segunda-feira, 27 de outubro de 2014

“Sonâmbulos” decidem a sorte de conferência climática em Bonn.
por Stephen Leahy, da IPS
As consequências da mudança climática, como os fenômenos meteorológicos extremos, continuarão se agravando se não houver enérgicas ações de mitigação. Foto: Jorge Luis Baños/IPS.

Bonn, Alemanha, 24/10/2014 – As 410 mil pessoas que saíram às ruas para reclamar medidas durante a Cúpula do Clima da ONU se indignariam diante dos atrasos e das posturas políticas de sempre que se observa em uma rodada fundamental das negociações para acordar um tratado climático mundial, em curso nesta cidade alemã.

As declarações dos países presentes na conferência, que começou no dia 20 e terminará no dia 25, no Centro Mundial de Congressos de Bonn, ignoraram os pedidos dos organizadores para serem breves em suas declarações de abertura para ser possível trabalhar na última semana de conversações antes da vigésima Conferência das Partes (COP 20) da Convenção Marco das Nações Unidas sobre a Mudança Climática que acontecerá em Lima, no Peru, entre 1º e 12 de dezembro.

A COP 20 acordará um projeto de tratado climático destinado a evitar o catastrófico superaquecimento do planeta. Um ano mais tarde, os governantes de quase 200 Estados deverão assinar em Paris um novo convênio sobre o clima. Se o resultado das negociações não for contundente e não se conseguir garantir o rápido abandono do uso de combustíveis fósseis, centenas de milhões de pessoas sofrerão e países inteiros entrarão em colapso.

O projeto atual do tratado é muito fraco e os delegados pecam pelo “sonambulismo” em Bonn, enquanto “os dados científicos sobre o clima se agravam”, afirmou aos negociadores presentes, Hilary Chiew, da Rede do Terceiro Mundo.

Os delegados estão habituados a ouvir uma ou duas “intervenções” oficiais por parte da audiência, que tem um limite de tempo restrito e frequentemente não superam os 90 segundos. Esses discursos, apesar da paixão e eloquência de muitos, raramente comovem os delegados que, em sua maioria, se limita a seguir as instruções dadas por seus governos. “Apegar-se às posturas não é negociar”, recordou o copresidente da conferência, Kishan Kumarsingh, de Trinidad e Tobago.

Em Bonn há poucos membros da sociedade civil que podem presenciar quantos países se apegaram às suas posições de curto prazo e defensoras de seus próprios interesses, em lugar de enfrentar o maior desafio que sofre a humanidade. Depois de 20 anos, essas negociações se transformaram “no mesmo de sempre” e parece que continuarão assim por mais 20 anos, segundo os ativistas. “Só um movimento social mundial obrigará as nações a agirem”, afirmou Hans Joachim Schellnhuber, diretor do Instituto de Potsdam para a Pesquisa do Impacto Climático, da Alemanha.

Schellnhuber, reconhecido especialista e ex-assessor científico do governo alemão, não se encontra em Bonn, mas participou da Cúpula do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU) em setembro, em Nova York, Estados Unidos, junto com os governantes de 120 países. Novamente, o resultado desse encontro ficou em puros discursos sem compromissos de ação, afirmou à IPS.

Para Schellnhuber, a Cúpula da ONU foi um fracasso, ao contrário da “impressionante” e “inspiradora” Marcha do Povo pelo Clima que a acompanhou e da qual participaram cerca de 410 mil pessoas nas ruas de Manhattan. A única coisa que os países acordaram até agora é a meta de elevação máxima de dois graus na temperatura média mundial e, embora esse aumento “não tenha antecedentes na história humana”, é muito melhor do que três ou mais graus, acrescentou.

Alcançar essa meta ainda é possível, segundo o informe Enfrentar o Desafio da Mudança Climática, redigido pelos principais especialistas em clima e energia e que descreve várias medidas, entre elas o aumento da eficiência energética em todos os setores. A refração dos prédios, por exemplo, pode reduzir o consumo de energia entre 70% e 90%. Também é necessário um preço do carbono que reflita o enorme custo sanitário e ambiental que implica a queima dos combustíveis fósseis, bem como a expansão da energia solar e eólica e o fechamento de todas as centrais movidas a carvão, diz o estudo.

O mais importante é que os governos devem assumir o clima como uma prioridade. Alemanha e Dinamarca estão bem encaminhadas para uma economia baixa em carbono e se beneficiam de menor contaminação e da criação de um novo setor econômico, segundo os especialistas.

Para que todos os governos incorporem o clima como sua prioridade será preciso um movimento social mundial com dezenas de milhões de pessoas. Uma vez que o setor empresarial se dê conta de que a transição para um mundo baixo em carbono está em marcha, pressionará os governos para que apliquem as políticas necessárias. “As soluções para a mudança climática são a maior oportunidade de negócios na história”, enfatizou Schellnhuber.


Fonte: ENVOLVERDE

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