segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Para resgatar ‘farmácia viva’ índios do Tocantins buscam formação sobre viveiros em Brasília.
Em aula, no JBB, Márcio Apinajé e Samuel Xerente integram-se aos demais interessados no curso Viveiro e Produção de Mudas Florestais Nativas.

Resgatar a cura de doenças na farmácia viva. Esta é a maior motivação dos indígenas Samuel Xerente e Márcio Apinage, os dois novos alunos que integram o curso de Viveiro e Produção de Mudas Florestais Nativas que se realiza no Jardim Botânico de Brasília até hoje (sexta,10).

“Já perdemos muito da nossa tradição em cura. Hoje, ao invés do índio correr para o mato quando está doente, corre para a farmácia, isto não é bom, estamos perdendo nossos remédios. Não temos biblioteca para passar o conhecimento, os velhos têm que repassar para os jovens, porque a gente confia mais nos nossos remédios”, lamenta Samuel Xerente que se mudou da tribo que carrega o nome para a Apinaje. A aldeia Prata está iniciado um viveiro. Samuel e Márcio Apinajé estão focados na produção de mudas de plantas medicinais como resgate cultural, visando também intercambiá-las com outras tribos.

Eles estão na turma de cerca de 30 participantes que já vem aprendendo em módulos ministrados pela Rede de Sementes do Cerrado, via projeto Semeando o Bioma Cerrado sobre: identificação de árvores e madeira do bioma Cerrado, marcação de matrizes, coleta de sementes, produção de mudas nativas e comercialização.

Depois de mais de 20 horas de viagem de ônibus, desde a aldeia Prata, ou Pykamex, no Bico do Papagaio, divisa entre Tocantins e Maranhão, até Brasília, os dois indígenas estão animados com o primeiro dia de curso, onde querem informações sobre produção de mudas e organização de viveiros com sementes de qualidade.

Reunião de pajés – O indígena Xerente, que tem experiência de viver em diferentes tribos brasileiras, conta que em junho passado, foi realizado um encontro de pajés na aldeia para tratar da situação das plantas medicinais e a saúde dos índios. Cada pajé levou seu remédio, porque eles são diferentes entre as tribos, explica.

No viveiro da aldeia, há três mil mudas produzidas em comunidade e a meta é chegar a 20 mil até maio de 2015 incluindo frutíferas, oleaginosas e a farmácia viva.

ICMS Ecológico – Para produzir um viveiro, é necessário investir em infraestrutura e insumos, conforme a primeira aula do curso, ministrada hoje pelo professor Álvaro Nogueira de Souza. De acordo com Samuel e Márcio, a aldeia Prata conta para este projeto de viveiro com o mecanismo tributário do ICMS Ecológico e está em negociação com a prefeitura do município ao qual pertence, Tocantinópolis (TO) para a liberação de recursos para esta finalidade. Em 2002, o estado do Tocantins instituiu o ICMS Ecológico, um mecanismo tributário com o objetivo de oferecer uma alternativa de gestão ambiental para incentivar os municípios a preservarem áreas verdes. Em agosto de 2013, o Tocantins regulamentou uma normativa interna determinando que os municípios devem atestar projetos e ações dentro de quatro linhas de atuação para serem contemplados com recursos. As linhas, segundo o indigenista especializado da Coordenação Técnica Local de Funai de Tocantinópolis (TO), Marcelo Gonzalez, são de coleta de resíduos sólidos, preservação ambiental, educação ambiental e combate a incêndio florestal. A participação dos integrantes da aldeia no curso do Semeando o Bioma Cerrado está incluída no item educação ambiental e o viveiro em preservação.

A terra Apinajé estende-se além da aldeia Prata pela área dos municípios de Tocantinópolis, Cachoeirinha do Tocantins, Maurilândia e São Banto do Tocantins.

Informação indígena – De acordo com o coordenador do Semeando o Bioma Cerrado, Rozalvo Andrigueto, a participação de indígenas no curso e com o objetivo de manter a cultura medicinal a partir de um viveiro é muito significativa. “É a primeira vez que levamos o conteúdo a silvícolas. 

Contamos com um valor agregado que é a troca de experiências entre o conhecimento que eles detém e o que vamos passar no conteúdo do programa”, comemora.

Este módulo do Curso vai focar nos princípios de restauração de áreas degradadas, fito-sanidade de mudas, noções de compostagem e formulação de substratos, infraestrutura e logística para implantação de viveiros e prática no viveiro.

O Semeando – O projeto Semeando o Bioma Cerrado, da Rede de Sementes do Cerrado, é patrocinado pela Petrobras e deverá catalogar 3.600 árvores matrizes do bioma Cerrado; demarcar 60 áreas de cerca de 10 hectares cada como área preservada; restaurar cinco hectares de áreas já degradadas; capacitar tecnicamente 390 pessoas para produzir sementes e mudas florestais nativas em condições ambientalmente corretas e economicamente sustentáveis entre outras ações até 2015.

Por Teresa Cristina Machado, do Semeando o Bioma Cerrado


Fonte:  EcoDebate

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