Planejamento é
essencial para o desenvolvimento da sustentabilidade nas cidades, por Heiko
Hosomi Spitzeck e Rafael Tello.
Planejamento é a palavra chave quando pensamos na necessidade de tornar as
construções – e as cidades – mais sustentáveis. Fatores como o consumo de
energia, água e as emissões de gases não são questões que podem ser mudadas em
pouco tempo. São transformações essenciais que devem ir além dos ciclos
eleitorais. É preciso investir hoje para colher os frutos em infraestrutura em
longo prazo.
Essa questão envolve todas as fases do
desenvolvimento das cidades. As construtoras, por exemplo, costumam despender
pouco tempo no planejamento para logo iniciar a construção, deixando de lado
detalhes importantes a contemplar, como mobilidade urbana. O resultado é a
baixa qualidade de vida para os moradores e para população depois da obra
pronta.
Seria preciso alinhar o trabalho das construtoras
com o planejamento urbano e, principalmente, as necessidades da população, para
que as cidades tenham estratégias de crescimento e organização que fomentem
maior qualidade de vida e eficiência das relações entre pessoas e empresas.
Principalmente nas grandes cidades, existe um
problema de governança metropolitana, que impõe dificuldades para a resolução
de desafios que extrapolam os limites municipais. Esta governança deve incluir
a prefeitura, as empresas e a população para alinhar as atividades e trabalhar
colaborativamente frente a uma visão comum. Os protestos recentes demonstram
que existem muitas diferenças entre as expectativas da população e do setor
público sobre o futuro das cidades. Em muitos casos, a governança metropolitana
não existe ou não está orientada para o bem comum.
Também observa-se que muitas empresas estão
trabalhando para promover desempenho ambiental e social. Mas o setor sofre com
a alta informalidade e com a auto construção, estimadas em 70% das atividades.
São os segmentos que representam os maiores desafios para a promoção da
sustentabilidade na construção.
É preciso industrializar o setor de construção,
investir em qualidade e tecnologia para que se possa produzir de forma mais
rápida, com mais qualidade, com menores impactos negativos e melhor desempenho
no ciclo de vida.
Um exemplo é a Casa E, Casa de Eficiência da
BASF, que apresenta a existência de um novo padrão para a construção civil que
minimiza os problemas e riscos e ao mesmo tempo reduz os custos ao longo do
ciclo de vida de uma construção. Além de expor um conjunto de produtos que
podem ser utilizados em construções sustentáveis, o projeto é um exemplo de
construção que pode ser visitado, criticado e avaliado como referência. É
certamente uma iniciativa importante para disseminar conhecimento relevante
sobre sustentabilidade na construção para o Brasil.
Além disso, alguns importantes fatores estão
tornando atraentes as construções mais limpas, rápidas e com melhor
performance, como a Norma de Desempenho NBR 15.575, os crescentes preços da
energia, o risco de inflação crescente, escassez de mão de obra, entre outros.
O quinto lugar em certificações green building no
mundo registrado pelo Brasil também mostra o interesse de incorporadores e
clientes corporativos, mas ainda é preciso desenvolver o mercado residencial,
que deve começar a mudar quando os clientes passarem a cobrar desempenho mínimo
de suas moradias. É o consumidor que tem papel chave, mas ainda não reconhece o
valor adicional de uma construção sustentável. Mudar esse pensamento é uma meta
para o setor. O desafio está lançado, em prol de uma sociedade mais eficiente e
de uma melhor qualidade de vida.
*Heiko Hosomi Spitzeck, coordenador do Centro
de Referência em Sustentabilidade nas Cidades da Fundação Dom Cabral e Rafael
Tello, sócio-diretor da NHK Sustentabilidade e professor associado da FDC
Fonte: EcoDebate
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