Carga tributária brasileira onera
os mais pobres e reforça as desigualdades, diz estudo.
Estudo do
Inesc e da Oxfam apresenta o cenário da carga tributária brasileira, que tem
onerado consideravelmente os mais pobres e os assalariados no país, por meio de
tributos indiretos que incidem sobre o consumo.
Nos últimos anos o Brasil vem apresentando redução
nas desigualdades de rendimentos medida pelo coeficiente de Gini[1], mas, o país ainda está entre as 15
nações que mais concentram renda no mundo. O estudo “As implicações do sistema tributário brasileiro nas
desigualdades de renda”, lançado nesta quinta-feira, 11/9, pelo Inesc
e Oxfam
afirma que um dos motivos dessa situação é elevada regressividade da carga
tributária brasileira,que tem onerado consideravelmente os mais pobres e os
assalariados do país, por meio de tributos indiretos que incidem sobre o
consumo.
Além disso, a pesquisa apresenta um balanço das
principais medidas implementadas pelos poderes Legislativo e Executivo desde
1995 e aponta propostas para um sistema tributário mais justo, pautado por
tributos diretos e progressivos, que onerem mais a renda e o patrimônio dos
mais ricos.
Análises
O estudo demonstra o sistema tributário adotado no
país está concentrado em tributos indiretos e cumulativos que sobrecarregam os
trabalhadores/as mais pobres, uma vez que mais da metade da arrecadação provém
de tributos que incidem sobre bens e serviços, havendo baixa tributação sobre a
renda e o patrimônio (veja a tabela 2 do estudo). As pessoas mais
pobres e os trabalhadores assalariados são os responsáveis por 71,38% do
montante de impostos, contribuições e taxas arrecadados pelo Fundo Público no
Brasil.
A pesquisa também traz um levantamento inédito que
analisa a regressividade do sistema tributário brasileiro, considerando a
questão da desigualdade racial e de gênero no país. O estudo demonstra que a
elevação de tributos sobre produtos que compõem a cesta básica, por exemplo,
onera os mais pobres, particularmente os/as negros/as. Outro dado apontado pela
pesquisa é que as mulheres negras pagam proporcionalmente, em relação aos seus
rendimentos, muito mais tributos do que os homens brancos (confira a tabela 3 e tabela 4 da publicação).
A análise ainda demonstra que esse sistema
tributário adotado no Brasil está na contramão do que o utilizado pelos países
desenvolvidos. Conforme dados da Organização para a Cooperação e o
Desenvolvimento Econômico (OCDE), nos países socialmente mais desenvolvidos a
tributação sobre o patrimônio e a renda corresponde a cerca de 2/3 da arrecadação
dos tributos. Nesses países, a elevada carga tributária está associada à
redução da desigualdade de renda, ao contrário do que se observa no Brasil, que
possui acentuada desigualdade a despeito da sua alta carga tributária. Isto é
explicado pela regressividade do sistema tributário brasileiro (veja o gráfico 1).
Alterações legislativas no sistema tributário brasileiro
O segundo capítulo da publicação apresenta um
balanço das principais medidas implementadas pelo Poder Executivo federal que
agravaram as injustiças tributárias, entre elas estão: 1) a isenção de imposto
de renda sobre lucros e dividendos distribuídos aos sócios capitalistas,
incluindo as remessas para o exterior, medida aplicada no governo do Fernando
Henrique Cardoso; 2) a redução do imposto de renda nas operações da bolsa de
valores, a isenção do imposto de renda nas aplicações de títulos da dívida
pública brasileira, implementadas no governo Lula; 3) as desonerações
tributárias que implicam no “desfinanciamento” das políticas sociais, aplicadas
durante o governo da Dilma Rousseff.
Caminhos para um sistema tributário mais justo
Responsável pela elaboração do estudo, Prof.
Evilasio Salvador da Universidade de Brasília (UnB), ressalta alguns elementos
para a construção de um sistema tributário que atue no sentido da
redistribuição de renda e riqueza no país, reduzindo as desigualdades sociais
no Brasil. De acordo com Salvador, é “necessário revogar algumas das alterações
realizadas na legislação tributária infraconstitucional, após 1996, que
sepultaram a isonomia tributária no Brasil, com o favorecimento da renda do
capital em detrimento da renda do trabalho”. Conclui “que é necessário
reorientar a tributação para que ela incida prioritariamente sobre o patrimônio
e a renda dos contribuintes. O pilar do sistema tributário deve ser o Imposto
de Renda, pois é o mais importante dos impostos diretos, capaz de garantir o
caráter pessoal e a graduação de acordo com a capacidade econômica do
contribuinte”, afirma.
[1] O coeficiente de Gini (ou índice de Gini) é
um cálculo usado para medir a desigualdade social, tendo sido desenvolvido
pelo estatístico italiano Corrado Gini, em 1912. Este índice apresenta
dados entre o número 0 e o número 1, no qual o número zero corresponde a uma
completa igualdade na renda, isto é, todos detêm a mesma renda per capita , e o
número um corresponde a uma completa desigualdade entre as rendas, ou seja, um
indivíduo ou uma pequena parcela de uma população detém toda a renda e os
demais nada têm.
Fonte: Inesc
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