O feijão transgênico: A decisão e
as lições, por Nagib Nassar.
Em artigo enviado ao Jornal da Ciência, Nagib
Nassar defende decisão da Embrapa de não liberar o feijão transgênico e
contesta posição da CTNBio.
Numa decisão inédita, corajosa e consciente , a
atual diretoria da Embrapa cancelou experimentos de avaliação de feijão
transgênico e impediu seu uso e consumo. A variedade é a mesma que foi
desenvolvida pela instituição e lançada com muita euforia três anos atrás.
A Embrapa verificou pela experimentação
científica no campo e sob condições naturais, que esta variedade seria inútil
como técnica de controle de vírus de feijão.
Há uma história dramática desde o lançamento e
aprovação dessa variedade há três anos. A história vivida por nós agrônomos,
ambientalistas e geneticistas, e até jornalistas atraídos por falsa promessa,
fez com que um deputado afirmasse antecipadamente, num jornal de grande porte,
que nós (já) havíamos resolvido o problema da fome e alimentos no Brasil.
Há três anos, por decisão tomada por quinze
integrantes de CTNBio, formado por representantes de ministérios como Defesa ,
Relações Exteriores e outros, autorizou plantio e consumo de feijão
transgênico, enquanto quatro outros votos de saúde , meio ambiente e ONGs,
defenderem realizar mais estudos. O Conselho de Segurança Alimentar (CONSEA) na
mesma época – no mês de julho do mesmo ano – manifestou para a presidente da
República sua preocupação com a atuação da CTNBio em relação a precaução e a
violação ali cometida , e alertou para a insuficiência de estudos para
liberação do feijão transgênico.
Mais do que isso , foi voto vencido o relato de
especialista relator que criticou o fato de estudos serem baseados em apenas 3
ratos ; número pequeno demais para chegar a conclusões estatísticas válidas de
biossegurança. Mesmo assim todos machos abatidos antes de idade adulta
apresentaram tendência de diminuição de tamanho de rins e de aumento do peso de
fígado.
Desconsiderou-se também o alerta do relator que a
legislação estava sendo atropelada, já que deixou-se de apresentar estudo ao
longo de duas gerações de animais. Criticou-se que os estudos de campo foram
feitos por apenas dois anos e só em três localidades, quando a lei exige testes
em toda as regiões onde a planta poderá ser cultivada. Foi afirmado à imprensa,
pelo responsável dos experimentes, que testes foram feitos em todos os
ecossistemas enquanto o processo no CTNBio mostra que ensaios foram realizados
somente na casa de vegetação.
A durabilidade de resistência ao vírus foi
questionada, pois os dados mostraram que a primeira geração de sementes
apresentou 30% de plantas suscetíveis a vírus, e se isso se repete a cada
geração não haverá resistência no quinta ou sexta geração . É o mesmo que foi
verificado ultimamente. O pior é que nenhuma dessas questões freou uma falsa
euforia!
Há muitas lições para aprender, uma delas é que
até lançar a variedade, ela custou, pelo valor de hoje, mais de 30 milhões de
reais. Não seria bom coletar informações suficientes antes de começar, já que
elas existem na literatura científica e são conhecidas por tudo mundo da área.
A última foi há doze anos sobre como lançar uma mandioca resistente ao mosaico
pela mesma técnica. Custou 15 milhões de dólares e terminou por ser abandonada
após poucos anos.
O fato de que a CTNBio é constituída e decide com
base e forma política, prejudica o país e o público consumidor. O caso do
feijão mencionado acima é uma clara evidência . Há mais exemplos similares. O
milho transgênico M 810 é proibido em toda a Europa; Ásia e até em países da
África, que o rejeitou mesmo como presente, e preferiram morrer de fome do que
intoxicadas. O Brasil é um dos muito poucos países que o aprovaram graças à
CTNBio. As atribuições dessa comissão são legalmente designadas pela lei e pela
ANVISA, mas infelizmente, por razões políticas, não são respeitadas.
A última lição vem da decisão corajosa da atual
diretoria da Embrapa, que poupou ao País muito sofrimento, e para eles levanto
meu chapéu e me curvo respeitosamente.
Nagib Nassar
Professor Emérito, Universidade de Brasília
www.geneconserve.pro.br
Professor Emérito, Universidade de Brasília
www.geneconserve.pro.br
Fonte: Jornal da Ciência
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