Cidade chinesa de Guiyu recicla
lixo eletrônico do mundo todo, com um custo socioambiental extremamente alto.
Pilha de lixo eletrônico em Guiyu. Foto:
Greenpeace/Wikimedia
A cidade chinesa de Guiyu, que recebe lixo
eletrônico de todo o mundo para reciclá-lo, emprega dezenas de milhares de
pessoas, com um custo ambiental extremamente alto. Matéria da AFP, no UOL Notícias.
A contaminação por metais pesados tornou tóxicos o
ar e a água e as crianças têm altos níveis de chumbo no sangue, segundo estudo
feito por cientistas da Universidade Médica de Shantou.
“Antes, mandavam para nós o lixo de outras partes
do mundo para a China. Esta era a principal fonte (de resíduos) e o principal
problema”, disse Ma Jun, diretor de uma das principais ONGs ambientalistas, o
Instituto de Assuntos Públicos e Ambientais.
“Mas agora, a China se tornou uma potência
consumidora por si só”, acrescentou.
“Penso que temos 1,1 bilhão de celulares usados e a
vida destes aparelhos é cada vez mais curta”, afirmou. “Isto vai trazer um
grande problema”, acrescentou.
Segundo cifras da ONU, a China gera seis milhões de
toneladas de rejeitos eletrônicos por ano; os Estados Unidos, 7,2 milhões, e o
mundo inteiro, 48,8 milhões.
Em Guiyu, a capital da reciclagem tecnológica da
China, esta indústria emprega pelo menos 80.000 moradores desta cidade de
130.000 habitantes.
Em um depósito mal iluminado, montes de controles
remoto cobrem o chão. Mulheres sentadas em tamboretes de plástico abrem os
aparelhos eletrônicos como se fossem ostras, procurando placas de circuitos.
Em uma ruela, a centenas de metros dali, pai e
filho, originários de uma província distante, lavam os microchips em
recipientes de plástico, enquanto homens descarregam com uma pá telefones
velhos e teclados de computador de um caminhão.
A cada ano, a cidade processa mais de 1,6 milhão de
toneladas de lixo tecnológico, gerando ganhos no valor de 600 milhões de
dólares ao ano, o que atrai migrantes de várias partes da China.
Mas esta atividade é muito irregular e tem um alto
custo ambiental. Os resíduos resultantes são lançados em um rio próximo e o ar
fica saturado de fumaça da combustão de plásticos, circuitos e produtos
químicos.
“As pessoas consideram que não se deve permitir que
isto continue”, avaliou Leo Chen, funcionário do setor de finanças de 28 anos,
que cresceu em Guiyu.
“Lembro que na frente da minha casa tinha um rio.
Era verde e a água era clara e bonita”, relatou. “Agora, é preta”, lamentou.
Lai Yun, um pesquisador do grupo ambientalista
Greenpeace, que visitou Guiyu em várias oportunidades, diz que o governo chinês
reforçou a legislação para proteger o meio ambiente, mas as normas vigentes não
são aplicadas com rigor.
Para o governo de Pequim, em hipótese alguma se
pode atravancar o desenvolvimento.
“Do ponto de vista do governo, coletar os resíduos
eletrônicos e processá-los é importante para a economia local”, declarou Lai.
“Segundo estudos, 80% dos lares participam da
atividade. Por fim, se esta indústria não se desenvolver, estes habitantes
precisarão de outro tipo de trabalho”, acrescentou.
Fonte: EcoDebate
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