Água e Energia: Especialista diz
que população terá de conviver com algum tipo de racionamento.
Foto: Mídia Ninja / EBC
O coordenador do Instituto Virtual Internacional
de Mudanças Globais (Ivig), do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação
e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(Coppe-UFRJ), Marcos Freitas, afirmou, no sábado (23), que a crise de energia e
de água “chegou ao país”. Segundo ele, a consequência é a população brasileira
ter de conviver com algum tipo de racionamento,
Diferentemente de 2001, quando a crise de energia
marcou o início de funcionamento da Agência Nacional de Águas (ANA), hoje as
empresas do setor elétrico não têm dinheiro para ações emergenciais. Conforme
Freitas, a situação é delicada, porque antigas usinas hidrelétricas estão
deficitárias e precisam de modernização.
Para o técnico, de 2001 até hoje, o setor
elétrico dotou-se de um sistema térmico que não existia. Na época, a geração
hídrica representava 85% da capacidade. O restante era geração térmica.
Atualmente, 60% são de fonte hídrica e o restante, térmica. “Houve investimento
na geração térmica, o que é bom para aguentarmos o período seco. Naquele ano,
éramos limitados em relação à geração térmica.”
Marcos Freitas afirmou que, este ano, haverá
necessidade de racionamento de energia elétrica no Brasil e de água em algumas
regiões, especialmente no Grande Rio e na Grande São Paulo, atingindo
aproximadamente 30 milhões de pessoas.
Conforme Freitas, o racionamento deveria ter
ocorrido no ano passado, “seja na troca de energia entre bacias
transfronteiriças, caso de trazer energia da Argentina ou do Paraguai, ou na
otimização dos recursos brasileiros, principalmente nos sistemas urbanos de
abastecimento. Isto é segurança hídrica. É mais delicado que a falta de
energia”, acrescentou.
Segundo ele, 2015 está começando com 18% de
capacidade dos reservatórios no Sudeste eCentro-Oeste, contra 35% a 40% no
início da crise energética. “Naquele ano, não tínhamos tanta térmica como
agora”. Ele acredita que isso gerará impacto em um ano difícil para a economia.
“Teremos de conviver com um custo de energia mais elevado e com algum regime de
racionamento, que acaba sendo impositivo”.
O coordenador do Instituto Virtual Internacional
de Mudanças Globais explicou que ausência de planejamento gera blecautes e
falta de energia, que é “muito mais perigoso que um racionamento”, porque pode
atingir serviços essenciais como hospitais e transportes coletivos. Ele lembrou
que, na crise de energia dos anos 2000, estudos indicaram retração da economia
entre 0,5% e 1% do Produto Interno Bruto, que é a soma dos bens e serviços
fabricados no país.
Freitas informou que outro agravante é o
crescimento da agricultura de irrigação em várias regiões brasileiras,
principalmente em São Paulo, aumentando o consumo de água dos rios. Em 2004, a
área de irrigação equivalia a até 3,5 milhões de hectares no país. Hoje, supera
6 milhões de hectares.
Apesar de pequena em comparação com a agricultura
de sequeiro (de chuva), em torno de 100 milhões de hectares, Freitas ponderou
que a expansão da agricultura de irrigação tira o consumo de água dos rios e
aumenta a competição com a geração hidrelétrica e com o abastecimento de água
nas cidades.
De acordo com ele, a cultura que usa irrigação é
a da cana-de-açúcar. Ele destacou que as hidrelétricas construídas após
2001/2002 são obrigadas a ter outorga de disponibilidade hídrica (oferta de
água), além do potencial hidráulico, “mas são poucas”.
As usinas do Sudeste já estavam construídas e não
têm outorga. Segundo Freitas, essa variável não é avaliada, o que aumenta o
consumo de água de irrigação na agricultura e acelera a seca nos reservatórios.
Fonte: Agência Brasil
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