Como boas práticas agropecuárias
podem contribuir na recuperação do Rio Peruaçu.
por
Damaris Adamucci, do WWF Brasil
Reuniao entre representantes do Programa Agua
Brasil, agricultores e demais entidades. Bacia do Rio Peruacu, Januaria, Minas
Gerais, Brasil. Programa Agua Brasil, eixo Agua e Agricultura. Foto:
© WWF-Brasil / Eduardo Aigner.
© WWF-Brasil / Eduardo Aigner.
A situação dos rios brasileiros é cada dia mais
preocupante. Prova disso é a triste notícia de que, pela primeira vez na
história, a nascente do Rio São Francisco está completamente seca. Além do
grande período de estiagem que estamos vivendo, práticas irresponsáveis – como
queimadas e desmatamento – contribuem para que a água dos rios diminua cada vez
mais.
No início de outubro, o Programa Água Brasil
visitou Januária (MG), cidade que abriga o Rio Peruaçu, um dos principais
afluentes do Rio São Francisco e que também encontra-se em uma situação
complicada, com muito menos água do que antigamente no leito do rio que é parte
integrante da identidade da cidade, carinhosamente chamado de Velho Chico.
O agricultor Jorge Martins, da comunidade
quilombola da Onça, não esconde sua preocupação com o rio Peruaçu, que já foi
muito frequentado por ele durante sua infância. “Pode ir lá e ver com seus
próprios olhos, [o rio] está seco. É uma tristeza pra gente, porque quem
conheceu sabe o lugar maravilhoso que era, com água abundante”, lamenta.
Para tentar reverter esse cenário, o programa reuniu,
durante dois dias, agricultores e agricultoras da região para uma oficina de
capacitação de boas práticas agropecuárias. O evento contou com o apoio de
parceiros locais importantes, como: Cáritas Januária e Cáritas Regional MG;
Núcleo de Estudos em Agroecologia (NEA) do IFNMG Campus Januária, ICMBio,
Funatura, Instituto Biotrópicos e Banco do Brasil –MG.
O encontro foi uma ótima oportunidade para que as
associações de camponeses e quilombolas, instituições e estudantes pudessem se
reunir para trocar experiências, aprender e dialogar sobre as boas práticas
agropecuárias e agroecológicas realizadas na região.
No primeiro dia, os participantes visitaram as
Unidades Demonstrativas (UD´s) das comunidades Vereda Grande I, Vereda Grande
II, Areião, Araçá, Várzea Grande, Olhos D’agua e as quilombolas Onça e Pedras.
Em cada uma delas, foi possível conhecer diversas práticas agroecológicas, como
criação de pequenos animais, restauração ecológica, roça sem fogo, quintal
produtivo, canteiro econômico e as tecnologias sociais, como fossas
biodigestoras, unidade de beneficiamento de frutos do cerrado e quintais, casas
de sementes crioulas, além das cisternas domésticas e calçadão.
Para o produtor Manoel Rodrigues da comunidade
quilombola de Pedras, o Água Brasil ajudou a prover alimentação para a
população: “Se dependêssemos da água do rio, não teríamos alimento. Hoje, com a
água das cisternas, conseguimos fazer nossas plantações. Isso mudou muito a
vida de todos os agricultores e agricultoras da região”.
Já Edivaldo Fernandes, outro produtor da região,
acredita que o maior benefício do programa é a conscientização ambiental da
comunidade. “Nossa maior necessidade no momento é preservar o ambiente e as
nascentes dos rios. Hoje, a maioria das pessoas sabe da importância de
preservar a água. O maior exemplo disso é usar o fogo apenas para cozinhar,
chega de queimadas por aqui”, explica.
No segundo dia, o Instituto Federal do Norte de
Minas Gerais (IFNMG) abriu as portas para a oficina de validação das boas
práticas visitadas no dia anterior. Os participantes puderam colocar na ponta
do lápis as experiências que presenciaram durante as visitas de campo, e
discutir as vantagens, desvantagens e desafios de cada uma das práticas e
tecnologias sociais.
Ao final do dia, todos se reuniram em frente ao rio
São Francisco para a avaliação do encontro, compartilhando o que aprenderam
durante a oficina e o que levam para seu dia a dia.
O estudante Jarbas Mendes Andrade, agradeceu a
oportunidade de participar do encontro. “Não existe aprendizado melhor do que a
prática. Tudo o que vimos aqui nesses dois dias, não aprendemos em nenhuma
escola ou universidade. Foi um privilégio estar aqui e compartilhar essa
experiência com vocês”, disse.
Por fim, o analista de conservação do Programa Água Brasil, pelo WWF-Brasil, Vinicius Pereira, concluiu agradecendo a dedicação, o amor e a gratidão de cada família agricultora durante a apresentação das Unidades Demonstrativas. “Mesmo com tantas ameaças, que vão desde a seca dos rios aos incêndios florestais, as pessoas da região continuam firmes na luta por um outro mundo possível e isso recarrega nossas baterias e aumenta nosso desejo de contribuir nesta transformação socioambiental da região”.
Fonte: WWF Brasil
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