Especialistas apontam soluções
para cidades da América Latina.
por Diego
Freire, da Agência Fapesp
Cidade do México: programa federal de resgate de
espaços públicos foi promovido em 350 municípios. Foto: Wikimedia Commons.
Pesquisadores de áreas interdisciplinares do
conhecimento com atuação no Brasil, Reino Unido, México, Chile e Colômbia
reuniram-se no UK Latam Future Cities Joint Research Workshop, realizado pelo
UK Science & Innovation Network, órgão do governo britânico, em parceria
com a Fapesp e o USP Cidades, núcleo de pesquisa da Universidade de São Paulo
(USP), nos dias 30 de setembro e 1º de outubro.
De acordo com Richard Turner, cônsul geral
britânico, que abriu o workshop, o objetivo do encontro foi debater, por meio
das experiências de diferentes centros urbanos, soluções para desafios em
transporte, recursos hídricos, uso de energia, urbanismo e comunidades, entre
outros temas.
“Sabemos o quanto as metrópoles e suas questões são
importantes não só localmente, mas globalmente, e esperamos que este workshop
ofereça oportunidades de intercâmbio entre pesquisadores de cidades tão
relevantes para a América Latina e o mundo”, disse à Agência Fapesp.
Para Celso Lafer, presidente da Fapesp, as cidades
representadas no workshop realizado no auditório da Fundação contam com
exemplos de enfrentamento dessas questões.
“As metrópoles são complexas, mas muitos de seus
desafios têm origens comuns. É preciso refletir sobre as causas de seus
problemas e enfrentá-los. Os pesquisadores aqui reunidos trazem experiências
que, compartilhadas, podem ajudar no entendimento e na superação de problemas
de diversas ordens enfrentados pelas metrópoles da América Latina”, disse
Lafer.
Desafios
Para Robert Rogerson, vice-diretor do Institute for
Future Cities da University of Strathclyde, da Escócia, um dos maiores desafios
das cidades é adotar medidas que as tornem competitivas sem prejuízo à
qualidade de vida das suas populações.
“As cidades precisam ser atraentes para o capital
global e, ao mesmo tempo, bons lugares para se viver, porque a qualidade de
vida é um componente importante para a competitividade. Bons indicadores
sociais também tornam cidades competitivas”, disse.
Envolvimento
Veio da Cidade do México um dos exemplos
bem-sucedidos de aproveitamento dos espaços públicos para melhorar a qualidade
de vida da população.
Luis Zamorano, diretor de Desenvolvimento Urbano e
Acessibilidade da organização não governamental mexicana Embarq, apresentou
resultados de um programa federal de resgate de espaços públicos promovido em
350 municípios mexicanos.
“Além de devolver esses espaços recuperados à
população, o objetivo era fomentar a identidade comunitária, a coesão social e
a prevenção de condutas inadequadas, aumentando a segurança da população”,
disse Zamorano, avaliando que mais de 66,5 milhões de mexicanos tenham sido
beneficiados pelo programa.
De acordo com Zamorano, contribuiu para a eficácia
do programa o envolvimento das comunidades na recuperação dos espaços.
“As populações locais participaram ativamente do
processo, engajando vizinhos, identificando as localidades que seriam
recuperadas, realizando diagnósticos e avaliando os planos que foram feitos
para cada uma”, disse.
Ao fim do programa, pesquisa realizada pelos
municípios apurou que a sensação de segurança nos arredores dos espaços
recuperados aumentou consideravelmente.
“Mais de 70% das pessoas consultadas aprovaram o
trabalho realizado nas localidades e se disseram mais tranquilas em relação à
segurança pública”, disse Zamorano.
Para Gareth Jones, da London School of Economics
and Political Science, da Inglaterra, o caso mexicano é um exemplo dos
benefícios que as cidades podem ter quando suas comunidades se apropriam das
medidas de superação dos problemas.
“Naturalmente, a sensação de segurança ter
aumentado não significa que esses locais estejam mais seguros, mas é uma
mudança importante. A partir desse engajamento muitos outros desafios podem ser
superados, em diversas áreas críticas das grandes cidades latino-americanas e
do mundo todo”, avaliou.
As discussões seguiram com abordagens sobre urbanismo,
transporte e sustentabilidade e uso da água, com apresentações de
representantes do Imperial College London, no Reino Unido, das instituições
colombianas Universid National, Universidad Antonio Nariño e Universidad del
Norte, das chilenas Universidad de Concepcion e Pontificia Universidad Catolica
de Chile e das brasileiras USP e Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Além do intercâmbio de experiências científicas, o
workshop apresentou oportunidades de financiamento de pesquisas conjuntas nas
áreas, como o Newton Fund, do governo britânico, lançado no Brasil em abril e
destinado ao fomento à pesquisa e à inovação em países emergentes.
Diego Arruda, gerente de Projetos do Consulado
Geral Britânico em São Paulo, apresentou algumas das possibilidades abertas.
“O Newton Fund tem grande importância na política
do governo britânico para os países emergentes. No caso da América Latina,
trata-se de uma oportunidade de aproveitamento do potencial científico de
países de relevância crescente no cenário mundial”, disse.
Serão investidos £ 375 milhões, cerca de R$ 1,4
bilhão, em 15 países.
Ao Brasil serão destinados £ 9 milhões anuais, mais
de R$ 33 milhões, durante três anos.
O valor tem contrapartida brasileira, com aporte
financeiro de instituições nacionais, e chamadas já foram lançadas em diversas
modalidades de apoio com a participação da Fapesp.
Em setembro, a Fapesp, o Conselho Nacional das
Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap), as fundações de amparo à
pesquisa estaduais (FAPs), a Academy of Medical Sciences, a British Academy, a
Royal Academy of Engineering e a Royal Society anunciaram chamada de propostas
com financiamento em conjunto com o Newton Fund.
O objetivo da chamada é estimular o intercâmbio
internacional em pesquisa, e o prazo para submissão de propostas vai até 22 de
outubro.
Ainda em setembro a Fapesp e o British Council
anunciaram o resultado da chamada de propostas lançada em abril para apoiar a
realização de workshops de pesquisa com recursos do Newton Fund.
Foram aprovadas 16 propostas, que receberão apoio
financeiro para a realização de encontros entre jovens cientistas do Reino
Unido e do Estado de São Paulo para o estabelecimento de futuras colaborações
em pesquisa.
Antes, em agosto, os Conselhos de Pesquisa do Reino
Unido (RCUK) haviam lançado seu primeiro edital para o Newton Fund, em parceria
com o Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap).
O prazo para a submissão de propostas se encerra em
17 de outubro.
As Academias Nacionais do Reino Unido – Royal
Society, British Academy, Academy of Medical Sciences e Royal Academy of
Engineering –, em colaboração com o Confap e as FAPs, também oferecem auxílios no âmbito do Newton
Fund.
Além do Brasil e dos demais países
latino-americanos representados no workshop – México, Chile e Colômbia –,
recebem aportes do Newton Fund China, Índia, Turquia, África do Sul, Egito,
Cazaquistão, Tailândia, Indonésia, Vietnã, Filipinas e Malásia.
Fonte: Agência Fapesp
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