Para resgatar ‘farmácia viva’
índios do Tocantins buscam formação sobre viveiros em Brasília.
Em aula, no JBB, Márcio Apinajé e Samuel Xerente
integram-se aos demais interessados no curso Viveiro e Produção de Mudas
Florestais Nativas.
Resgatar a cura de doenças na farmácia viva. Esta é
a maior motivação dos indígenas Samuel Xerente e Márcio Apinage, os dois novos
alunos que integram o curso de Viveiro e Produção de Mudas Florestais Nativas
que se realiza no Jardim Botânico de Brasília até hoje (sexta,10).
“Já perdemos muito da nossa tradição em cura. Hoje,
ao invés do índio correr para o mato quando está doente, corre para a farmácia,
isto não é bom, estamos perdendo nossos remédios. Não temos biblioteca para
passar o conhecimento, os velhos têm que repassar para os jovens, porque a
gente confia mais nos nossos remédios”, lamenta Samuel Xerente que se mudou da
tribo que carrega o nome para a Apinaje. A aldeia Prata está iniciado um
viveiro. Samuel e Márcio Apinajé estão focados na produção de mudas de plantas
medicinais como resgate cultural, visando também intercambiá-las com outras
tribos.
Eles estão na turma de cerca de 30 participantes
que já vem aprendendo em módulos ministrados pela Rede de Sementes do Cerrado,
via projeto Semeando o Bioma Cerrado sobre: identificação de árvores e madeira
do bioma Cerrado, marcação de matrizes, coleta de sementes, produção de mudas
nativas e comercialização.
Depois de mais de 20 horas de viagem de ônibus,
desde a aldeia Prata, ou Pykamex, no Bico do Papagaio, divisa entre Tocantins e
Maranhão, até Brasília, os dois indígenas estão animados com o primeiro dia de
curso, onde querem informações sobre produção de mudas e organização de
viveiros com sementes de qualidade.
Reunião de pajés – O indígena Xerente, que tem
experiência de viver em diferentes tribos brasileiras, conta que em junho
passado, foi realizado um encontro de pajés na aldeia para tratar da situação
das plantas medicinais e a saúde dos índios. Cada pajé levou seu remédio,
porque eles são diferentes entre as tribos, explica.
No viveiro da aldeia, há três mil mudas produzidas
em comunidade e a meta é chegar a 20 mil até maio de 2015 incluindo frutíferas,
oleaginosas e a farmácia viva.
ICMS Ecológico – Para produzir um viveiro, é
necessário investir em infraestrutura e insumos, conforme a primeira aula do
curso, ministrada hoje pelo professor Álvaro Nogueira de Souza. De acordo com
Samuel e Márcio, a aldeia Prata conta para este projeto de viveiro com o
mecanismo tributário do ICMS Ecológico e está em negociação com a prefeitura do
município ao qual pertence, Tocantinópolis (TO) para a liberação de recursos
para esta finalidade. Em 2002, o estado do Tocantins instituiu o ICMS
Ecológico, um mecanismo tributário com o objetivo de oferecer uma alternativa
de gestão ambiental para incentivar os municípios a preservarem áreas verdes.
Em agosto de 2013, o Tocantins regulamentou uma normativa interna determinando
que os municípios devem atestar projetos e ações dentro de quatro linhas de
atuação para serem contemplados com recursos. As linhas, segundo o indigenista
especializado da Coordenação Técnica Local de Funai de Tocantinópolis (TO),
Marcelo Gonzalez, são de coleta de resíduos sólidos, preservação ambiental,
educação ambiental e combate a incêndio florestal. A participação dos
integrantes da aldeia no curso do Semeando o Bioma Cerrado está incluída no
item educação ambiental e o viveiro em preservação.
A terra Apinajé estende-se além da aldeia Prata
pela área dos municípios de Tocantinópolis, Cachoeirinha do Tocantins,
Maurilândia e São Banto do Tocantins.
Informação indígena – De acordo com o coordenador
do Semeando o Bioma Cerrado, Rozalvo Andrigueto, a participação de indígenas no
curso e com o objetivo de manter a cultura medicinal a partir de um viveiro é
muito significativa. “É a primeira vez que levamos o conteúdo a silvícolas.
Contamos com um valor agregado que é a troca de experiências entre o
conhecimento que eles detém e o que vamos passar no conteúdo do programa”,
comemora.
Este módulo do Curso vai focar nos princípios de
restauração de áreas degradadas, fito-sanidade de mudas, noções de compostagem
e formulação de substratos, infraestrutura e logística para implantação de
viveiros e prática no viveiro.
O Semeando – O projeto Semeando o Bioma Cerrado, da
Rede de Sementes do Cerrado, é patrocinado pela Petrobras e deverá catalogar
3.600 árvores matrizes do bioma Cerrado; demarcar 60 áreas de cerca de 10
hectares cada como área preservada; restaurar cinco hectares de áreas já
degradadas; capacitar tecnicamente 390 pessoas para produzir sementes e mudas
florestais nativas em condições ambientalmente corretas e economicamente
sustentáveis entre outras ações até 2015.
Por Teresa Cristina Machado, do Semeando o Bioma
Cerrado
Fonte: EcoDebate
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