São Paulo, suas árvores e suas
enchentes, artigo de Álvaro Rodrigues dos Santos.
Árvore de grande porte caiu, na tarde desta
terça-feira (1º/1), na rua Peixoto Gomide, na região da Bela Vista. Foto de :
Luiz Guarnieri/AE/R7 Notícias.
Todo santo final/início de ano
repete-se a lúgubre novela: enchentes e quedas de árvores trazendo incômodos e
tragédias para a população da metrópole paulistana. Dois fenômenos pelos quais
o homem, por seus erros, é o principal responsável. Com especial destaque para
o direto envolvimento das administrações municipais da metrópole.
No caso das árvores, por proceder ou permitir o
plantio de espécies arbóreas inteiramente inadequadas, por suas
características, para os locais em que são plantadas. Em cidades como as
nossas, de fiação aérea, tubulações enterradas sob a calçada e sarjetas e
intenso trânsito de veículos e pedestres, nunca se poderia adotar árvores de
grande porte e fraca resistência a ventos e ao ataque de fungos e insetos.
Nossas conhecidas leguminosas, como a Tipuana
(Tipuana tipu) e a Sibipiruna (Caesalpinia pluviosa), dominantes na cena
arbórea paulistana, cuja descontinuidade de uso e progressiva substituição já
eliminariam algo talvez como 80% dos problemas, são o exemplo clássico e crítico
dessa incompatibilidade. Essas espécies foram generosamente espalhadas por
nossas calçadas e parques, talvez por suas características de fácil reprodução,
rápido crescimento e segura pega. Não se prestam às ruas das cidades, madeira
fraca, baixíssima resistência a pragas e doenças, a Tipuana em especial,
enraizamento pouco profundo e destrutivo, elevado porte, extremamente
vulneráveis a ventos mais intensos, comuns promotoras de vítimas, muitas
fatais, na quebra de seus galhos ou em seu tombamento total.
De sua parte, e aí as questões se cruzam, as
enchentes urbanas têm sua principal causa na progressiva incapacidade das
cidades reterem parte razoável de suas águas de chuva, lançando-as, por sua
impermeabilização, em brutais e crescentes volumes, e em tempos a cada dia mais
reduzidos, sobre um sistema de drenagem que não mais consegue lhes dar vazão.
Pois bem, ao contrário da cidade impermeabilizada
que descarta mais de 85% das águas de chuva, as áreas vegetadas, e entre elas,
especialmente as áreas florestadas, têm um resultado hidrológico virtuosamente
inverso, retêm mais de 80% de chuvas intensas, descartando sobre a cidade
apenas perto de 20% das chuvas que recebem. Ou seja, para um eficaz combate às
enchentes uma das medidas de maior efeito é a máxima arborização possível da
cidade, em especial na modalidade bosques florestados.
Incrível, pois, que, por conseqüência de erros
sobre erros, cheguemos hoje a um paradoxo em que a população é levada a temer e
a se antipatizar com as árvores urbanas. Como exclamaria um nosso afamado
locutor esportivo, “pelo amor de meus filhinhos”, plantemos muitas árvores,
milhões e milhões de árvores em nossa metrópole, elas nos são absolutamente
necessárias, apenas tomemos o inteligente cuidado de plantar as espécies arbóreas
certas nos lugares que lhes são decididamente adequados.
Geól. Álvaro Rodrigues dos Santos
(santosalvaro@uol.com.br)
Ex-Diretor de Planejamento e Gestão do IPT e Ex-Diretor da Divisão de Geologia.
Ex-Diretor de Planejamento e Gestão do IPT e Ex-Diretor da Divisão de Geologia.
Autor dos livros “Geologia de Engenharia: Conceitos, Método e Prática”, “A Grande Barreira da Serra do Mar”, “Diálogos Geológicos”, “Cubatão”, “Enchentes e Deslizamentos: Causas e Soluções”, Manual Básico para Elaboração e Uso da Carta Geotécnica”, Colaborador e Articulista do Portal EcoDebate.
Fonte: EcoDebate
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