A incrível energia do som.
por
Regina Scharf, para a página 22
Nenhuma fonte de energia – nem o petróleo, nem as
marés, nem os ventos, e nem mesmo a energia solar – é tão onipresente quanto o
som. Humanos são capazes de fazer muito barulho mesmo numa madrugada gelada, no
meio do deserto. E agora, pela primeira vez, cientistas e empresas estão
conseguindo explorar essa energia.
Na semana passada, pesquisadores da Queen Mary’s
University, de Londres, e da Microsoft anunciaram ter utilizado a
nanotecnologia num protótipo capaz de carregador celulares com a energia da
vibração gerada pelo barulho ambiente. O equipamento, do tamanho de um celular
convencional, utiliza nanotubos de óxido de zinco que geram eletricidade ao
serem distendidos ou comprimidos pelo som de conversas, música ou do trânsito.
Os cientistas pulverizaram uma placa de plástico
com os nanotubos e aqueceram a superfície a 90 graus Celsius, o que permitiu
que a substância se multiplicasse, cobrindo a placa. No vídeo ao lado (em
inglês), Steve Dunn, professor de Nanomateriais da Escola de Engenharia e
Ciência dos Materiais da Queen Mary’s University, dá uma visão sobre o projeto,
como essa tecnologia poderia ganhar escala nos próximos anos e o seu potencial
de substituição das baterias. Dunn cogita, por exemplo, a instalação de painéis
publicitários interativos e autônomos em trens, capazes de aproveitar o alto
nível de decibéis desse meio de transporte.
O esforço de gerar eletricidade acústica é
relativamente recente. Em 2011, cientistas coreanos já haviam demonstrado essa
possibilidade, mas eles conseguiram gerar apenas uma tensão elétrica ínfima, 50
milivolts. A pesquisa divulgada na semana passada viabilizou a expansão da
geração a 5 volts, o suficiente para carregar um celular.
Antes disso, em 1999, Scott Backhaus e Greg Swift,
do maior laboratório de pesquisas nucleares dos Estados Unidos, o Los Alamos
National Laboratory, demonstraram a viabilidade de um motor termoacústico,
concebido a partir dos escritos de um engenheiro escocês do século XIX, Robert
Stirling, que ficaram adormecidos durante cem anos. As pesquisas desenvolvidas
em Los Alamos, por sua vez, inspiraram cientistas da University of Nottingham,
na Inglaterra, que criaram um sistema que usa um fogão doméstico comum para
aquecer ar comprimido contido no interior de um cano.
Com isso, ele passa a
vibrar, produzindo ondas sonoras altíssimas, de mais de 170 decibéis
(comparáveis às de um foguete decolando). Entretanto, do lado de fora do
sistema, o som é abafado.
As ondas sonoras vibram um diafragma no outro extremo
do cano, que movimenta uma mola, que gera a corrente elétrica. O equipamento,
que permite gerar eletricidade e refrigeração, está sendo testado no Nepal e
Bangladesh.
Qual o real potencial dessas tecnologias?
Apartentemente, os investimentos em geração sonora ainda são baixos e não
viabilizaram sua utilização em escala. Mas é tentador sonhar com as
possibilidades de exploração de um recurso tão abundante, gratuito, renovável e
onipresente.
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