Em defesa de seus direitos,
lideranças Guarani-Kaiowá visitam STF.
por
Redação do ISA*
Líderes Guarani-Kaiowá de Mato Grosso do Sul estão
em Brasília para protocolar documentos e sensibilizar os ministros do STF sobre
a situação precária que estão vivendo.
“Ou o governo e a Justiça demarcam nossas terras ou
que nos enterrem de vez nelas”, declara Ava Jeguaka Rendy’ju, que convoca,
junto com mais de 40 lideranças Guarani-Kaiowá de Mato Grosso do Sul, uma
coletiva de imprensa, nesta quarta-feira (15), às 15h30, em frente ao Supremo
Tribunal Federal (STF). O objetivo é alertar sobre decisões recentes do Supremo
que flexibilizam os direitos constitucionais da população indígena.
Antes da coletiva, às 14h, as lideranças
protocolarão no STF um memorial sobre o contexto histórico e a situação de
extrema vulnerabilidade a que estão submetidos os Guarani-Kaiowá no Mato Grosso
do Sul (MS). Ontem (14), eles entregaram duas cartas – uma da Aty Guasu (Grande
Assembleia Guarani-Kaiowá) e outra da comunidade Kurusu Ambá – nos gabinetes
dos ministros da corte a fim de reivindicar a garantia do direito às suas
terras tradicionais.
Uma das decisões recentes do STF anulou a Portaria
Declaratória n° 3.219 do Ministério da Justiça que, em 2009, reconheceu a Terra
Indígena (TI) Guyraroká, no sul do Mato Grosso do Sul, como de ocupação
tradicional indígena. A homologação pela presidente da República, Dilma
Rousseff, é o único procedimento administrativo que falta para finalizar o a
demarcação da área.
Baseado numa interpretação equivocada do “marco
temporal” – que condicionou o reconhecimento da Terra Indígena Raposa-Serra do
Sol (RR) à sua ocupação pelos indígenas em 1988 – o ministro Gilmar Mendes,
seguido pelos ministros Carmen Lúcia e Celso de Mello, acatou o pedido de um
fazendeiro e anulou o procedimento demarcatório da TI.
“A coisa está tão absurda que hoje querem nos penalizar por termos sido expulsos de nossos territórios. Querem que assumamos a culpa pelo crime deles. Durante décadas, nos expulsaram de nossa terra à força e agora querem dizer que não estávamos lá em 1988 e por isso não podemos acessar nossos territórios?”, ressalta a liderança Ava Kaaguy Rete.
Vítimas dos projetos de colonização, os indígenas
de Mato Grosso do Sul foram expulsos de suas terras tradicionais e confinados
em oito pequenas reservas até meados do século XX. Dessa perda territorial
resulta toda a problemática social vivenciada por essas comunidades, como a altíssima
taxa de suicídios (73 casos, em 2013, de acordo com dados da Secretaria
Especial de Saúde Indígena-Sesai) e homicídios (62% dos casos de assassinatos
de indígenas no Brasil ocorreram no estado).
“Os ministros devem fazer cumprir a Constituição, garantindo nossos direitos”, afirma a liderança Ava Rendy Poty’Ju. “Os ministros eram nossa última esperança, mas estando deste jeito só nos sobra a retomada de nossos territórios, só resta a nossa luta”, lamenta.
Situação em MS
A situação de violência é tão drástica no Mato
Grosso do Sul que, enquanto viajavam para Brasília, as lideranças foram
informadas de cinco casos de violências contra suas comunidades. Em Laranjeira
Nhanderu, um jovem de 14 anos, chamado Ismael Mariano de Lima, morreu no dia
12, vítima de atropelamento. Outros sete indígenas foram atropelados nas
proximidades da aldeia Apykai, desde 2011.
Na aldeia Guaiviry, nas madrugadas de 11 e 12 deste
mês, três caminhonetes ficaram paradas no portão que dá acesso à aldeia,
mantendo uma vigília e coagindo os indígenas a não saírem de suas moradias. Os
mesmos veículos já haviam sido vistos pelos indígenas no dia 24/9.
A terceira notícia veio da Terra Indígena de
Puelito Kue, onde a aldeia foi totalmente cercada por um grupo de fazendeiros,
que os mantém em cárcere. Eles se organizam para preparar a terra para mais um
plantio de monocultura e vem devastando parte da mata que se encontra dentro
dos domínios indígenas.
Na manhã do dia 13, a delegação de lideranças foi
informada sobre o falecimento de Mikaeli Flores, uma menina de 2 anos. As
causas da morte foram desnutrição, fome profunda e ingestão de água imprópria
para o consumo.
Ainda mais drástica é a situação das mais de 50
famílias que vivem na Terra Indígena de Kurusu Ambá. Para além de uma determinação
de despejo advindo de decisão da Justiça Federal previsto para o dia 26 deste
mês, a comunidade foi novamente atacada por jagunços armados nos últimos dias
10 e11, que rasgaram a facão e atearam fogo nas barracas dos indígenas.
* Com informações do Cimi.
Fonte: Instituto Socioambiental
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