América Latina deve cuidar da
água para saciar sua ‘sede’ de energia.
Hidrelétrica de Itaipu, a maior da América Latina.
Foto: Itaipu Binacional
Você se lembra da última vez em que acabou a luz na
sua casa? Algum dia ficou sem água? E o que faria se tais cortes ocorressem ao
mesmo tempo e frequentemente? Estão aí reflexões de que nenhuma pessoa, na
América Latina ou fora dela, vai conseguir escapar no futuro. Isso, porque o
fornecimento de água e a geração de energia estão intimamente ligados, e o
crescimento da população global nas próximas décadas aumentará a demanda por
esses recursos cada vez mais limitados.
A premissa vale sobretudo para o mundo em
desenvolvimento, segundo o Conselho Global de Energia (WEC, na sigla em
inglês). A América Latina, por exemplo, é uma das regiões em que a produção de
eletricidade mais aumentará até 2050: 550%, fazendo o consumo de água crescer
360%. Só perde para a África, cuja produção de energia subirá 700% até a metade
do século, puxando em 500% o uso de água.
Os aumentos não serão impulsionados somente pelas
hidrelétricas, que usam a força dos rios para gerar energia. O resfriamento de
termelétricas e usinas nucleares, bem como a extração e o refino de
combustíveis, por exemplo, também necessitam de água.
E números recentes da Associação Internacional de
Energia (IEA) provam essa dependência: até 2035, o consumo mundial de energia
crescerá 35%, enquanto o consumo de água pelo setor energético aumentará em
85%. Está claro que, quando falta energia, a produção, o tratamento, o
transporte e o consumo final de água falham.
Arte: Banco Mundial
Além disso, tanto a energia como a água são usadas
na produção agrícola, inclusive em culturas – como a cana de açúcar –
destinadas a gerar energia por meio dos biocombustíveis.
Nos próximos anos, não é só o crescimento
populacional que coloca em risco os ciclos de produção de água, energia e
agricultura. As mudanças climáticas também ameaçam elevar a temperatura e o
nível do mar, por exemplo, e provocar secas mais intensas e frequentes, o que
reduz a disponibilidade da água.
Prejuízo para todos
Esse último problema é algo que o Brasil conhece
bem. Em 2012, o nível de água nas barragens no sudeste e no centro-oeste do
país chegou a 28% da capacidade devido à pior seca em 50 anos. O percentual
está abaixo do suficiente para garantir o abastecimento de energia elétrica.
Quase 10 anos antes, o país enfrentou oito meses de racionamento por causa da
estiagem no nordeste, resultando em um prejuízo de R$ 54 bilhões para a
indústria e impactando o crescimento econômico em 2001.
Outro país altamente dependente das hidrelétricas,
a vizinha Venezuela, enfrentou em 2010 os mesmos problemas de interrupções no
fornecimento de energia.
Mas, assim como não só as hidrelétricas dependem de
água, as fornecedoras de outros tipos de energia também vêm sofrendo com a
disponibilidade cada vez menor do recurso natural. Em 2007, na Austrália – que
então vivia a pior seca em mil anos –, três usinas a carvão tiveram de reduzir
a produção para proteger os reservatórios de água municipais.
Em síntese, 59% das empresas de energia e 67% das
concessionárias de energia elétrica sofreram algum prejuízo relacionado aos
recursos hídricos nos últimos cinco anos, informa o Relatório da Água (2013)
divulgado pela CDP, consultoria na área de meio ambiente.
Se as empresas passam dificuldades com a falta de
recursos hídricos e de energia, imagine a população. Hoje, 2,8 bilhões dentre
as sete bilhões de pessoas em todo o mundo vivem em áreas em que a oferta de
água é reduzida, segundo o Programa Mundial de Avaliação dos Recursos Hídricos
(WWAP). Para completar, de acordo com a IEA, 2,5 bilhões têm pouco ou nenhum
acesso a eletricidade.
Num mundo que não cuide dos seus recursos naturais
e afetado pelas mudanças climáticas, os números podem se tornar bem piores –
com impactos para a economia e a estabilidade política de muitos países,
discute o estudo “Energia Sedenta: Garantindo o
Abastecimento em um Mundo com Disponibilidade Limitada de Água“, do
Banco Mundial.
Planejamento realista
Apesar dessas preocupações, o planejamento e a
produção no setor energético vinham sendo feitos sem levar em consideração as
limitações de água atuais e futuras. Essa é uma das principais conclusões do
estudo, o primeiro de uma iniciativa – também chamada Energia Sedenta –, cujo
objetivo é incentivar os países a agir de forma diferente. A China, um dos
primeiros países a trabalhar com ela, vai incorporar essa limitação a seu
próximo planejamento quinquenal de energia (2016-2020).
- Entre
outras soluções propostas a ela e outros países, estão:
- Usar
mais energias renováveis, como a solar e a eólica
- Reciclar
e reutilizar a água usada na operação das usinas de energia
- Substituir
usinas antigas e ineficientes
- Aumentar
a eficiência da produção de biocombustíveis
- Criar
leis e regulações sobre o direito de uso da água em momentos de escassez;
- Integrar
a infraestrutura de energia e de água.
E, por último, a iniciativa estimula governos e
população a fazer algo simples, mas nem sempre seguido: conservar os recursos
hídricos e economizar energia, sempre que possível, não importa o lugar.
Trata-se do primeiro passo rumo a um mundo em que os cortes de água e luz sejam
cada vez menos uma ameaça.
Fonte: ONU Brasil
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