A natureza não negocia: a
catástrofe climática está acontecendo agora!
por Kumi
Naidoo*
Tufão Hagupit atinge Albay, no sul das Filipinas. O
Greenpeace está lá para testemunhar os impactos e chamar atenção para as
mudanças climáticas. Foto: © Greenpeace/Alanah Torralba.
Enquanto o tufão Hagupit atinge as Filipinas, uma
das maiores operações de evacuação em tempos de paz da história foi lançada
para prevenir uma repetição das enormes perdas de vidas ocorridas quando o
super tufão Haiyan atingiu a mesma área há apenas um ano.
“Uma das maiores evacuações em tempos de paz” é o
que tem sido dito sobre esse fato. Mas pergunto: é tempo de paz ou estamos em
guerra com a natureza?
Eu estava prestes a ir para Lima, no Peru, quando
recebi um telefonema para vir para as Filipinas para apoiar o nosso escritório
e seu trabalho em torno do tufão Hagupit (cujo nome significa chicote). Em Lima
está em andamento a COP 20, mais uma rodada de reuniões da ONU sobre o clima,
com o objetivo de negociar um tratado global para evitar uma mudança climática
catastrófica.
Mas essas negociações já acontecem há muito tempo,
com urgência insuficiente e nos bastidores. E, não tanto nos bastidores, também
ocorre a influência do lobby dos combustíveis fósseis.
Este ano, como no ano passado e no ano anterior,
essas negociações ocorrem em um cenário devastador de um chamado “evento
climático extremo”, sobre o qual os cientistas do clima há tempos vêm
alertando.
Tragicamente, não estamos tomando medidas urgentes.
Mas a natureza não negocia, ela responde à nossa intransigência. Para o povo
das Filipinas, e em muitas outras partes do mundo, a mudança climática já é uma
catástrofe.
O tufão Hagupit atingiu na noite deste sábado (6)
no leste das Filipinas com ventos de até 210 km/h e chuvas fortes que
arrancaram árvores, telhados e linhas elétricas. Desde sexta-feira (5), a Cruz
Vermelha calcula que um milhão de filipinos foi retirado preventivamente de
suas casas. Na foto imagem de satélite da Nasa mostra o tufão Hagupit que
atingiu o leste das Filipinas. Foto: Jeff Schmaltz/ NASA/ Fotos Públicas.
Há apenas um ano, o super tufão Haiyan matou
milhares de pessoas nas Filipinas, deixou as comunidades destruídas e causou
bilhões de dólares em danos. Agora, muitos sobreviventes que ainda estão
deslocados tiveram que novamente evacuar as tendas onde vivem enquanto o tufão
Hagupit esculpe um caminho por todo o país.
É muito cedo para avaliar o impacto até agora –
estamos todos esperando que ele poupará as Filipinas da mesma dor que foi
vivida após Haiyan.
Aqui em Manila, nos preparamos para viajar para as
áreas impactadas, na esteira do tufão Hagupit, ou Ruby, como tem sido chamado.
Vamos oferecer a assistência que pudermos e vamos prestar solidariedade ao povo
filipino. Queremos chamar a atenção daqueles que são responsáveis pelas
mudanças climáticas, aqueles que são responsáveis pela devastação e que
deveriam estar ajudando a pagar pela limpeza e pela a adaptação a um mundo em
que o nosso clima está se tornando uma fonte crescente de destruição em massa.
É com o coração pesado que nos preparamos para esse
testemunho. Nós desafiamos aqueles em Lima a voltar sua atenção da letargia do
processo das negociações e prestar atenção ao que está acontecendo no mundo
real.
Os chamamos para entender que a mudança climática
não é uma ameaça futura a ser negociada, mas um perigo claro e presente que
requer ação urgente agora!
Todos os anos, o povo das Filipinas aprende da
maneira mais difícil o que a inação sobre as emissões quer dizer. Eles podem
estar um pouco mais bem preparados e mais resistentes, mas eles também estão
mais horrorizados com o fato de que, a cada ano – ao mesmo tempo -, as reuniões
sobre o clima parecem continuar no vácuo. Não estão preparados para tomar
medidas significativas, não são capazes de responder à urgência do nosso tempo
e não responsabilizam os grandes poluidores que estão causando a mudança do
clima com ritmo feroz.
Antes de sair para Manila também recebi uma
mensagem do Yeb Sano, comissário do clima para as Filipinas: “Eu espero que
você possa se juntar a nós quando dermos o testemunho sobre o impacto deste
novo super-tufão. Sua ajuda seria muito valiosa para entregar uma mensagem
clara e em bom som para Lima.”
Yeb foi o negociador-chefe Filipino por três anos
nas negociações climáticas da ONU e recentemente visitou o Ártico em um navio
do Greenpeace para testemunhar o degelo do mar. Dois anos atrás, em Doha,
quando o tufão Pablo tirou a vida de muitos, ele rompeu o protocolo normalmente
reservado e desapaixonado da diplomacia que domina as negociações do tratado do
clima da ONU falando:
“Por favor, deixem que 2012 seja lembrado como o
ano em que o mundo encontrou a coragem de assumir a responsabilidade para o
futuro que queremos. Eu peço a todos nós aqui, se não formos nós, quem? Se não
for agora, então quando? Se não aqui, então onde? ”
Estou reunindo o Greenpeace Filipinas e Yeb para
visitar as áreas mais atingidas, documentar a devastação e enviar uma mensagem
clara de mudança climática para Lima e o resto do mundo. Os que são
responsáveis pela maioria das emissões serão responsabilizados pelas comunidades
que estão sofrendo os impactos de eventos climáticos extremos associados às
mudanças climáticas.
Vamos chamar os chefes das companhias de
combustíveis fósseis que são culpados pela tragédia que se desenrola para que
realizem um exame de consciência e aceitem a sua responsabilidade histórica.
Diz-se que a verdade é a primeira vítima da guerra e, nesta guerra contra a
natureza, a verdade da ciência do clima é inquestionável.
* Kumi Naidoo é diretor-executivo do
Greenpeace Internacional.
Fonte: Greenpeace
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