Chuvas do passado.
por
Salvador Nogueira, da Agência Fapesp
Estudo estima temperaturas da superfície do
Atlântico Sul nos últimos 12 mil anos e sua conexão com as precipitações no
continente sul-americano. Foto: Nasa.
Revista Pesquisa Fapesp – A seca pela qual está
passando o Estado de São Paulo em 2014 surpreendeu a todos e está colocando em
risco o abastecimento de água na capital paulista e nos municípios vizinhos.
Prevista com mais antecedência, talvez permitisse adotar medidas para manter os
reservatórios mais bem abastecidos.
O trabalho de um grupo internacional de
pesquisadoras pode, no futuro, ajudar a calcular com maior precisão variações
de chuva e umidade na América do Sul e auxiliar a agir mais cedo.
O estudo, publicado em junho na Scientific Reports,
combinou estimativas de temperatura no passado e modelagem matemática para
reconstruir a temperatura da superfície do Atlântico Sul nos últimos 12 mil
anos. Além de estabelecer com maior precisão o clima no período, o trabalho
pode ajudar a compreender a dinâmica entre as temperaturas no oceano e a
umidade no continente.
O grupo liderado por Ilana Wainer, do Instituto
Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IO-USP), observou que o aumento da
temperatura na porção norte do Atlântico Sul, próximo à linha do equador,
esteve associado a um maior volume de chuvas onde hoje é o Nordeste brasileiro
e a menos chuvas no Sudeste nos últimos 12 mil anos. Inversamente, o Nordeste
enfrentou períodos de secas mais severas e o Sudeste de mais chuvas quando a temperatura
no sul do Atlântico esteve mais elevada.
O que melhor explicou a variação climática nesses
12 mil anos, segundo as pesquisadoras, foi um padrão de distribuição de
temperaturas no Atlântico Sul semelhante ao observado hoje, com períodos em que
a temperatura das águas superficiais era mais alta ao norte e outros em que
eram mais elevadas ao sul.
Os pesquisadores dão o nome de Dipolo Subtropical
do Atlântico Sul ao padrão de distribuição de temperaturas em que o oceano
parece ter um polo mais quente e outro mais frio – com a inversão ocasional.
“Caso tenha existido nesses 12 mil anos, esse fenômeno pode ter influenciado de
modo importante a distribuição das chuvas no continente”, diz a meteorologista
Luciana Figueiredo Prado, coautora do estudo e aluna de doutorado de Ilana
Wainer no IO-USP.
Essa conclusão é, até certo ponto, surpreendente.
Até então se atribuía a variação no volume de chuvas na América do Sul
principalmente à influência do fenômeno El Niño, flutuações na temperatura das
águas superficiais do Pacífico que ocorrem em períodos curtos (15 a 18 meses).
Mas alguns trabalhos já haviam mostrado que o El Niño não explica totalmente as
alterações no regime de chuvas atual da América do Sul. Parte dessa variação
(cerca de 20%) parece decorrer das mudanças de temperatura na superfície do
Atlântico Sul.
Por essa razão, embora a seca de 2014 em São Paulo
esteja atrelada ao El Niño, Ilana acredita que essa não seja a história toda.
“Mostramos que as condições do Atlântico Sul também são importantes para
definir os cenários de precipitação na América do Sul”, diz a pesquisadora. “E
isso não deve ser ignorado.”
Leia a reportagem completa aqui.
Fonte: Agência
Fapesp
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