Brasil desenvolve projeto inédito
de reprodução de garoupa em cativeiro.
A inspiração foi
trazida das Filipinas, onde os habitantes convivem em proximidade com o mar, e
resultou no Projeto Garoupa, no Brasil, que busca a reprodução inédita dessa
espécie de peixe em cativeiro. O projeto é desenvolvido pela organização não
governamental (ONG) Associação Ambientalista Terra Viva e foi selecionado em
edital público do Programa Petrobras Socioambiental. O foco é a conservação de
populações naturais da chamada garoupa verdadeira (Mycteroperca marginata),
disse, na sexta-feira (22), à Agência Brasil o mestre em biologia
marinha e coordenador geral do Projeto Garoupa, Maurício Roque da Mata Júnior.
A garoupa integra a lista de espécies globalmente
ameaçadas de extinção pela União Internacional de Conservação da Natureza
(IUCN, do nome em inglês). Com o intuito de preservar a espécie, o projeto atua
em 11 municípios, sendo sete no estado do Rio de Janeiro (Angra dos Reis,
Itaguaí, Mangaratiba, Paraty, Cabo Frio, Arraial do Cabo e Búzios) e quatro em
São Paulo (Ubatuba, Ilhabela, Caraguatatuba e São Sebastião). Mata Júnior disse
depois da renovação do projeto, que deverá ser pleiteada a partir de junho
próximo, com a apresentação de nova proposta para patrocínio, a ideia é
estender o projeto também para a cidade do Rio de Janeiro.
O Projeto Garoupa tem três frentes de atuação. A
primeira objetiva a caracterização de habitats na parte física e biológica
entre o Rio de Janeiro e São Paulo, por meio de equipes de mergulhos. “A gente
pretende com isso gerar subsídios para a formulação de políticas públicas,
trabalhar futuros planos de manejo das garoupas e ter esses locais como áreas
de preservação e de ecoturismo, para manter a biodiversidade. Tem uma série de
fatores que são interessantes até para a própria pesca”, destacou.
Na base montada em Ilhabela, é feita a
larvicultura da espécie, que envolve a criação de larvas de peixes em cativeiro
para reprodução assistida em tanques. Os pesquisadores querem fazer
experimentos com os alevinos (filhotes recém-saídos dos ovos) soltando-os na
natureza, para ver como vão interagir com as populações naturais. “Além da
reprodução que a gente está conseguindo, vamos colocar alguns transmissores
para verificar a sobrevivência desses animais na natureza”.
Na parte de criação de larvas, as desovas
alcançaram um milhão de larvas geradas e estocadas. A taxa de sucesso de 95% na
eclosão de ovos é considerada bastante alta, mas a meta é chegar a 100%, disse
o biólogo. Tendo em vista que a garoupa é um peixe marinho carnívoro, com peso
entre 80 quilos e 90 quilos, as sobrevivências finais apresentam taxas não tão
elevadas. Por isso, o desafio agora é trabalhar para aumentar a sobrevivência
dos alevinos.
O terceiro objetivo da proposta é a educação
ambiental participativa, com atividades lúdicas. O projeto forma alunos da rede
pública de ensino, pessoas da comunidade, operadores de mergulho e
profissionais do setor de turismo, utilizando várias linguagens, com destaque
para oficinas de áudio e vídeo; contação de histórias, que resgata a cultura
tradicional por meio da oralidade; além de teatro. “Todas as três linguagens
tratam de temas escolhidos pelos moradores locais”. Até agora, foram realizadas
55 oficinas em sete municípios.
A primeira etapa do projeto deve ser concluída em
julho deste ano. “A gente visualiza como um projeto a longo prazo. Você não
consegue tirar uma espécie de um estado crítico de vulnerabilidade em dois
anos. A proposta é conseguir a renovação do projeto para poder expandi-lo”. Os
pesquisadores querem estudar também a conectividade dessas populações de
peixes, em termos genéticos, para ver se a que ocorre na Região dos Lagos, por
exemplo, é a mesma que está presente nas Ilhas Cagarras, na capital fluminense,
ou no norte do estado de São Paulo.
Mata Júnior disse que os dados do projeto serão
divulgados este ano em congressos nacionais e internacionais, com o objetivo de
disponibilizar as informações para o público e os órgãos ambientais, “que têm
poder de legislar, para que façam um plano de manejo para a garoupa e para os
locais que abrigam diferentes espécies”.
Fonte: Agência Brasil
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