O São Francisco já é um rio
intermitente, artigo de Roberto Malvezzi (Gogó).
Foto em Estudos Avançados, Estud. av. vol.22
no.63 São Paulo 2008 – Antonio Thomaz da Mata Machado.
Embora não tenha cortado totalmente seu fluxo de
água, o São Francisco já é praticamente um rio intermitente.
A atual defluência – saída de água rio abaixo –
da represa de Três Marias, em Minas Gerais, é de 150 m3 por segundo (sic!). Não
se espantem, é essa mijada de gato. Portanto, um fiapo de água para o que já
foi o grande rio São Francisco (CBHSF).
Essa realidade é visível a olho nu em municípios
como Pirapora. Até a extração de água para abastecimento humano das cidades
ribeirinhas já está comprometida. Se formos falar em navegação, pesca, etc., é
melhor procurar nas fotografias.
A cidade de Xique-Xique, no médio São Francisco,
se abastece de um braço do Velho Chico. Em 40 dias – se o rio não recuperar
volume – terá seu abastecimento cortado. A calha central está há mais de trinta
quilômetros da cidade. Portanto, Xique-Xique vai conhecer o que é um rio
intermitente antes das demais cidades.
Abaixo, em Sobradinho, a defluência está em 1.100
metros cúbicos por segundo. As maiores balsas de transporte de passageiros
entre Juazeiro e Petrolina estão encostadas no porto. Não há profundidade para
sua navegação.
Gostaria de saber onde andam os políticos, os
técnicos, o pessoal do governo que projetou a Transposição e nos diziam com
arrogância em todos os debates que a defluência em Sobradinho era – com
absoluta segurança – de 1800 metros cúbicos por segundo, portanto, a extração
de água para a Transposição seria absolutamente insignificante. Onde será que
eles estão?
Em terceiro, abaixo de Xingó, no Baixo São
Francisco, a defluência também continua com 1.100 metros cúbicos por segundo,
comprometendo até a produção de água para consumo humano e para a bacia
leiteira de Alagoas. Sergipanos e alagoanos são os que pagam a conta de toda
degradação e irresponsabilidade de quem destrói o São Francisco. Na foz, o mar
já adentrou o rio em cerca de 50 quilômetros.
Hoje ainda se fala na Transposição, ela continua
na mídia, por muitos considerada ainda como a redenção do Semiárido. Vamos
respeitar a ignorância dessa afirmação, afinal o Nordeste e o Semiárido
continuam desconhecidos para 90% dos brasileiros, mas vale lembrar que 40% do
Semiárido brasileiro estão em território baiano, portanto, longe dos eixos da
Transposição.
Quantos ainda falam da Revitalização? Alguém tem
alguma notícia?
O São Francisco continua em processo de extinção
rápida e fatal. Mesmo assim fala-se em projetos de 100 mil hectares de cana
irrigada em Pernambuco, 800 mil hectares de cana irrigada na Bahia,
Transposição para outros estados, assim por diante.
Certamente voltará a chover, o rio vai recuperar
volume, mas, as secas serão cada vez maiores e mais constantes. A NASA, anos
atrás, projetava que o São Francisco seria um rio intermitente em 2060.
Realizamos a façanha de antecipar a projeção em mais de 40 anos.
Roberto Malvezzi (Gogó), Articulista do Portal EcoDebate,
possui formação em Filosofia, Teologia e Estudos Sociais. Atua na Equipe
CPP/CPT do São Francisco.
Fonte: EcoDebate
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