Diversificar as formas de
produzir energia é prioridade para os próximos anos.
A definição sobre quais serão as fontes de
energia prioritárias para o país nos próximos anos será um dos principais
desafios do próximo governante. Atualmente, cerca de 75% da energia elétrica
gerada no Brasil vem de hidrelétricas, mas a capacidade de expansão dessa fonte
já está caminhando para o esgotamento, e é preciso encontrar novas alternativas
baratas, seguras e sustentáveis.
Os próximos anos serão decisivos para que o Brasil
tome decisões estratégicas com relação a sua matriz energética, na avaliação do
especialista Nivalde de Castro, coordenador do Grupo de Estudos do Setor
Elétrico (Gesel) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Segundo ele,
o Brasil não tem mais potencial para expandir a geração por meio de
hidrelétricas, e a construção de novas usinas está mais difícil. “A partir da
segunda metade desta década, é preciso tomar decisões estratégicas com relação
a essa matriz. A hidrelétrica vai diminuir, vai esgotar, é preciso saber qual a
matriz que o Brasil terá”, aponta. Atualmente, o governo prevê o esgotamento do
potencial hidrelétrico entre 2025 e 2030.
Para o especialista, a geração de energia no país
não pode ser baseada apenas em energias renováveis como a eólica e a solar,
porque essas fontes não têm capacidade de armazenamento. Na avaliação de
Castro, um dos caminhos é trazer de volta a discussão sobre a geração de
energia por meio de usinas nucleares.
O Instituto Acende Brasil, um centro de estudos
do setor elétrico, também aponta que é preciso se preparar com antecedência
para o cenário de esgotamento do potencial hidrelétrico. Em um documento com
propostas encaminhadas aos candidatos à Presidência da República, a entidade
diz que será necessário recorrer a outras fontes, como a energia nuclear, para
atender ao crescimento da carga.
“O Brasil dispõe de amplas reservas de urânio e
detém a tecnologia de seu enriquecimento. Adicionalmente, a energia nuclear não
emite gases de efeito estufa e suas usinas podem ser localizadas relativamente
próximas aos grandes centros de consumo”, diz o instituto, que também defende a
geração distribuída, principalmente de fonte solar e eólica.
A energia nuclear respondeu, em 2013, por cerca
de 2,78% da geração do Sistema Interligado Nacional e corresponde a um terço do
consumo cativo total de energia elétrica do estado do Rio de Janeiro.
Atualmente, o país tem em funcionamento as usinas nucleares Angra 1 e Angra 2.
A Usina Angra 3 está prevista para entrar em funcionamento em 2018.
>>Conheça as propostas dos(as) candidatos(as) à Presidência para o setor de energia
>>Conheça as propostas dos(as) candidatos(as) à Presidência para o setor de energia
Entidades como o Greenpeace são contra a expansão
da geração nuclear no Brasil. “Não temos a solução definitiva para a questão
dos rejeitos nucleares. Além disso, a geração nuclear é extremamente cara, e
uma usina leva cerca de dez anos para ficar pronta”, diz o coordenador da
campanha de energias renováveis do Greenpeace Brasil, Ricardo Baitelo. A
solução, segundo ele, é aumentar a participação de energia solar, eólica e a
gerada por biomassa.
O Greenpeace acredita que até 2050 a participação
de energia eólica e solar, no país, chegue a 20% para cada tipo de fonte.
Atualmente, a participação da energia eólica é de cerca de 2%, e a solar é
quase inexistente. Para os próximos quatro anos, a recomendação da organização
não governamental é que sejam contratados pelo menos 30 gigawatts de energia
oriundas de fontes solar, eólica e biomassa.
Outro desafio para os próximos anos é estimular a
geração de energia de pequeno porte e a descentralização da geração. Países
como Estados Unidos, Japão, China, Itália e Alemanha estão expandindo muito
rapidamente a geração de energia solar residencial, que além de trazer
vantagens ambientais reduz as perdas de energia. No Brasil, já existe há mais
de um ano uma regulamentação sobre esse tipo de geração, mas, segundo Baitelo,
ainda faltam linhas de financiamento para que as pessoas possam comprar os
equipamentos necessários. “O governo ainda pensa o planejamento energético em
larga escala, mas certamente a energia solar tem muito a contribuir nessa
vertente pulverizada”, diz o representante do Greenpeace.
A prioridade para energia solar de forma
descentralizada, usando telhados de prédios e casas, também é defendida pelo
Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Social. Para Ivo Poletto, assessor do
Fórum, essa medida reduziria a necessidade de novas obras de usinas
hidrelétricas para suprir a necessidade energética do país. “Temos um
posicionamento crítico em relação às fontes que são prioritárias na política
energética no Brasil. Além de afetar o meio ambiente, prejudicar comunidades,
atingir os rios, achamos que não são necessárias porque mudando de prioridade
de fonte temos energia à vontade a ser produzida a partir do sol, ventos e
biomassa, de forma descentralizada”, aponta.
Com relação às críticas sobre os custos desse
tipo de energia, ele argumenta que o preço atual da energia proveniente de
hidrelétricas, por causa da falta de chuvas, está mais alto do que a energia
solar comercializada em leilão e que o preço dos componentes para energia solar
vem caindo cerca de 20% por ano. “Não apostar agora, aqui no nosso país, no uso
do sol e continuar estragando a Amazônia, fazendo termelétricas, usinas
nucleares, parece uma decisão de cegos, de surdos, de pessoas isoladas no
planeta”, diz Poletto.
O presidente do Acende Brasil, Cláudio Sales,
aponta outras questões importantes para a melhoria do cenário energético do
país, como o planejamento dos leilões de energia e a valorização de atributos
de localização e complementariedade de fontes. “Esses atributos têm valor e as
regras dos leilões deveriam ter critérios para valorizar esses atributos, e não
simplesmente a garantia física pela menor tarifa.”
Outra questão a ser enfrentada é a tributação
sobre o serviço. Segundo o Acende Brasil, o setor elétrico é responsável por
2,2% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, mas contribui com 8,4% do
Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). “Teria que ser pelo
menos igual. Mas para isso acontecer, teria que mudar as regras de cobrança do
ICMS, o que envolve debate com os estados e o Congresso Nacional. Está mais do
que na hora de mudar isso para evitar esse modelo tão ineficiente de tributação
que temos”, aponta Sales.
Fonte: Agência Brasil
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