Brasil precisa de R$ 13 bilhões
só para fazer inclusão nos sistemas de ensino.
Leia a análise do coordenador geral da Campanha,
Daniel Cara, publicada dia 1º de janeiro, no jornal O Estado de S.Paulo.
A mais recente Pnad mostra que, em 2013, 2,8
milhões de brasileiros de 4 a 17 anos estavam excluídos dos sistemas de ensino.
Contudo, apenas a matrícula é insuficiente: é imprescindível conciliar acesso
com qualidade da educação. O único instrumento existente no Brasil para
mensurar isso é o Custo Aluno-Qualidade Inicial (CAQi).
Desenvolvido pela Campanha Nacional pelo Direito
à Educação, o mecanismo consta do novo PNE, foi aprovado pelo Conselho Nacional
de Educação e pelas edições de 2010 e 2014 da Conferência Nacional de Educação.
O CAQi determina que todas as escolas públicas
brasileiras devem ter Professores que recebam, ao menos, o piso do magistério
(cerca de R$ 1.700). Devem ter também garantida política de carreira, formação
continuada e turmas com o número adequado de alunos.
Além disso, todas as unidades escolares devem
contar com bibliotecas, laboratórios de ciências, laboratórios de informática e
quadra poliesportiva coberta.
Para construir e equipar escolas com o padrão do
CAQi para 2,8 milhões de brasileiros, o País precisa investir cerca de R$ 12,8
bilhões, sendo R$ 6,6 bilhões para 2.860 pré-escolas, R$ 1,8 bilhão para 770
estabelecimentos de ensino fundamental e R$ 4,4 bilhões para 1.900 escolas de
ensino médio. No entanto, não basta construir e equipar pré-escolas e escolas,
é preciso mantê-las. O custo anual de manutenção desses 5.530 estabelecimentos
necessários é praticamente o mesmo que o de construção e equipagem: R$ 13 bilhões.
DANIEL CARA, COORDENADOR-GERAL DA CAMPANHA NACIONAL PELO DIREITO À EDUCAÇÃO, MESTRE EM CIÊNCIA POLÍTICA (USP) E DOUTORANDO EM EDUCAÇÃO (USP).
DANIEL CARA, COORDENADOR-GERAL DA CAMPANHA NACIONAL PELO DIREITO À EDUCAÇÃO, MESTRE EM CIÊNCIA POLÍTICA (USP) E DOUTORANDO EM EDUCAÇÃO (USP).
Maioria dos que estão fora das salas de
aula é de pobres
O maior desafio de acesso que o Brasil enfrenta atualmente
é o de conseguir incluir os mais desfavorecidos, como a população mais pobre,
negros e deficientes físicos. Apesar de avanços nos últimos anos, também
persistem diferenças regionais de acesso.
A maioria das crianças e jovens que está fora da
escola é das famílias mais pobres do País. No Brasil dos 25% mais ricos, 98,1%
dos jovens de 4 a 17 anos estão na escola. Já entre os brasileiros 25% mais
pobres, esse porcentual é de 92,6%, segundo dados da Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios (Pnad) 2013 tabulados pelo Movimento Todos Pela Educação
para o Estado.
A diferença é de mais de 5 pontos porcentuais. Na
Região Sul, entretanto, esse abismo é ainda maior: 98,4%dos mais ricos de 4 a
17 anos estão na escola, enquanto somente 89,7% dos mais pobres têm a mesma
oportunidade – uma distância de quase 9 pontos porcentuais.
Mais de 61% das crianças de 4 e 5 anos fora da
escola estão entre os 25% mais pobres. No ensino médio, mais de 50% dos
excluídos são mais pobres.
A diferença socioeconômica de atendimento também
se reflete quando se compara regiões e populações urbana e rural.” Para ampliar
o atendimento do País, é necessário olhar especificamente para essas
populações.
Precisamos atender as especificidades”, diz
Ricardo Falzetta, do Todos Pela Educação.
“Essa é a luta, não podemos aceitar essas
deficiências.” Raça e escolaridade. As dificuldades da universalização passam
pelo desafio de manter o aluno na escola. E também nesse indicador as
diferenças sociais e raciais aparecem. Estudo de 2013 da pesquisadora Paula
Louzano, da USP, mostra que alunos autodeclarados pretos têm maior
probabilidade de fracasso escolar do que brancos.Essaprobabilidadevaria a cada
região e de acordo com a escolaridade dos pais.
Pode ser, por exemplo, 19% maior, caso esse jovem
esteja na Região Sul e os pais tenham apenas o ensino fundamental completo.
Mesmo na Região Sudeste, amais rica do Brasil, a diferença de probabilidade de
fracasso dos pretos e brancos é de no mínimo 12%.
Só 45,3% dos jovens pretos e 49,3% dos jovens
pardos estavam no ensino médio na idade certaem2014,segundooAnuário Estatístico
da Educação Básica (Editora Moderna). Entre os 25% mais pobres, eram somente
44,2% – ante 75% entre os 25% mais ricos. / P.S.
Nenhum comentário:
Postar um comentário