCC, Suzana Kahn afirmou que “não vejo o Governo dando atenção para as mudanças climáticas, estamos indo na direção errada; enquanto alguns países dão exemplo diminuindo suas emissões de carbono, nós estamos aumentando as nossas”. No âmbito global, a Agência Internacional de Energia divulgou recentemente um relatório no qual demonstra que, pela primeira vez em 40 anos, as emissões globais de CO2 ligadas ao setor de energia pararam de subir. Esta notícia abre uma esperança no sinuoso caminho para a Paris e sua COP-21.

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Fonte: ECO 21

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