“Sonâmbulos” decidem a sorte de
conferência climática em Bonn.
por
Stephen Leahy, da IPS
As consequências da mudança climática, como os
fenômenos meteorológicos extremos, continuarão se agravando se não houver
enérgicas ações de mitigação. Foto: Jorge Luis Baños/IPS.
Bonn, Alemanha, 24/10/2014 – As 410 mil pessoas que
saíram às ruas para reclamar medidas durante a Cúpula do Clima da ONU se
indignariam diante dos atrasos e das posturas políticas de sempre que se
observa em uma rodada fundamental das negociações para acordar um tratado
climático mundial, em curso nesta cidade alemã.
As declarações dos países presentes na conferência,
que começou no dia 20 e terminará no dia 25, no Centro Mundial de Congressos de
Bonn, ignoraram os pedidos dos organizadores para serem breves em suas
declarações de abertura para ser possível trabalhar na última semana de
conversações antes da vigésima Conferência das Partes (COP 20) da Convenção
Marco das Nações Unidas sobre a Mudança Climática que acontecerá em Lima, no
Peru, entre 1º e 12 de dezembro.
A COP 20 acordará um projeto de tratado climático
destinado a evitar o catastrófico superaquecimento do planeta. Um ano mais
tarde, os governantes de quase 200 Estados deverão assinar em Paris um novo
convênio sobre o clima. Se o resultado das negociações não for contundente e
não se conseguir garantir o rápido abandono do uso de combustíveis fósseis,
centenas de milhões de pessoas sofrerão e países inteiros entrarão em colapso.
O projeto atual do tratado é muito fraco e os
delegados pecam pelo “sonambulismo” em Bonn, enquanto “os dados científicos
sobre o clima se agravam”, afirmou aos negociadores presentes, Hilary Chiew, da
Rede do Terceiro Mundo.
Os delegados estão habituados a ouvir uma ou duas
“intervenções” oficiais por parte da audiência, que tem um limite de tempo
restrito e frequentemente não superam os 90 segundos. Esses discursos, apesar
da paixão e eloquência de muitos, raramente comovem os delegados que, em sua
maioria, se limita a seguir as instruções dadas por seus governos. “Apegar-se
às posturas não é negociar”, recordou o copresidente da conferência, Kishan
Kumarsingh, de Trinidad e Tobago.
Em Bonn há poucos membros da sociedade civil que
podem presenciar quantos países se apegaram às suas posições de curto prazo e
defensoras de seus próprios interesses, em lugar de enfrentar o maior desafio
que sofre a humanidade. Depois de 20 anos, essas negociações se transformaram
“no mesmo de sempre” e parece que continuarão assim por mais 20 anos, segundo
os ativistas. “Só um movimento social mundial obrigará as nações a agirem”, afirmou
Hans Joachim Schellnhuber, diretor do Instituto de Potsdam para a Pesquisa do
Impacto Climático, da Alemanha.
Schellnhuber, reconhecido especialista e
ex-assessor científico do governo alemão, não se encontra em Bonn, mas
participou da Cúpula do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU) em
setembro, em Nova York, Estados Unidos, junto com os governantes de 120 países.
Novamente, o resultado desse encontro ficou em puros discursos sem compromissos
de ação, afirmou à IPS.
Para Schellnhuber, a Cúpula da ONU foi um fracasso,
ao contrário da “impressionante” e “inspiradora” Marcha do Povo pelo Clima que
a acompanhou e da qual participaram cerca de 410 mil pessoas nas ruas de
Manhattan. A única coisa que os países acordaram até agora é a meta de elevação
máxima de dois graus na temperatura média mundial e, embora esse aumento “não
tenha antecedentes na história humana”, é muito melhor do que três ou mais
graus, acrescentou.
Alcançar essa meta ainda é possível, segundo o
informe Enfrentar o Desafio da Mudança Climática, redigido pelos
principais especialistas em clima e energia e que descreve várias medidas,
entre elas o aumento da eficiência energética em todos os setores. A refração
dos prédios, por exemplo, pode reduzir o consumo de energia entre 70% e 90%.
Também é necessário um preço do carbono que reflita o enorme custo sanitário e
ambiental que implica a queima dos combustíveis fósseis, bem como a expansão da
energia solar e eólica e o fechamento de todas as centrais movidas a carvão,
diz o estudo.
O mais importante é que os governos devem assumir o
clima como uma prioridade. Alemanha e Dinamarca estão bem encaminhadas para uma
economia baixa em carbono e se beneficiam de menor contaminação e da criação de
um novo setor econômico, segundo os especialistas.
Para que todos os governos incorporem o clima como
sua prioridade será preciso um movimento social mundial com dezenas de milhões
de pessoas. Uma vez que o setor empresarial se dê conta de que a transição para
um mundo baixo em carbono está em marcha, pressionará os governos para que
apliquem as políticas necessárias. “As soluções para a mudança climática são a
maior oportunidade de negócios na história”, enfatizou Schellnhuber.
Fonte: ENVOLVERDE
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