62% do esgoto do País ainda tem
como destino a natureza.
por Caio
Luiz, para a Carta Capital
Édison Carlos, Pedro Jacobi, Ricardo Rolim e Dal
Marcondes. Foto: Verônica Manevy.
Cerca de 100 milhões de brasileiros ainda não têm
tratamento de esgoto devido, o que, para especialistas, mostra que as políticas
de saneamento pararam no século de 19.
As cem maiores cidades do Brasil despejam cerca de
3 mil piscinas olímpicas de esgoto por dia e, segundo o presidente executivo do
Instituto Trata Brasil, Édison Carlos, 70% delas não tem 50% do sistema de
saneamento instalado e em operação.
As informações foram divulgadas na palestra O
Brasil das Águas – Saneamento, Mananciais e Oceanos durante a última edição do
evento Diálogos Capitais – Inovação e Sustentabilidade, promovido por
CartaCapital nesta terça, 21.
“O saneamento no Brasil parou no século 19”, disse
o presidente após citar que 100 milhões de brasileiro ainda não têm esgoto
tratado. “Os últimos indicadores, datados de 2012, apontam que 62% do esgoto
ainda não encontra rede adequada para ser encaminhado a estações de
tratamento.”
A perspectiva, de acordo com o Plano Nacional de
Saneamento Básico do Governo Federal, é tornar a rede de esgoto universal em
2033. Carlos mencionou que, historicamente, o Brasil utiliza rios e oceanos
como diluidores de esgoto e lamentou o estado praticamente inativo dos comitês
de bacias hidrográficas.
O presidente criticou o atraso em São Paulo, que
tem metade do estado com rede de esgoto apropriada. A Amazônia não chega a 10%.
Rondônia e Pará têm menos de 3%.
Na crista dos dados da Trata Brasil, o professor do
programa de pós-graduação em Ciência Ambiental da USP Pedro Jacobi avaliou a
gestão de recursos hídricos no Brasil como o resultado de um histórico de
degradação ambiental. “Estamos mais focados em trazer água às casas do que em
tratá-la como consequência”, argumentou.
Jacobi cobrou transparência dos governos e afirmou
que há mal uso do dinheiro público em investimentos para o saneamento. “Os
calendários e descontinuidades políticas acabam prejudicando a administração
dos recursos hídricos.”
O estudioso afirma que não houve pressão popular
suficiente para levar encanamento e tratamento às periferias, uma vez que os
loteadores de bairros afastados se preocuparam em vender terrenos, não em
trazer serviços. “Nosso histórico político de tutela patrimonialista nos faz
ficar solidários e participativos apenas em momentos durante e pós-crise.”
Ricardo Rolim, diretor de relações institucionais,
sustentabilidade e comunicação da Ambev, compareceu ao debate e lembrou que a
indústria costuma figurar como vilã quando o tema é esgoto e tratamento de
água. Defendeu, porém, que as empresas precisam criar um “círculo virtuoso” em
toda a cadeia de produção. “De 2002 para cá, reduzimos em 38% o consumo de água
da Ambev”, informou.
Fonte: Carta Capital
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