Por que não facilitar também a
vida do pedestre?
por Paula
Furlan, do Consumidor Consciente
Foto: Marcos Santos/USP Imagens/
Fotos Públicas
As ciclovias estão ganhando força pelas capitais
brasileiras e a mobilidade tem ganhado as pautas de governos e das discussões
mais legítimas da sociedade. Mas ainda faltam incentivos para a forma mais
básica (e limpa) de locomoção: o pedestrianismo.
A vida para quem decide se locomover a pé ainda é
bem complicada nas grandes cidades. O morador de São Paulo Lincoln Paiva, anda
de 10 a 15 quilômetros diariamente e é presidente do Instituto Mobilidade
Verde.
Para ele um dos benefícios é poder “experimentar” a
cidade de outra maneira, podendo percorrer as ruas que quiser e reconhecendo as
particularidades de cada região. “Vivo numa cidade diferente das outras pessoas
porque não fico parado em congestionamentos, escolho meus caminhos e evito
andar por ruas poluídas e cheias de carro. Tenho mais liberdade para fazer as
coisas porque sei que não vou depender de estacionamento e sempre posso ir a pé
ou pegar um táxi se precisar”.
Mas a cidade ainda é muito hostil para os
pedestres. Em São Paulo, por exemplo, o principal problema é com a travessia
dos pedestres em pontes. Em alguns casos, o abandono é antigo. Para dar um
basta nisso, ativistas da ONG Ciclocidade lançaram a campanha ‘adote uma
ponte’. A ideia é receber no site da internet fotos, vídeos e relatos sobre a
situação das pontes e viadutos da cidade, juntar o material e cobrar mudanças.
“Não importa o culpado. A gente quer simplesmente
que tenha uma estrutura melhor para as pessoas na cidade. Então a gente precisa
de fato cada vez mais cobrar isso e aí que se denomine quem é o responsável que
vai fazer isso”, diz João Paulo Amaral, ativista da ONG Ciclocidade /Bike Anjo.
As passarelas são outro fator problemático nas
grandes cidades. O perigo de não atravessá-las se sobrepõe ao risco de passar
por elas e ficar à mercê de todo o tipo de violência urbana.
Para Lincoln, as dificuldades do pedestre mudam de
acordo com a região da cidade. “Se você perguntar para o trabalhador que vem do
M’Boi Mirim, Jardim Ângela, Cidade Tiradentes a pé, com certeza o maior
problema é a distância , a maioria dos deslocamentos a pé na cidade são de
distâncias longas de pessoas que sequer têm recursos para pagar a tarifa de
ônibus”, explica.
“Para quem mora no centro expandido o maior
problema é o caminho, a cidade de São Paulo é carente de bons caminhos e áreas
públicas de descanso, mas é rica em poluição atmosférica e tráfego de
automóveis. Ninguém quer andar a pé em ruas cheias de carros, barulhentas, sem
proteção do sol, poluídas e com péssimas calçadas. Note que coloquei por último
a condição das calçadas, porque só a sua melhoria não traz os pedestres para
rua, mas daria mais segurança para idosos e deficientes físicos. A implantação
de ciclovias por incrível que pareça traz o pedestre de volta para as ruas,
porque ajudam a diminuir a velocidade dos carros, melhora as condições da
poluição e o ruído das ruas, principais motivos para que as pessoas possam
caminhar com mais segurança e conforto”.
Mas ele reitera que ainda é preciso criar mais
áreas de convivência e de descanso, aumentar a arborização e redefinir o papel
da arquitetura da cidade. “Os prédios são projetados para refletirem os raios
do sol para o centro da rua, essa irradiação solar aumenta o calor local
criando um microclima que piora o conforto térmico. Veja bem, criar condições
para as pessoas andarem mais nas ruas não é só infraestrutura, passarelas,
pontes etc, mas coisas mais simples como alterar o padrão dos tempos
semafóricos que ainda visam a circulação do carro e penaliza o pedestre, além
da educação do motorista , a maioria dos acidentes com atropelamentos acontecem
na faixa de segurança porque o motorista não respeita.
Afinal, porque é benéfico andar mais? “Porque é só
andando nas ruas que é possível exercer a nossa cidadania na sua plenitude, é
na rua que podemos ter maior conexão com a cidade e com a nossa comunidade.
Andar mais é bom para saúde, melhora a vitalidade econômica do bairro, diminui o
stress e traz mais segurança para o bairro”, finaliza.
Acompanhe a discussão sobre #MobilidadeUrbana
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Fonte: Mercado Ético
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