Ciência avança sobre parte
inexplorada dos oceanos.
por Diego
Freire, para a Agência Fapesp
Compreender melhor os oceanos – que, apesar de
cobrirem 70% da superfície do planeta, formam o ecossistema menos conhecido – é
uma questão de sustentabilidade, afirmam cientistas. Foto: Alvaro E.
Migotto/Cifonauta.
Agência Fapesp – Apesar de cobrir 70% da superfície
do planeta, os oceanos são o ecossistema menos explorado da Terra. Para
cientistas, a necessidade de compreender melhor os oceanos é uma questão de
sustentabilidade.
“A exploração dos recursos marinhos aumenta cada
vez mais, fazendo dos oceanos uma fonte que muitos julgam inesgotável para a
satisfação de diversas demandas humanas. É preciso compreender melhor a
complexidade da vida marinha para estabelecer uma relação sustentável com ela”,
disse Rick Grosberg, diretor do Coastal and Marine Sciences Institute (CMSI) da
University of California em Davis (UCD), à Agência FAPESP.
Esforços para avançar no conhecimento sobre a vida
marinha, correntes oceânicas e suas relações com a vida em terra firme foram
compartilhados por pesquisadores dos Estados Unidos e de instituições do Estado
de São Paulo na FAPESP Week California, realizada de 17 a 20 de
novembro nas cidades de Berkeley e Davis.
Grosberg falou sobre pesquisas com invertebrados
marinhos, incluindo anêmonas, hidrozoários, ascídias e caracóis, e do uso de
abordagens genômicas no estudo de suas populações. “Os trabalhos de meu grupo
envolvem atividades de campo e de laboratório, com genética molecular, genética
populacional e filogenia, além de uma quantidade ainda modesta de modelagem”,
disse.
Entre esses trabalhos estão pesquisas em genética
da conservação de invertebrados marinhos e crustáceos de piscinas vernais,
conjuntos temporários de águas formados em determinadas épocas do ano, que
servem de hábitat para plantas e animais. “Em menos de um século, a urbanização
e a conversão agrícola destruíram 90% desses habitats”, disse.
Pesquisadores do laboratório de Grosberg iniciaram
estudos genéticos para caracterizar os efeitos do hábitat na diversidade de
espécies endêmicas – que ocorrem em apenas um ecossistema – de camarão girino.
De acordo com o pesquisador, várias dessas espécies são agora protegidas pelo
governo dos Estados Unidos em razão dos trabalhos do laboratório.
O objetivo agora é expandir o projeto para outras
espécies simpátricas – variações genéticas de populações que habitam a mesma
região geográfica, tornando-se espécies diferentes. “Também estamos examinando
os efeitos das mudanças climáticas, da pesca excessiva, da poluição e da
fragmentação de hábitat sobre a resiliência dos recifes de coral”, disse
Grosberg.
Luciano Martins Verdade, professor do Centro de
Energia Nuclear na Agricultura da Universidade de São Paulo (Cena-USP) e membro
da coordenação do Programa BIOTA-FAPESP, falou sobre a importância do
monitoramento da biocomplexidade em todos os ecossistemas.
“Seja no meio aquático ou terrestre, precisamos de
mecanismos de monitoramento que nos permitam tomar decisões de intervenção humana
para corrigir problemas gerados por pressões – como, por exemplo, de pesca
excessiva ou uso de produtos agroquímicos – que contaminam o meio, mas são
necessários à atividade agrícola”, considerou.
Verdade destacou em sua palestra a necessidade de o
processo produtivo levar em consideração a conservação da biodiversidade.
“Hoje, mais do que nunca, a paisagem em que a pesca
ou a agricultura são feitas é a mesma ocupada pela diversidade biológica. O que
se pretende é uma paisagem que seja de fato multifuncional, que tenha a missão
de produção de espécies domesticadas, mas comporte também uma missão de
conservação da diversidade biológica”, disse.
Correntes marítimas
Outro fator diretamente ligado à vida nos oceanos e
fora deles, as correntes marítimas, foi abordado na FAPESP Week California por
Edmo José Dias Campos, professor do Instituto Oceanográfico da USP.
Campos apresentou as atividades de pesquisa
conduzidas no âmbito do Projeto Temático Impacto do Atlântico
Sul na célula de circulação meridional e no clima, realizado com
apoio da FAPESP e que integra o projeto internacional South Atlantic Meridional
Overtuning Circulation (Samoc).
“Estamos atuando para entender o comportamento das
regiões profundas do oceano em uma área onde não há observações anteriores”,
destacou Campos. Segundo ele, as observações mais recentes surpreenderam pela
intensidade das correntes do Atlântico Sul.
“Já temos um conjunto de correntes medidas a quatro
mil metros de profundidade que estão mostrando variações de amplitude muito
maiores do que o esperado. Também verificamos que a componente leste-oeste
dessa corrente tem uma variabilidade muito grande, como se houvesse uma espécie
de meandramento ou oscilação lateral, com amplitudes muito grandes. Precisamos
revisitar os dados e analisá-los, mas tudo indica que se trata de um fenômeno
inédito”, disse.
O conhecimento sobre o comportamento das correntes
pode ajudar na compreensão das mudanças climáticas. “Se conseguirmos manter
esse sistema de observação ao longo do tempo, vamos poder dizer se há
alterações de mais longo período e considerar suas relações com o clima”, disse
Campos.
Os trabalhos são realizados com o navio de pesquisa
oceanográfica Alpha-Crucis, adquirido pela FAPESP no âmbito do projeto Incremento da capacidade de pesquisa
em oceanografia no estado de São Paulo.
Fonte: Agência Fapesp
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