segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Meio ambiente e o princípio das propriedades emergentes, artigo de Roberto Naime.
Todas as áreas do conhecimento humano contribuem para a ciência ambiental atual, mas a biologia contribui com alguns dos mais importantes conceitos para o conhecimento do ambiente e para a planificação de sua gestão, dentro de conceitos de preservação responsável. Talvez se possa afirmar que o próprio estabelecimento da ciência ecológica, suas relações com as outras ciências e sua relevância para a humanidade sejam suficientes para legitimar a importância da biologia dentro do contexto ambiental.

A própria expressão ecossistema, que se refere à aplicação da ideia de sistema aos níveis de hierarquia organizacional, tem uma importância fundamental, porque posteriormente se ampliou para todas as áreas da abordagem ambiental e até para outras ciências como medicina e informática.

Conforme a clássica publicação de Eugene Odum (Ecologia, 1.988, Editora Guanabara), “Hierarquia” significa um arranjo numa série graduada, como na linguagem militar, e “sistema” consiste em “componentes interdependentes que interagem regularmente e formam um todo unificado”. Sob o enfoque da biologia, podemos dizer que a ecologia é a ciência que trata de todos os níveis do sistema de relações acima do organismo individual.

O conceito de bioma é a concepção de um grande biossistema regional ou subcontinental, caracterizado por um tipo principal de vegetação ou outro aspecto identificador da paisagem.

Um sistema biológico que se aproxima da autossuficiência é denominado biosfera ou ecosfera, e frequentemente se orienta por um estado contínuo de equilíbrio autoajustador que consegue se manter imune a perturbações menores, com níveis autorregulados de entrada e saída de matéria e energia (“steady state”).

Outro conceito fundamental que a biologia traz para a análise ambiental sistêmica é o “Princípio das propriedades emergentes”, que significa uma consequência importante da organização hierárquica, determinando que à medida que os componentes se combinam, são produzidas novas propriedades que antes não existiam. As propriedades emergentes, por definição, são propriedades coletivas que emergem ou aparecem como resultantes da interação entre componentes.

Dando exemplos bem simplórios, quando misturamos efluentes de uma natureza, com efluentes de outra, sempre podem haver reações químicas entre ambos os efluentes, gerando terceiros compostos. Ou de forma mais simplória ainda, quando um homem e uma mulher vão viver juntos podem produzir um novo ser humano pela reação do espermatozoide com o óvulo.

O princípio da emergência diz que o todo é superior à soma das partes. Este conceito é fundamental na análise ambiental que é holística, integrada e sistêmica. Outro exemplo são as ligas metálicas, que tem propriedades que não existem em cada um de seus componentes isolados. Outro exemplo é o que ocorre quando um grupo se reúne para discutir um determinado assunto ou problema. Do diálogo que se estabelece, costumam surgir ideias novas, que antes não haviam ocorrido aos participantes.

A aplicação deste princípio, na análise ambiental, é responsável por grande parte dos impactos identificados pelas relações entre as diversas atividades em conjunto.

Estas atividades separadamente podem não produzir impactos ambientais relevantes, quer sobre o meio físico, quer sobre os meios biológico e antrópico. Mas quando associadas, as atividades produzem o que em marketing recebe a denominação de sinergia, simplificando os conceitos, e que na verdade não passa da aplicação do conceito de propriedades emergentes em outra área.

Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.


Fonte: EcoDebate

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