Projeto propõe mapa para identificar injustiças ambientais.
Os mapas estão, hoje, ao alcance de quase todos:
basta um celular conectado à internet para que a pessoa consiga saber onde está
ou descobrir imediatamente a distância entre dois pontos geográficos do
planeta. Se a tecnologia disponível pode ajudar nas pequenas tarefas do dia a
dia, como achar um restaurante ou posto de gasolina, a potência do encontro
entre a cartografia e o mundo digital aumenta quando falamos de seu uso no
combate às injustiças. Localizar e indicar os conflitos ambientais que se
espalham por todo o Brasil, e tornar públicas vozes que lutam contra isso, tem
sido a tarefa do projeto Mapa
de conflitos envolvendo injustiça ambiental e Saúde no Brasil,
coordenado pelo pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz)
Marcelo Firpo.
A partir de dados que vêm sendo coletados desde
2006, com ajuda da Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional
(Fase), o mapa apresenta hoje 450 pontos. Um dos possíveis mecanismos de busca
é por unidades da federação. Ao escolher uma delas, um mapa com os conflitos
registrados, demarcados por balões vermelhos, se abre para o leitor. Ao clicar
sobre um deles, o visitante tem acesso a informações detalhadas sobre o que
está acontecendo naquele local: população atingida pelo conflito, impactos e
riscos ambientais, danos à saúde. “O mapa é uma tentativa de sistematizar os
conflitos emblemáticos que existem em nosso país”, disse Firpo.
A natureza dos conflitos é a mais diversa: é
possível encontrar informações de lutas contra o agrotóxico, violência,
poluição e mobilidade urbana, relatos sobre danos causados por usinas de
energia ou pela mineração, entre muitos outros. O que há em comum entre todos
esses conflitos é sua origem num modelo de desenvolvimento baseado na
mercantilização da natureza e da vida. Mesmo onde se observa aquilo que
pensador uruguaio Eduardo Gudynas classificou como neoextrativismo, ou seja, o
uso de recursos da exploração mercantil da natureza para diminuir mazelas
sociais, o que se produz no final das contas é uma sistemática geração de
conflitos ambientais que têm por consequência principal o extermínio da vida
humana. Ao dar visibilidade a esses conflitos, o que se busca, de acordo com
Marcelo Firpo, é articular, questionar e propor alternativas a esse modelo de
desenvolvimento.
Entre tantos casos descritos, chama atenção, por
exemplo, os relatos sobre atropelamentos de crianças e animais nas ferrovias
por onde passam trens carregados com os minérios extraídos pela Vale do Rio Doce,
no Pará. Mesmo com os acidentes e outros danos causados pela mineração, a
companhia tem o projeto de duplicar a ferrovia de Porto Carajás. O território
para onde olham os técnicos da Vale e os pesquisadores do Mapa de Conflitos
Ambientais pode ser o mesmo, mas o que cada um vê nele, certamente não é. E
Marcelo sabe que, infelizmente, o número de dados relatados tende a aumentar.
“Esperávamos que o conflito sobre a água iria demorar uns 50 anos para chegar
ao Brasil. Mas já chegou. Tem caminhão pipa em Itu sendo obrigado a andar com
escolta armada”, lembrou o pesquisador.
O trabalho foi apresentado na mesa redonda
Desenvolvimento e Conflitos Territoriais: experiências dos mapas e diálogos de
saberes para a justiça ambiental, realizada em 20/10 durante o 2º Simpósio
Brasileiro de Saúde e Ambiente.
Fonte: EcoDebate
Nenhum comentário:
Postar um comentário