Pecuária do Caribe obrigada a
adaptar-se à mudança climática.
por Jewel
Fraser, da IPS
Cabras no Caribe em busca de sombra. O estresse
pelo calor aumenta as taxas de mortalidade do gado na região. Foto: Cedric
Lazarus/FAO.
Paramaribo, Suriname, 10/10/2014 – A mudança
climática eleva os custos e as dificuldades da produção pecuária no Caribe,
situação que representa uma ameaça para a região. Norman Gibson, cientista
especializado em pecuária que trabalha no Instituo de Pesquisa e
Desenvolvimento Agrícola do Caribe (Cardi), afirmou que as consequências da
mudança climática fazem os produtores gastarem mais dinheiro em insumos para
produzir animais sadios e experimentar taxas de mortandade mais altas entre
seus rebanhos devido ao estresse causado pelo calor.
Gibson participou de uma mesa-redonda da Semana
Caribenha da Agricultura, que começou no dia 6 na capital do Suriname e termina
no dia 12, organizada pelo Centro Técnico de Cooperação Agrícola e Rural. A
atividade anual se concentrou na promoção de políticas e práticas de adaptação
dos agricultores à mudança climática.
O especialista alertou que a redução da produção
pecuária repercutirá com força no Caribe, onde a carne é uma parte importante
da dieta diária. Anualmente, a região importa carne no valor de US$ 40 milhões
da Austrália e Nova Zelândia, e “as importações crescem mais rapidamente do que
a produção nacional”, apontou Gibson durante o encontro.
Ao mesmo tempo, a pesquisa científica demonstrou
que a mudança climática provoca maiores níveis de dióxido de carbono na
atmosfera, o que, por sua vez, “gera mudanças no estado nutricional das
plantas”, afirmou Gibson à IPS. Essa situação limita a capacidade nutritiva dos
pastos tropicais, já baixa por si só, acrescentou. “Os animais teriam que comer
mais para conseguir um nível aceitável de nutrição. Como isso costuma ser
impossível, é preciso complementar com alimento concentrado, que no Caribe é
importado, e caro”, ressaltou.
Em países como a Guiana, que estão abaixo do nível
do mar, enquanto a água continua subindo, a invasão de água salgada compromete
ainda mais a ração disponível para os ruminantes, explicou Gibson, “A maior
parte das pastagens que cultivamos atualmente não está adaptada a um alto nível
de sal. A maioria tem baixa tolerância a esse mineral e, portanto, não
prosperará nem crescerá nessas condições. Os cientistas terão que encontrar
novas variedades que sejam mais tolerantes”, acrescentou.
Uma espécie de pasto, cultivada na sede do Centro
Internacional de Agricultura Tropical na Colômbia, teve resultados promissores
em Trinidad e Tobago, Jamaica, Barbados e São Cristóvão e Neves. “Grande parte
da produção leiteira de Trinidad e Tobago se baseia nessa pastagem em
particular. Em São Cristóvão e Neves se converteu na principal erva de escolha
dos pequenos produtores de ruminantes”, pontuou Gibson.
O especialista afirmou que não há dúvidas de que as
temperaturas estão aumentando, embora a certeza seja menor sobre o aumento de
chuvas. Isso gera estresse por calor nos animais, o que limita sua capacidade
de reprodução. O estresse por calor causa mortandade de até 15% entre os
ruminantes, detalhou à IPS Cedric Lazarus, da Organização das Nações Unidas
para a Alimentação e a Agricultura (FAO), que também participou da mesa-redonda
em Paramaribo e falou dos esforços que a região realiza para reduzir esse problema.
Lazarus explicou que a homeostase dos animais se
altera quando sua temperatura corporal supera os 45 graus, levando
eventualmente à morte. Por isso, os produtores caribenhos investem em sistemas
de ventilação para refrescar o gado, explicou. “É a única maneira de manter
essas raças de gado de alta produção e garantir sua sobrevivência”,
acrescentou, lembrando que o uso de sistemas de ventilação se observa
especialmente em Barbados.
O plantio de árvores também é uma maneira simples e
viável de dar sombra aos animais, acrescentou o representante da FAO. Vários
estudos revelaram que o estresse por calor leva a uma queda brusca na produção
de leite, às vezes de 33%, o que reduz a rentabilidade do animal, destacou
Lazarus.
Segundo Gibson, o calor extremo que a região sofre provocou
anormalidades no esperma dos animais e redução em seu acasalamento, o que
diminuiu as taxas de concepção. “O sucesso de um pecuarista depende da
quantidade de animais que pode levar ao mercado a cada ano, o que está
relacionado com a reprodução” do gado, acrescentou.
Tanto Gibson quanto Lazarus disseram que o impacto
da mudança climática obrigará os produtores a dependerem mais das raças locais
de ruminantes para garantir um rebanho resistente ao calor cada vez mais forte
na região, embora a tendência nos últimos 15 a 20 anos tenha sido de importar
animais para “melhorar” o gado.
Para os agricultores, a importação de animais
estrangeiros é uma oportunidade para melhorar o rebanho, porque significa
introduzir sangue fresco sem os problemas vinculados à endogamia, opinou Rommel
Parris, criador de ovelhas e presidente da Associação de Produtores de Ovelhas
e Cabras de Barbados. Mas os benefícios de uma nova reserva genética não
superam as desvantagens de um rebanho estrangeiro no clima quente do Caribe,
ressaltou.
“Os custos sobem porque é preciso mantê-los em
espaços com ar-condicionado ou usar ventiladores para refrescá-los. É preciso
alimentá-los com ração especial e adaptar-se à dieta que recebiam antes. O
cuidado com esses animais é mais complicado do que com os adaptados há anos à
região”, explicou Parris à IPS. Os animais importados tendem a produzir menos
descendência e são mais suscetíveis aos parasitas da região, acrescentou.
Embora seja verdade que a endogamia das populações
locais gera um rebanho um pouco mais fraco, “os agricultores sabem como tratar
seus próprios animais. Muitos sabem como prevenir as doenças”, o que reduz a
taxa de mortandade e as perdas, destacou Parris.
A maioria dos ruminantes da região continua sendo
da variedade local, explicou Lazarus. Porém, acrescentou que o Caribe deve
evitar o erro cometido em outras partes do mundo, onde a introdução de raças
estrangeiras causou a extinção dos animais locais, mais sustentáveis.
Fonte: ENVOLVERDE
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