As mãos solidárias podem piorar
desastres ambientais.
por Jewel
Fraser, da IPS
Vista aérea de um acampamento provisório em Porto
Príncipe. Além do cólera levado pelos nepaleses da força de paz após o
terremoto de 2010, os problemas ambientais surgiram pela distribuição de
barracas de campanha de lona, que tiveram que ser substituídas em poucos meses.
Foto: Marco Dormino/UN Photo.
Porto Espanha, Trinidad e Tobago, 30/10/2014 – A
primeira resposta humanitária quando ocorre um desastre natural pode acabar
exacerbando, involuntariamente, alguns problemas e agravando as consequências
de futuros eventos climáticos, alerta a Sociedade da Cruz Vermelha de Trinidad
e Tobago. Durante as fortes chuvas de 2012, quando as perdas chegaram a quase
US$ 20 milhões em Diego Martin, oeste da ilha caribenha de Trinidad, o pessoal
de socorro se mobilizou rapidamente para ajudar as vítimas que perderam suas
casas.
No entanto, duas semanas depois a área voltou a
inundar, só que desta vez devido a uma tempestade tropical. O informe da
Sociedade da Cruz Vermelha fala da possibilidade de a segunda inundação ter
sido causada, em parte, pelos “recipientes não biodegradáveis descartáveis,
como garrafas, embalagens de alimentos e utensílios plásticos, distribuídos
depois da primeira”.
“Além das intensas chuvas, um dos principais
fatores contribuintes das inundações em Diego Martin foi que os cursos de água
estavam barrados. A coleta de resíduos ficou restringida depois do desastre. O
uso de materiais biodegradáveis que não prejudicam o ambiente poderia ter
evitado a segunda inundação”, acrescenta o relatório.
A apresentação do informe Resposta Verde: Um
Estudo de País esteve a cargo do Escritório de Gestão e Preparação de
Desastres de Trinidad e Tobago e foi realizado em uma reunião da Associação de
Estados do Caribe (ACS). O documento foi preparado após um estudo de
viabilidade “sobre como reduzir de maneira sustentável o impacto ambiental dos
produtos e da tecnologia usada na resposta a desastres”.
Trinidad e Tobago decidiu investigar a respeito
após uma reunião da ACS em 2011, na qual surgiu a necessidade de a resposta aos
desastres naturais ser mais respeitosa com o ambiente. Conseguir que a resposta
aos desastres naturais seja mais ecológica é um tema de preocupação
internacional. A Ferramenta Verde para a Reconstrução e Recuperação diz: “A
redução do risco de desastres (RRD) busca reduzir o dano. As atividades para
reduzi-lo representam um risco em si mesmas se não se considerar a
sustentabilidade ambiental”.
O informe da Federação Internacional das Sociedades
da Cruz Vermelha e da Meia-Lua Vermelha (IFRC) indica que as organizações
dedicadas a esse tipo de tarefa devem incluir “os riscos da mudança climática e
os futuros e atuais desastres, bem como várias medidas para contê-los nos
programas de recuperação”.
A necessidade de considerar o tema foi
especialmente evidente no Haiti, após o terremoto de 2010 que deixou mais de
200 mil mortos. Além do cólera, levado pelos nepaleses da força de manutenção
de paz enviada para ajudar na recuperação, surgiu o problema ambiental criado
pela distribuição de dezenas de milhares de barracas de lona, não
biodegradáveis, que tiveram que ser substituídas em poucos meses.
O informe sobre as práticas da IFRC no Haiti aponta
que serão necessárias 50 mil árvores para compensar a emissão de dióxido de
carbono das barracas descartadas, se forem jogadas em lixões. “A questão
fundamental é encontrar a forma de garantir que o que fizermos tenha o menor
impacto possível no ambiente”, disse o diretor de RRD e Transporte da ACS,
George Nicholson.
O governo de Porto Espanha se comprometeu a
incorporar elementos ambientais e vinculados à mudança climática em todos os
seus programas de resposta. Quando surgiu na ACS o tema de uma resposta verde à
gestão de desastres, esse país ofereceu a realização de um estudo de
viabilidade para o que se chamou Resposta Verde. A ACS trabalhou com o
Escritório de Gestão e Preparação de Desastres do país, responsável pela
iniciativa, a IFRC e a Sociedade da Cruz Vermelha de Trinidad e Tobago, para
fazer o estudo.
Stephen Kishore, da Sociedade da Cruz Vermelha,
disse que os esforços verdes para a atenção de desastres incluiriam atividades
como produção local de suprimentos para reduzir a pegada de carbono que implica
trazê-los da China, de onde procede a maioria dos produtos. Também implicaria
procedimentos simples, como usar papel ou roupa, em lugar de plásticos, para
envolver os suprimentos, ou embalar vários produtos, como sabão, em um mesmo
pacote, e não de forma individual.
Os esforços de socorro também fomentariam a
reciclagem e o uso de energia solar, em lugar de combustíveis fósseis. Para que
os esforços de socorro sejam mais verdes, deve-se ter em conta o contexto
legislativo que rege as organizações humanitárias. Segundo Nicholson, o estudo
de viabilidade analisa o “processo legislativo de Trinidad e Tobago e seus
sistemas operacionais para ver onde obter benefícios para conseguir um enfoque
mais verde”.
Porém, não será fácil ter normas que permitam a
sustentabilidade das respostas humanitárias aos desastres, destacou Kishore.
Outra complicação, segundo Nicholson, é que os membros da ACS operam sob vários
contextos legislativos, pois na região há países onde se fala alemão, francês,
espanhol e inglês e têm tradições legais diferentes. “Não se pode fixar as
melhores práticas. Os países deverão olhar o estudo e decidir a melhor maneira
de adaptar as propostas ao seu próprio contexto”, explicou.
Terminada a etapa do estudo de viabilidade, o
próximo passo da Resposta Verde será identificar e criar processos de resposta
verde e produtos na região, o que será um incentivo para que a indústria local
comece a produzir elementos recicláveis para usar durante um desastre natural.
Fonte: ENVOLVERDE
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