Resultantes sociais da atividade
de turismo, artigo de Roberto Naime.
Impactos ou vetores das resultantes sociais do
turismo tem maior complexidade e não podem ser classificados em positivos ou
negativos. Identificam-se estágios diferenciados de convivência das comunidades
receptoras com as atividades turísticas (RODRIGUES, A. B. Turismo:
Desenvolvimento Local Organizado, HUCITEC, 1997).
A primeira fase pode ser denominado de magia
eufórica. As pessoas estão entusiasmadas e vibram com o desenvolvimento do
turismo ainda que não esteja convenientemente planejado. Recebem os turistas e
registram sentimentos de satisfação. As oportunidades de emprego, geração de
negócios e lucratividade são abundantes e aumentam com o crescimento da
presença dos turistas. Ninguém ainda consegue vislumbrar a necessidade de
prever, ordenar e organizar os fluxos turísticos.
O segundo estágio pode ser classificado como de
apatia, na medida em que a atividade cresce e se consolida. A população
receptora considera a rentabilidade e continuidade como garantidas, e o turista
passa a ser concebido como um meio para obtenção do lucro fácil. Neste estágio
os contatos humanos são mera formalidade e não existe mais euforia ou
satisfação.
Posteriormente começa uma fase de irritação,
quando a atividade turística começa a atingir níveis de saturação, ou quando a
localidade não consegue atender as exigências da demanda, seja por falta de
infraestrutura, seja por falta de planejamento. Os equipamentos existentes não
correspondem mais às necessidades.
O quarto estágio na evolução deste processo
social pode ser caracterizado pela denominação de antagonismo. Os moradores
locais não escondem e já não disfarçam mais sua irritação e responsabilizam os
turistas por todos os seus males. Os problemas da comunidade que tendem a
crescer também são atribuídos às atividades turísticas. Destacam-se em geral,
aumentos de impostos, de criminalidade, de desajustes na juventude, etc. A
polidez e o respeito desaparecem e dão lugar ao antagonismo, com a hostilização
do turista pela população local receptora.
O último momento pode ser interpretado como de
conscientização da realidade. Nesta fase a população se conscientiza de que na
ânsia de obter todas as vantagens da atividade turística a qualquer preço, não
foram planejadas as atividades e todas as mudanças de paradigma tendem a se
tornar rupturas sociais de gravidade variável.
Aqui, um dos principais itens afetados é o meio
ambiente e os ecossistemas, que agredidos, nunca mais voltarão a ser o que eram
antes do advento turístico, pela falta de planejamento, organização ou tarefas
de controle ou compensação.
Por outro lado, a presença de grande número de
turistas, de diversas procedências, estimula hábitos de consumo desconhecidos
ou inacessíveis para a população receptora. Ocorrem drásticas alterações nos
padrões de moralidade em função das mudanças de paradigma, com aumento da
prostituição, criminalidade e do jogo organizado, com todas as consequências.
Além disso muitas vezes o turismo pode atuar como
veículo ou agente de disseminação de doenças que a infraestrutura local não
está preparada para enfrentar. E a importação de recursos humanos, geralmente
deixa para as populações locais receptoras as ocupações de menor qualificação e
renda.
O turismo é a indústria do futuro, pode ser a
redenção econômica de muitas comunidades. Estados do Nordeste, Norte e
Centro-oeste brasileiro tem belezas naturais, potencial e vocação turística.
Mas está claro que planejar, organizar, controlar
e interceder sempre que necessário são necessidades que o setor público não
pode deixar de praticar para que a atividade turística seja fonte de qualidade
ambiental e qualidade de vida para as populações atingidas.
Num país em que o estado tem se notabilizado pela
sua ausência nas suas funções precípuas de planejamento e regulação, um grande
sonho pode se tornar um pesadelo.
Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor
em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em
Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
** Sobre o mesmo tema,
sugerimos que leiam, também, os artigos:
Fonte: EcoDebate
Nenhum comentário:
Postar um comentário