Pesquisa relaciona mortalidade
infantil e regiões demográficas.
As doenças diarreicas agudas infecciosas e
transmissíveis são provocadas por diferentes agentes enteropatógenos, sendo os
principais as bactérias, os vírus e os protozoários. Os efeitos fisiológicos
mais importantes são desidratação e desnutrição que dificultam o ganho de peso
e altura nas crianças, e podem ocasionar retardo no intelecto infantil. Com o
objetivo de realizar uma análise de indicadores integrados de ambiente e saúde
relativos aos fatores condicionantes da mortalidade por diarreia em crianças
menores de um ano nas regiões brasileiras, a pesquisadora da Escola Nacional de
Saúde Pùblica (Ensp/Fiocruz) Sandra Hacon, em parceira com pesquisadores de
outras instituições, desenvolveu o estudo Análise espacial de
indicadores integrados determinantes da mortalidade por diarreia aguda em
crianças menores de 1 ano em regiões geográficas. O trabalho aponta que as
regiões Norte e Nordeste apresentam taxas de mortalidade superiores a da Região
Sul devido, principalmente, aos indicadores socioambientais relacionados à
pobreza e ao saneamento básico.
O estudo
aponta que as regiões brasileiras mostram diferentes condições demográficas,
econômicas, sociais, culturais e de saúde.
De acordo com os responsáveis pela pesquisa, ainda
que a progressão da evolução clínica aguda e fatal do processo saúde-doença na
população infantil seja determinada por múltiplas causas, a pobreza é um
importante aspecto que prevê as condições de saúde na infância. A
morbimortalidade por diarreia infantil está condicionada principalmente ao
baixo nível socioeconômico da população, sendo um dos principais fatores que
influencia as condições de saneamento básico precário e comportamento higiênico
pessoal e doméstico insatisfatório. Aproximadamente 10,5 milhões de crianças
menores de cinco anos morrem todo ano nos países mais pobres por doenças infecciosas
e parasitárias, principalmente por pneumonia, diarreia, sarampo e Aids/HIV.
O estudo aponta que as regiões brasileiras mostram
diferentes condições demográficas, econômicas, sociais, culturais e de saúde. A
Região Norte tem a maior parte da Floresta Amazônica, tem a menor densidade
populacional (3,9 pessoas por km2) e é a segunda região mais pobre do país,
atrás do Nordeste, com elevada proporção de residências sem coleta de lixo e
com esgotamento sanitário a céu aberto. No Brasil, apesar de os dados oficiais
apontarem para a queda da mortalidade em menores de 5 anos, as regiões Norte e
Nordeste concentram a maioria dos óbitos. As taxas de mortalidade por diarreia
infantil mostram que os menores de 1 ano são os mais vulneráveis e as regiões
Norte e Nordeste também lideram as taxas mais elevadas de óbito nesta faixa
etária.
O estudo levou em consideração sete indicadores
socioambientais, construídos a partir do banco de dados do Sistema do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística de Recuperação Automática do Censo
Demográfico de 2010. As informações de óbitos por diarreia em crianças menores
de 1 ano e de nascidos vivos foram obtidos por meio das bases de dados dos
Sistemas de Informação de Mortalidade e do Sistema de Informação de Nascidos Vivos
do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde. Os resultados apontam
que as microrregiões com maiores taxas de mortalidade por doença diarreica
aguda em menores de um ano, em 2009, estão situadas nas regiões Norte e o
Nordeste, que apresentaram, respectivamente, cinco e quatro vezes mais taxa de
mortalidade por diarreia que a Região Sul.
A pesquisa destaca ainda que dentre os indicadores
associados aos óbitos por diarreia infantil nas microrregiões brasileiras, o de
extrema pobreza se destacou por obter correlação com todas as regiões, exceto a
Sul. Para as microrregiões situadas no Norte e Nordeste, os principais
indicadores foram os relacionados às condições sociais e demográficas e ao
saneamento básico. Para as microrregiões situadas no Centro-Oeste e Sudeste, os
indicadores sociodemográficos se mostraram significantes com os óbitos por
diarreia infantil.
“A diarreia infantil se apresenta como um agravo
que mostra a iniquidade em saúde no território brasileiro. As crianças menores
de um ano residentes nas microrregiões localizadas nas regiões Norte e Nordeste
são as mais expostas ao risco de óbito pela diarreia, pois nestes locais
concentram-se os piores valores para os indicadores socioambientais analisados,
principalmente no que diz respeito à pobreza e ao saneamento básico. Neste
sentido, políticas públicas sociais, econômicas, ambientais, culturais e de
saúde devem embasar-se no princípio de equidade para atender as diferentes
necessidades locais de cada região”, apontaram os autores.
O artigo Análise espacial de indicadores
integrados determinantes da mortalidade por diarreia aguda em crianças menores
de 1 ano em regiões geográficas foi desenvolvido pela pesquisadora do
Departamento de Endemias Samuel Pessoa da Escola Nacional de Saúde Pública
(Densp/Ensp) Sandra Hacon, em parceira com as pesquisadoras da Universidade do
Estado de Mato Grosso, Helena Ferraz Bühler, Eliane Ignotti e Sandra Mara Alves
da Silva Neves, e publicado na revista Ciência e Saúde Coletiva.
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