SP: Hospital reconhece que
pressionar a barriga da mulher no parto (Manobra de Kristeller) é violência
obstétrica.
Manobra de Kristeller é procedimento já
banido pelo Ministério da Saúde e pelo Conselho Regional de Medicina de São
Paulo; hospital também afixou cartazes para conscientizar sobre riscos da
prática.
O Hospital Geral de Pedreira OSS, na Vila Campo
Grande, zona sul da capital paulista, reconheceu que a chamada “manobra de
Kristeller” é uma forma de violência contra as parturientes e aboliu a prática
na realização de partos. A medida atende a recomendação do Ministério Público
Federal em São Paulo (MPF/SP). A técnica banida consiste em pressionar com
força a parte superior do útero para agilizar a saída do bebê pelo canal
vaginal, o que pode causar lesões graves à mãe e ao bebê, como fratura de
costelas, deslocamento de placenta e traumas encefálicos.
A recomendação foi expedida após o MPF receber
denúncia de uma gestante que deu à luz no hospital. Ela relatou ter sofrido
dores extremas ao ser submetida à “manobra de Kristeller”.
Segundo a mulher, um
dos médicos que a atendeu subiu duas vezes sobre suas costelas para fazer peso
e tentou empurrar o bebê com os punhos fechados.
Ao tomar conhecimento dos fatos, as procuradoras
Luciana da Costa Pinto e Ana Previtalli recomendaram à unidade de Pedreira,
além da não realização da prática, que informasse a todos os profissionais que
a técnica é proscrita e iniciasse capacitações para o atendimento humanizado ao
parto. A recomendação determinava ainda que o hospital conscientizasse o
público em geral e as equipes de atendimento sobre a contraindicação da manobra
por meio da afixação de cartazes em locais de fácil visualização, o que já foi
cumprido.
Proscrito – O Conselho Regional de Medicina em
São Paulo já se pronunciou no sentido de que a “manobra de Kristeller” é
procedimento proscrito, estando atrelada a inúmeros traumas materno-fetais. O
Ministério da Saúde e entidades da área de ginecologia e obstetrícia também
condenam a prática devido à sua ineficácia e aos riscos que traz à mãe e ao
bebê. Apesar disso, uma pesquisa deste ano da Fundação Oswaldo Cruz revela que
37% das gestantes pertencentes ao grupo de risco obstétrico habitual foram
submetidas à manobra no Brasil.
As procuradoras acreditam que o combate à adoção
da técnica depende tanto dos profissionais de saúde quanto das parturientes.
“Os médicos que estão habituados a realizar a “manobra de Kristeller” devem,
com urgência, rever suas práticas”, alerta Ana Previtalli. Para Luciana da
Costa Pinto, “as mulheres precisam se informar de que se trata de procedimento
perigoso e que não deve ser realizado”. Em caso de ocorrência, as gestantes
devem denunciar os fatos na página eletrônica http://cidadao.mpf.mp.br/.
A realização da técnica sujeita os responsáveis a
sanções administrativas perante os Conselhos Regional de Medicina, além de
ações cíveis e penais se houver danos à saúde da mulher ou do bebê. A “manobra
de Kristeller” é um dos alvos de um inquérito civil público que o MPF instaurou
em março para investigar a prática da violência obstétrica em hospitais e
maternidades da capital. A apuração envolve também agressões verbais durante o
parto e a adoção de outros procedimentos médicos realizados de forma
inadequada, como o uso rotineiro de ocitocina sintética, o corte rotineiro do
períneo (episiotomia) e a restrição à movimentação da parturiente.
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