Projeto da Embrapa quer valorizar
cadeia produtiva do dendê.
Foto: Daniela Collares
Conhecida popularmente como dendezeiro, a
palma-de-óleo é considerada a planta com maior potencial de ganhar participação
mais significativa entre as fontes de óleo para a produção de biodiesel, além
de continuar abastecendo a indústria de alimentos. No entanto, a
disponibilidade de sementes de qualidade, o aumento do número de variedades
disponíveis e a valorização econômica de todos os coprodutos do processamento
ainda são desafios para estimular investimentos.
A Embrapa Agroenergia (Brasília/DF), com uma rede
de parceiros em várias regiões do País, está liderando um projeto de pesquisa
em rede com duas vertentes: estudar a genética da planta e desenvolver soluções
para os coprodutos do processamento industrial dos frutos. A iniciativa conta
com recursos da Agência Brasileira de Inovação (Finep).
O dendezeiro gera cachos grandes e pesados repletos
de pequenos frutos vermelhos, dos quais são extraídos dois óleos. Da polpa, vem
o óleo de dendê propriamente dito, de cor alaranjada; da castanha, sai o
chamado óleo de palmiste. O primeiro é utilizado na produção alimentícia
(margarinas, pães e sorvetes) e em outras aplicações industriais (sabões,
detergentes, corantes naturais); o segundo também é empregado na fabricação de
alimentos, especialmente os especiais, como biscoitos e chocolates, além de
atender ao mercado de cosméticos.
É com o óleo da polpa que se produz o biodiesel.
Hoje, a participação dessa matéria-prima na produção do biocombustível é pouco
significativa. O primeiro motivo é a produção de óleo ainda baixa – o Brasil
importa cerca de metade do que consome. Além disso, o óleo de dendê tem acidez
elevada, o que tem exigido uma etapa a mais no processo de produção. Nesse
sentido, uma das atividades do projeto de pesquisa da Embrapa será o teste com
catalisadores de origem química ou biológica (enzimas) que permitam a produção
do biodiesel em uma única etapa, como nos processos com óleo de soja. Eles
também vão buscar catalisadores heterogêneos, ou seja, que não se dissolvem no
processo e, portanto, podem ser mais facilmente recuperados ao final do
processo e reutilizados. A pesquisadora da Embrapa Agroenergia Itânia Soares
explica que a expectativa é que isso reduza a geração de efluentes, uma vez que
poderia ser usado menor volume de água na lavagem para purificação do
biodiesel.
Coprodutos
O projeto, que recebeu a sigla DendePalm, terá
também um esforço significativo no desenvolvimento de tecnologias para aproveitamento
de coprodutos e resíduos. Cada tonelada de cachos de dendê gera cerca de 250 kg
de óleos. Depois, sobram aproximadamente 220 kg de cachos vazios, 120 kg de
fibras, 50 kg de cascas e 1.000 kg de efluentes. Atualmente, esses resíduos são
aproveitados como fertilizantes ou queimados em caldeiras para gerar energia.
O que os pesquisadores da Embrapa e das diversas
instituições parceiras estão fazendo é buscar formas de obter produtos com
maior valor agregado a partir desses materiais. "Esperamos transformar o
que hoje é resíduo em coprodutos valorizados pela indústria, de modo que o
processamento de dendê possa se integrar ao conceito de biorrefinaria",
conta a pesquisadora Simone Mendonça, da Embrapa Agroenergia, que coordena os
trabalhos nessa área.
Dos cachos vazios, os cientistas pretendem obter
substratos para o cultivo de cogumelos, nanofibras de celulose e gás de
síntese. Este último é uma espécie de "lego" da indústria química,
que pode ser convertido em diversas moléculas. As fibras restantes após a
extração do óleo dos frutos também vão ser testadas como substratos para o
cultivo de cogumelos. Os cientistas ainda pretendem obter delas carotenoides,
substâncias vitais para a alimentação humana, atuando como precursores de
Vitamina A.
Um resíduo líquido muito abundante no processamento
dos cachos de dendê é o POME, sigla para palm oil mill effluent
(efluente da extração do óleo da palma). O volume gerado chega a ser cinco
vezes maior do que o de óleo obtido. Por ser rico em matéria orgânica, não pode
ser descartado em corpos d'água sem tratamento, já que poderia contaminá-los.
Os pesquisadores querem aproveitar essa matéria orgânica e utilizá-la para o
crescimento de microrganismos e microalgas. Eles reduziriam a carga orgânica do
efluente e gerariam produtos como biomassa, biogás e polímeros.
Genética e genômica
O Projeto Dendepalm conta também com uma equipe de
cientistas dedicados a ampliar o conhecimento da genética do dendê e as
ferramentas disponíveis para as ações de melhoramento e engenharia genética da
planta. Está prevista a identificação e caracterização de marcadores
moleculares e o aumento dos dados de caracterização da diversidade
genética-molecular da coleção de germoplasma da Embrapa, bem como a construção
de mapas genéticos de dendê e caiauê. Esta última é uma palmeira do mesmo
gênero, muito utilizada no melhoramento do dendê, uma vez que é tolerante à
principal ameaça à saúde das plantações – o amarelecimento fatal.
Outra ação prevista no âmbito do projeto é o estudo
do genoma do caiauê. Entre as ações, destaca-se a obtenção de uma versão
preliminar do genoma de uma das plantas do banco ativo de germoplama de caiaué
da Embrapa. Já foram obtidos cerca de 72% do genoma, considerando comparação
com genoma da mesma espécie publicado recentemente, e o foco da próxima etapa é
na ordenação dos fragmentos obtidos e na complementação das informações.
O pesquisador Eduardo F. Formighieri diz que isso demonstra que "já
conseguimos uma boa representatividade do genoma da nossa planta; e as novas tecnologias
permitem que trabalhemos na próxima etapa".
O projeto ainda prevê o uso de técnicas avançadas
de biologia molecular para estudar a microbiota associada a plantas acometidas
pelo amarelecimento fatal. No intuito de explorar um número elevado de microrganismos,
os cientistas vão utilizar a metagenômica, ferramenta que permite estudar
inclusive aqueles que não podem ser cultivados.
"Este é um projeto muito amplo, com
ações em vários pontos da cadeia produtiva. Mas é só desenvolvendo soluções
para todos os pontos que vamos viabilizar a expansão da cultura", conclui
o chefe-geral da Embrapa Agroenergia, Manoel Souza.
Vivian Chies (MTB 42.643/SP)
Embrapa Agroenergia
agroenergia.imprensa@embrapa.br
Telefone: (61)3448-2264
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Mais informações sobre o tema
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Fonte: EMBRAPA
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