Produtores familiares não
precisam da agricultura inteligente.
por
Emilio Godoy, da IPS
O XI Fórum Internacional para Meios sobre a
Proteção da Natureza, que reúne, na cidade italiana de Nápoles, jornalistas,
acadêmicos e especialistas de quase 50 países para debater a situação da
alimentação, da agricultura e do ambiente no mundo, entre 8 e 11 deste mês.
Foto: Emanuele Caposciutti/Greenaccord
Nápoles, Itália, 10/10/2014 – Os pequenos podem
recorrer a opções como a intensificação agroecológica e a inovação, sem
necessariamente lançar mão da agricultura inteligente, promovida pela
Organização das Nações Unidas (ONU), que desperta dúvidas entre especialistas
mundiais reunidos nesta cidade italiana.
Para Allison Power, pesquisadora do Departamento de
Ecologia e Biologia Evolutiva da Universidade de Cornell, nos Estados Unidos,
esse conceito é um guarda-chuva que pode proteger assuntos em demasia. “Há dois
enfoques para aumentar a produção, a intensificação da agricultura convencional
e a agreoecologia. Mas nos últimos 20 anos a produção de alimentos duplicou,
embora problemas como a pobreza não sejam resolvidos apenas com isso”, opinou à
IPS.
“Então, é preciso a adaptação de pequenos
produtores com inovações baseadas na agroecologia”, apontou Power, participante
do XI Fórum Internacional para Meios sobre a Proteção da Natureza, na cidade
italiana de Nápoles, entre os dias 8 e 11 deste mês. Os produtores familiares
fornecem quase 80% dos alimentos no mundo. Embora o planeta produza mais comida
do que em qualquer outro momento da história, a ONU estima que mais de 800
milhões de pessoas passem fome.
No dia 23 de setembro, a ONU lançou em Nova York a
Aliança Global para a Agricultura Climática Inteligente, por ocasião da Cúpula
do Clima. Ela é composta por governos, organizações não governamentais e
grandes corporações. A iniciativa inclui conservação, rotação de cultivos,
agrossilvicultura, melhores previsões do tempo e manejo integrado da
agricultura com a pecuária. Seu objetivo é aumentar de modo ecológico a
produção alimentar, para assim reduzir as emissões contaminantes.
O tema integra a agenda do XI Fórum, cujo lema é
Gente que Constrói o Futuro. Alimentando o Mundo. Alimentação, Agricultura e
Ambiente. Também são abordados assuntos como a luta contra a fome, o papel das
corporações transnacionais e a adaptação da agricultura à mudança climática. Do
encontro organizado por Greenaccord, uma rede italiana de especialistas
dedicada à capacitação em assuntos ambientais, participam cerca de 200 pessoas
entre jornalistas, acadêmicos, ativistas e estudantes, procedentes de 47
países.
Gary Gardner, pesquisador do norte-americano do
Worldwatch Institute, durante o XI Fórum Internacional para Meios sobre a
Proteção da Natureza, em Nápoles, Itália. Foto: Emilio Godoy/IPS
A agricultura inteligente também desperta receio de
acadêmicos e grupos da sociedade civil porque pode dar lugar ao fomento de
cultivos geneticamente modificados, vistos como uma ameaça à produção
sustentável. Para Stefano Padulosi, do Programa de Nutrição e Mercadologia de
Diversidade da não governamental Biodiversidade Internacional, os climas
variantes e a perda de riqueza natural exigem um coquetel de ações.
“É preciso fortalecer a resiliência dos sistemas
alimentares e produtivos e a adaptação à mudança climática. São necessárias
intervenções urgentes nas fazendas locais e no fortalecimento dos bancos de
sementes comunitários”, apontou Padulosi, participante do encontro. “Pode-se
construir capital local, enfrentar problemas e solucioná-los a partir das
comunidades e fortalecer as redes de atores legais”, ressaltou à IPS.
Sua organização executa programas de pesquisa
agrícola e alimentar para preservar o capital natural, melhorar o conteúdo
nutricional de cultivos e a produtividade em nações em desenvolvimento. A
mudança climática pode afetar a agricultura, ao diminuir a disponibilidade de
água, elevar a temperatura do planeta, inundar áreas cultiváveis ou propiciar o
surgimento de pragas, pontuou Padulosi.
Até 2050, a demanda por alimentos aumentará 65%,
enquanto a população mundial chegara a nove bilhões de pessoas. O Grupo
Intergovernamental de Especialistas sobre a Mudança Climática (IPCC) alerta que
o rendimento agrícola poderia baixar entre 0,2% e 2% por década, mesmo com um
aumento da demanda de 14% na década.
Para Gary Gardner, pesquisador do norte-americano
do Worlwatch Institute, as medidas a serem adotadas devem considerar os
camponeses, e não fazer isso “careceria de sentido”. “Maiores esforços serão
necessários para conservar os recursos e torná-los mais eficientes em seu uso.
Mas grandes êxitos em eficiência estão disponíveis para os produtores,
processadores, empresas e consumidores”, disse à IPS. O especialista prepara um
capítulo sobre as ameaças ocultas à sustentabilidade para o informe de 2015 do
Worldwatch Institute sobre o estado mundial.
A Organização das Nações Unidas para a Alimentação
e a Agricultura (FAO) indica que 11% do solo do planeta está altamente
degradado e 25% o está de forma moderada. Essa agência das Nações Unidas
calcula que as emissões globais originadas pela agricultura, a silvicultura e
outros usos do solo ultrapassaram os dez bilhões de toneladas de dióxido de
carbono. No entanto, o depósito desse gás nos sumidouros agrícolas, florestais
e de outras utilizações da terra superou os dois bilhões de toneladas. A FAO
antecipa que as emanações contaminantes poderão aumentar 30% até 2050.
A agricultura fornece serviços ecossistêmicos, como
alimento, fibra, bioenergia e habitat natural, e ao mesmo tempo se beneficia
deles, outra razão para promover as práticas sustentáveis. “Tem o potencial de
aumentar a produção e a sustentabilidade. Pode-se otimizar práticas como
melhoramento genético dos cultivos, manejo integrado de pragas e nutrientes,
desenvolvimento da agricultura de precisão e gestão do solo e da água”,
enfatizou Power.
Por sua vez, Gardner propõe preservar o tamanho e a
qualidade da terra agrícola e mais rapidez na promoção da conservação de
práticas agrícolas, além de desestimular o uso descuidado das terras marginais.
Fonte: ENVOLVERDE
Nenhum comentário:
Postar um comentário