Massacre em Paris: Matar o
mensageiro não cala uma ideia.
por
Leonardo Sakamoto*
Um minuto de silêncio na França em homenagem às
vítimas da Charlie Hebdo. Foto: JB Gurliat / Mairie de Paris
Jornalistas estão na linha de frente dos
enfrentamentos simbólicos da sociedade e, por conta disso, não raro, são
vítimas da mesma intolerância que denunciam.
Somos mensageiros, mas não apenas. Carregamos nossa
própria visão de mundo ou a do veículo de comunicação em que estamos para o
debate público. E por palavras que usamos representarem uma ideia maior do que
nós mesmos ou por trazerem informação que incomoda, somos punidos com ameaças,
acusações falsas, cusparadas, socos e pontapés, sequestros, tiros.
Somos a parte que apanha, metonimicamente, pelo
todo.
Fiquei muito triste com a tragédia do Charlie
Hebdo, em Paris, que resultou em 12 mortos, nesta quarta (7). Cartunista é uma
parte da categoria que, na minha opinião, está acima de todos nós. Conseguem
passar, através da leveza ou do soco no estômago, em poucos segundos, o que
levaríamos uma eternidade para explicar com texto, áudio ou vídeo.
Em um incêndio, deveriam ser os primeiros a serem
salvos. Mas, ao contrário, um punhado deles foi morto em uma chacina.
De certa forma, o que aconteceu envolvendo 12
pessoas em Paris tem ocorrido a conta-gotas ao redor do mundo pelos mais
diferentes motivos. Do fundamentalismo religioso, ao crime organizado, passando
pelo incômodo a grandes corporações e ao poder político, seja no Maranhão, no
México, no Paquistão ou mesmo em países autoproclamados desenvolvidos.
Espero que os responsáveis sejam encontrados,
julgados e punidos e que isso não realimente nenhum ciclo de intolerância – que
leva, inexoravelmente, a um único destino: destruição mútua.
E que a vida do jornalista (commodity em baixa num
tempo em que informação de qualidade vale menos que discursos vazios e
anônimos) seja mais respeitada.
“Quer calar uma interpretação do mundo? Mate o
responsável por torná-la pública, mate seu corpo, mate sua credibilidade.”
A receita é idiota.
Porque a gente se vai. Mas as ideias ficam.
* Leonardo Sakamoto é jornalista e doutor em
Ciência Política.
Fonte: Blog do Sakamoto
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