O Sul pede clareza no
financiamento e na adaptação na COP 20.
por Diego
Arguedas Ortiz, da IPS
Uma das sessões plenárias da jornada inaugural das
negociações da 20ª Conferência das Partes da Convenção Marco das Nações Unidas
sobre a Mudança Climática, na capital do Peru. Foto: Diego Arguedas Ortiz/IPS.
Lima, Peru, 2/12/2014 – Durante a 20ª Conferência
das Partes (COP 20) da Convenção Marco das Nações Unidas sobre a Mudança
Climática, que começou ontem e terminará no dia 12 na capital peruana,
representantes de 195 países e centenas de membros da sociedade civil buscam
concertar os pontos mais importantes de um novo tratado mundial destinado a
frear o aquecimento global.
As delegações oficiais e da sociedade civil
organizada do Sul em desenvolvimento têm os olhos voltados para o avanço de um
rascunho para conseguir um acordo vinculante sobre redução de emissões de
dióxido de carbono, que deve ser assinado dentro de um ano. A expectativa
recai, sobretudo, nos compromissos que os países industrializados assumirem,
como financiar a luta contra a mudança climática, e na inclusão de metas
vinculantes para reduzir a vulnerabilidade atual a esses fenômenos, segundo
reconheceram seus representantes à IPS.
“De Lima tem de sair um texto contendo elementos
que assentem as bases do acordo de 2015. Será assinado no próximo ano, mas os
elementos têm de estar aqui, como, por exemplo, as contribuições dos países e
do que vão tratar”, explicou à IPS o argentino Enrique Maurtua, assessor em
política internacional do capítulo latino-americano da organização Climate
Action Network (CAN). “Essas contribuições têm de ser equitativas e incluir
indicadores como necessidades históricas, adaptação ou necessidades de
desenvolvimento dos países”, assegurou.
A COP 20 da Convenção Marco das Nações Unidas sobre
Mudança Climática (CMNUCC) parte de um reconhecimento cada vez mais discutido:
o ritmo de vida e o modelo de desenvolvimento atual representa pesadas emissões
de gases-estufa na atmosfera, que aquecem o planeta.
Como reduzir esse aquecimento e o que fazer com os
danos já produzidos são duas das perguntas mais importantes na cúpula climática
aberta ontem nas instalações temporárias levantadas no terreno do Quartel
General do Exército em Lima, conhecido como “Pentagonito” (Pentagoninho).
Maurtua destacou que essas denominadas “contribuições
previstas e determinadas em nível nacional (INDC) têm de ser suficientemente
fortes para se seguir o caminho para conter o aumento global das temperaturas
em dois graus centígrados, e não em quatro ou seis, que é para onde apontamos
agora”.
Segundo o ritmo atual de consumo dos humanos, até
2100 o planeta seria quatro graus mais quente do que nos anos anteriores à
revolução industrial, antes que começasse a maior parte das emissões. Isso
provocaria aumentos drásticos do nível do mar, mudanças na produtividade dos
solos, no tamanho das geleiras e na biodiversidade, sendo que os primeiros a
serem afetados seriam os que têm menores emissões: os países do Sul.
Os cientistas identificaram que só um cenário onde
o aumento não seja maior do que dois graus pode prevenir alterações climáticas
muito bruscas. A redução das emissões de gases-estufa é o caminho escolhido
para alcançar esse limite. Esse objetivo se consegue mediante a diminuição do
consumo de combustíveis fósseis, o uso de energias limpas e o desenvolvimento
de um estilo de vida baixo em emissões.
O novo tratado substituirá, a partir de 2020, o
Protocolo de Kyoto, assinado em 1997 e em vigor desde 2005, e deverá ser
rubricado na COP 21, que acontecerá em dezembro do ano que vem, em Paris. “Seu
rascunho deve ser acordado aqui, deve marcar o fim dos combustíveis fósseis até
2050 e deve acelerar a mudança para energias limpas e renováveis”, destacou
Martin Kaiser, do Greenpeace. “Não se trata de “energias como a nuclear que é
cara, centralista e perigosa”, enfatizou esse ativista na abertura da COP 20.
Governos e sociedade civil do Sul em
desenvolvimento concordam que é necessário buscar mecanismos para adaptação às
mudanças climáticas, algumas delas já consideradas irreversíveis. “É muito
importante o tema da adaptação. Esta tem que ter o mesmo peso que tem a
mitigação. Basicamente é reforçar o vínculo entre ambas. Já temos que fazer
adaptação, mas, quanto mais se atrasa a mitigação, mais teremos que nos
adaptar. São igualmente importantes e isso também tem que estar refletido”,
detalhou Maurtua.
Em um informe divulgado na véspera da abertura da
COP 20, a organização Oxfam recordou que a mitigação da mudança climática é
cara, bem como a adaptação ao fenômeno. Apenas nos países subsaarianos são
necessários US$ 62 bilhões para a adaptação, afirma o estudo.
“O que podemos esperar, o que os países em vias de
desenvolvimento estão buscando nas contribuições nacionais, é uma garantia de
que o financiamento terá lugar no encontro, em algum lugar, porque isso é algo
que não estamos vendo no momento”, pontuou à IPS a assessora em mudança
climática da Oxfam, Kiri Kanks.
A ativista reconhece que existe um debate sobre o
modo de implantar o financiamento da luta contra a mudança climática, mas,
“seja nesse acordo, nas contribuições ou em algum outro lugar, há uma
necessidade de se fazer uma paridade entre mitigação e seu financiamento”.
Durante séculos os países industrializados
queimaram mais combustíveis fósseis e desmataram com maior velocidade, por isso
suas emissões históricas são maiores do que as dos países do Sul em
desenvolvimento. Por isso, se convencionou que as nações industrializadas
financiassem o Fundo Verde para o Clima, com US$ 100 bilhões até 2020. Mas a
contribuição para esse fundo é mínima até agora, segundo ativistas e delegações
oficiais.
“É necessário que os negociadores cheguem a acordos
para o rascunho do novo protocolo. Entre eles um mecanismo para rever as
contribuições, que revise tanto os níveis de ambição como os de emissões”,
opinou Tasneep Essop, do Fundo Mundial para a Natureza. “Queremos ver um
mecanismo que traduza essa revisão em termos de ambição. Queremos também ver a
adaptação dentro do texto, mas com o apoio financeiro correspondente”,
acrescentou.
Essop ressaltou que a sociedade civil chegou a Lima
fortalecida por mobilizações em massa nos meses anteriores, com marchas
ocorrendo em cidades de todo o mundo pedindo medidas diante da mudança
climática. Também disse que são animadores o anúncio conjunto da China e dos
Estados Unidos, e o da União Europeia, no dia 12 de novembro, com compromissos
sobre redução de emissões.
Entretanto, Essop considera que falta um
compromisso que permita pensar que em 2020 começarão medidas para responder ao
desafio do modelo de desenvolvimento que a mudança climática impõe.
Maurtua compartilha a posição de que falta
compromisso, em particular financeiro. Segundo esse especialista do CAN
latino-americano, “há contribuições de vários países comprometidos, que somam
US$ 9,3 bilhões. Supunha-se que essas contribuições tinham que já ter alcançado
entre US$ 10 bilhões e US$ 15 bilhões, que nos fazem falta. No rascunho de Lima
tem de estar estabelecido o caminho para conseguir os US$ 100 bilhões até 2020,
para implementar o novo tratado climático”.
Fonte: Envolverde
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