Instituições alertam para a falta
de conhecimento sobre a Mata Atlântica.
Projeto pretende elaborar diagnóstico das
pesquisas no bioma para criação de banco de dados, produzir mapa do uso do solo
e oferecer cursos de capacitação.
De acordo com o Ministério do Meio Ambiente
(MMA), a Mata Atlântica abriga 35% das espécies de flora já registradas no país
(em torno de 20 mil), bem como mais de duas mil espécies de fauna, entre aves,
anfíbios, répteis, mamíferos e peixes. Apesar dessa riqueza, o bioma é o mais
ameaçado, desmatado e fragmentado do país, com apenas 7% de sua cobertura
original preservada.
Com o objetivo de proteger essa biodiversidade e
propor ações efetivas de conservação, foi criado em Curitiba (PR) o Centro
Integrado para a Conservação da Mata Atlântica – In Bio Veritas, em 2007. “A
ideia surgiu do contato com outros pesquisadores, pois percebemos a lacuna de
conhecimento sobre a Mata Atlântica e a necessidade de articular melhor as
competências de cada um”, explica o pesquisador Ricardo Britez, responsável
pelo projeto. Fazem parte do Centro representantes da Sociedade de Pesquisa em
Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS), da Universidade Federal do Paraná
(UFPR), do Museu de História Natural Karlsruhe (Alemanha) e da Fundação Grupo
Boticário de Proteção à Natureza, instituição que também financia o projeto.
Compilação para novas ações
De acordo com Britez, percebeu-se que, para
propor pesquisas e ações aplicadas à conservação da Mata Atlântica, era
necessário fazer um levantamento completo das informações já disponibilizadas
por outros estudos. Para tanto, foram definidas quatro frentes de trabalho que
acontecem concomitantemente.
A primeira é a elaboração de um banco de dados
das pesquisas realizadas no litoral paranaense, região delimitada inicialmente
para a elaboração do projeto, por ser muito importante para a conservação,
visto que a região faz parte do maior remanescente contínuo de Mata Atlântica do
Brasil. “Está sendo resgatado tudo o que já foi estudado, onde foi pesquisado e
se os materiais foram aplicados ou não”, comenta Britez. A ideia é, uma vez
pronto, disponibilizar o banco de dados online. Até o momento já foram
catalogados cerca de 1.100 projetos.
A segunda estratégia é a avaliação e compilação
das pesquisas realizadas exclusivamente em Unidades de Conservação (UCs) no
litoral do Paraná. Nesse momento, estão sendo analisadas quais delas têm mais
estudos, quais os temas mais abordados e quais necessitam de algum enfoque
específico. “O objetivo desse diagnóstico de pesquisas é oferecer informações
aos gestores das UCs para auxiliá-los na criação ou implementação dos planos de
manejo”, ressalta o responsável técnico pelo projeto. O litoral do Paraná
possui 19 unidades de conservação, sendo 13 delas na categoria de proteção
integral, cujo objetivo principal é a conservação da biodiversidade.
O terceiro ponto é a definição de um protocolo de
monitoramento da biodiversidade da Mata Atlântica, que é um manual de como se
proceder para monitorar a fauna e flora, estruturando o que se deve medir, de
que forma, o que avaliar e como informar os resultados. Ele tem sido feito por
meio da análise de pesquisas, verificando o que já se tem de informação sobre o
assunto. “Ainda não existe um formato estruturado de monitoramento, por isso
estamos trabalhando para gerar esse protocolo que vai auxiliar bastante na
conservação da biodiversidade do bioma”, comenta Britez.
Também será produzido
um mapa da vegetação e uso do solo no litoral paranaense, comparando imagens de
2000/2001 com as dos anos 2010/2011. Assim, será verificado o status atual da
conservação da região, oferecendo um panorama de quais regiões são prioritárias
para receberem pesquisas e ações de preservação.
A última etapa da pesquisa é definir conteúdos
programáticos para a realização de cursos de capacitação com base nas
informações obtidas nas outras três linhas de ação do projeto. “Com 10
pesquisadores, temos grande expertise dentro do Centro para oferecer esse
material com qualidade.
Esperamos que gere mais conhecimento, conscientização e
ações efetivas de conservação da biodiversidade desse bioma tão rico,
complementando os esforços públicos”, conclui o pesquisador. O projeto, que
será concluído em setembro deste ano, tem como instituição responsável a SPVS
(PR).
Segundo a diretora executiva da Fundação Grupo
Boticário, Malu Nunes, o trabalho do In Bio Veritas é de grande relevância,
pois transforma a informação científica em ação de conservação.
“Os
pesquisadores embasam com dados técnicos as lacunas de conhecimento, produzindo
levantamentos inéditos, além de orientar como essas informações devem ser
aplicadas na prática”, ressalta. Ela explica ainda que essa é uma forma de
aproximar o conhecimento das pessoas. “A forma científica de se expressar
muitas vezes não é de fácil entendimento para a população. A divulgação desses
dados facilitará essa comunicação, mostrando para a sociedade o que já foi
feito e o que precisa ser mais estudado”, conclui.
Importância da Mata Atlântica
A Mata Atlântica possui ampla distribuição, pois
abrange boa parte do litoral brasileiro, estendendo-se desde o Rio Grande do
Sul até o Piauí, além dos estados de Goiás, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul.
Por conta dessa distribuição, vivem em seu domínio cerca de 120 milhões de
brasileiros, que geram aproximadamente 70% do PIB do país. Além disso, a região
presta importantes serviços ambientais como a produção de água em quantidade e
qualidade, a manutenção da fertilidade do solo, a regulação do clima, além de
proteção de encostas, evitando a erosão.
Apesar dessas características importantes para a
manutenção da vida no planeta, o bioma sofre diversas ameaças, a exemplo da
pressão de setores como imobiliário e agroindústria. A pesca predatória que
gera desequilíbrio na biodiversidade marinha também é uma realidade, além do
desmatamento que aumenta a fragmentação da Mata Atlântica. Esse desmatamento
reduz cada vez mais o espaço de ocorrência de espécies como mico-leão-dourado (Leontopithecus
rosalia), jacutinga (Aburria jacutinga), onça-pintada (Panthera onca),
papagaio-da-cara-roxa (Amazona brasiliensis).
Sobre a Fundação Grupo Boticário – A Fundação
Grupo Boticário de Proteção à Natureza é uma organização sem fins lucrativos
cuja missão é promover e realizar ações de conservação da natureza. Criada em
1990 por iniciativa do fundador de O Boticário, Miguel Krigsner, a atuação da
Fundação Grupo Boticário é nacional e suas ações incluem proteção de áreas
naturais, apoio a projetos de outras instituições e disseminação de
conhecimento. Desde a sua criação, a Fundação Grupo Boticário já apoiou 1.417
projetos de 480 instituições em todo o Brasil. A instituição mantém duas
reservas naturais, a Reserva Natural Salto Morato, na Mata Atlântica; e a
Reserva Natural Serra do Tombador, no Cerrado, os dois biomas mais ameaçados do
país. Outra iniciativa é um projeto pioneiro de pagamento por serviços
ambientais em regiões de manancial, o Oásis. Na internet:
www.fundacaogrupoboticario.org.br, www.twitter.com/fund_boticario e
www.facebook.com/fundacaogrupoboticario.
Fonte: EcoDebate
Nenhum comentário:
Postar um comentário