Especialista recomenda revisão de
normas sobre exposição a mercúrio.
A exposição ao metal tóxico em níveis elevados
pode provocar danos irreversíveis à visão, com prejuízos à retina.
As normas internacionais relacionadas à exposição
humana ao vapor do mercúrio em ambientes de trabalho estão ultrapassadas e
precisam ser revisadas para conter casos de intoxicação de trabalhadores ao
metal tóxico.
A recomendação é da pesquisadora Dora Ventura, do
Departamento de Psicologia Experimental do Instituto de Psicologia da
Universidade de São Paulo (USP) e vice-presidente da Sociedade Brasileira para
o Progresso da Ciência (SBPC), em palestra proferida nesta terça-feira, 19, no
2º Encontro Regional de Membros Afiliados da Academia Brasileira de Ciências
(ABC), na unidade do Makenzie, em Higienópolis, São Paulo.
“O sujeito que está exposto cronicamente (ao
mercúrio) fica numa situação em que as normas não são seguras. São ditas
seguras, mas não são”, disse Dora que discorreu sobre o tema: Impactos da
exposição ao mercúrio na visão humana.
Com base nos parâmetros internacionais, a
legislação brasileira estabelece o limite de 35 microgramas por gramas de
mercúrio (35 ?g de Hg/g) na urina do trabalhador exposto ao metal tóxico no
ambiente de trabalho.
Embora toda população esteja potencialmente
exposta ao mercúrio encontrado no meio ambiente, o risco maior ocorre no
ambiente de trabalho nas indústrias de cloro-álcali; aparelhos de medição de
uso doméstico, clínico e industrial como termômetros (temperatura),
esfignomanômetros (pressão sangüínea), barômetros (pressão); lâmpadas
fluorescentes; interruptores elétricos e eletrônicos (interruptores de
correntes); e instrumentos de controle industrial (termostatos e pressostatos).
Perda de visão
A exposição ao metal tóxico em níveis elevados
pode provocar danos irreversíveis à visão prejudicando a retina e o córtex
visual, além de outros alvos do organismo, segundo informações de Dora, que
fundou o Laboratório da Visão da USP, em 1990, dedicado à pesquisa aplicada em
psicofísica e eletrofisiologia visual clínica para o estudo de doenças
neurodegenerativas do sistema visual.
Durante 10 anos, aproximadamente, Dora pesquisou,
com outros pesquisadores, o impacto do mercúrio em um grupo de 120
trabalhadores aposentados por invalidez em razão da intoxicação mercurial de
duas indústrias de lâmpadas fluorescentes, em São Paulo. Todos os trabalhadores
foram submetidos a testes de visão e grande parte deles teve perdas visuais de
forma irreversível. Ou seja, tiveram prejuízos na visão de cores e de
contrastes, assim como o campo visual.
Além da exposição humana ao mercúrio, os
pesquisadores estudam outras doenças que afetam o sistema visual, como
diabetes, doenças neurológicas e outras.
“Na indústria de lâmpadas florescentes que a
gente estudou o descaso com a exposição ao mercúrio era total. Depois que
alguns indivíduos ficaram muito intoxicados e começaram a se aposentar por
invalidez e o episódio começou a virar um escândalo, as empresas começaram a
ter mais cuidado e buscar proteção”, disse Dora, preferindo não citar o nome da
empresa até porque a intenção do grupo é gerar dados científicos e não
denunciar empresas.
No geral, segundo entende a pesquisadora, os
níveis de exposição ao mercúrio estabelecidos nas normas brasileiras e
internacionais não são seguros. No caso do Brasil, disse, existem vários
trabalhadores em situação de risco em empresas de lâmpadas florescentes, além
de outros segmentos nos quais o mercúrio é utilizado.
Para a pesquisadora, os métodos de avaliação
utilizados em sua pesquisa são mais sensíveis do que aqueles utilizados na
elaboração das legislações sobre a exposição do mercúrio, em 1994.
“Nossos testes são muitos sensíveis e modernos,
desenvolvidos com técnicas computacionais bem avançadas. São instrumentos
melhores do que os usados na época em que as normas foram definidas,” comparou.
Riscos em outras áreas
Outro risco da exposição ao mercúrio ocorre nos
consultórios odontológicos e na extração do ouro, o que acarreta prejuízos
consideráveis ao meio ambiente.
No caso de consultórios odontológicos, a amálgama
feita com mercúrio para fechar uma cavidade dentária ainda é o melhor método
considerado pelos dentistas, apesar de riscos de intoxicação. A máscara
utilizada pelos profissionais, conforme Dora, é insuficiente para impedir a
intoxicação que acontece pela inalação do vapor do metal tóxico. “O pior
momento é quando se usa o motorzinho para retirar a obturação porque a
temperatura aquece a liga e libera o vapor de mercúrio.”
Por Viviane Monteiro/ Jornal da Ciência
Fonte: EcoDebate
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