55% do carbono em terras
indígenas e áreas protegidas da Amazônia estão em risco, diz estudo.
por
Redação do ISA
Mineração, corte ilegal, barragens e projetos agrícolas,
somados ao descumprimento dos direitos territoriais indígenas colocam em perigo
as florestas dos países tropicais que participam da Conferência do Clima,
iniciada ontem (1º/12), em Lima.
O novo estudo revela a existência de enormes
quantidades de carbono na rede de territórios indígenas e áreas protegidas de
nove países da Amazônia. Intitulado “Carbono nas florestas da Amazônia: o pouco
reconhecido papel dos territórios indígenas e áreas naturais protegidas”, o
estudo, que será publicado na próxima edição da revista Carbon Manegement,
sugere que a proteção da grande quantidade de carbono existente nas florestas
dos territórios indígenas e áreas protegidas – equivalentes a 55% de todo o
carbono da região amazônica – é crucial para a estabilidade do clima global e
para a identidade cultural dos que habitam as florestas e para a saúde desses
ecossistemas (leia aqui o artigo publicado na
revista).
Acesse aqui o mapa-pôster nas versões em espanhol e em
inglês.
“Vemos, por exemplo, que armazenam cerca de um
terço do carbono de superfície da região, em uma extensão um pouco menor que a
terceira parte da área”, afirma o cientista Wayne Walker, do Centro de Pesquisa
Woods Hole (WHRC). “Isto é mais que o carbono contido nas florestas ricas em
carbono de outros países tropicais incluindo a Indonésia e a República
Democrática do Congo”.
Colaboração inovadora Norte-Sul
Resultado de uma inovadora colaboração Norte-Sul, o
estudo envolveu cientistas, redes panamazônicas de indígenas, várias ONGs e
especialistas en políticas públicas, combinando medições de satélite de
conteúdo de biomassa com registros obtidos em campo e uma base de dados sobre
os limites dos territórios indígenas e áreas protegidas. Foi desenvolvido com a
participação do Centro de Pesquisa Woods Hole (WHRC), da Rede Amazônica de
Informação Socioambiental Georreferenciada (Raisg), da Coordenação das
Organizações Indígenas da Bacia Amazônica (Coica) e do EDF (Environmental Fund
Defense).
“Até recentemente, uma análise desta magnitude não
teria sido possível; agora, a disponibilidade de dados espaciais consistentes e
precisos sobre a Amazônia fez uma enorme diferença “, diz Alessandro Baccini
também de WHRC.
O estudo revela ainda que cerca de 20% das
florestas da Amazônia se encontram ameaçadas pelo corte legal e ilegal de
madeira, pela construção de novas estradas e barragens, pela expansão da
agricultura comercial e das indústrias de minérios e de petróleo, pressões que
têm se exacerbado em vários países onde os governos não reconhecem ou respeitam
os direitos territoriais indígenas.
“Nunca estivemos sob tanta pressão como evidencia o
estudo”, diz Edwin Vásquez, coautor e presidente da Coordenação das
Organizações Indígenas da Bacia Amazônica (Coica) “Mas agora fica evidente que
ali onde os direitos são fortes aqs florestas estão em pé. E sabendo que temos
mais da metade do carbono da região nos territórios indígenas e áreas
protegidas, podemos dizer a nossos gobernantes que fortaleçam o papel e os
direitos dos povos indígenas das florestas”.
Terras indígenas e áreas protegidas são essenciais
para a estabilidade global do clima
A Amazônia compreende 2.344 territórios indígenas e
610 áreas naturais protegidas, distribuídas em nove países. Estas áreas são
riquíssimas do ponto de vista da diversidade biológica, cultural e lingüística.
Também são consideradas a pedra angular para a conservação amazônica porque
atuam como barreiras sociais e naturais diante do avanço da fronteira agrícola
e dos incêndios florestais. Em países como o Brasil, com histórico de altos
indíces de desmatamento, estas áreas são consideradas elementos centrais das estratégias
orientadas a evitar as emissões de dióxido de carbono por desmatamento e
degradação florestal.
“Isto significa que o reconhecimento internacional
e os territórios indígenas e áreas protegidas são essenciais para assegurar que
estas áreas continuem contribuindo para manter a estabilidade global do clima”,
diz Richard Chase Smith, do Instituto do Bem Comum, do Perú. Smith destacou
também que os conflitos sociais no Perú e em outros países amazônicos
continuarão ocorrendo se os governos não assegurarem a posse da terra a seus
povos indígenas.
“Se todos os projetos de desenvolvimento econômico
atualmente previstos para a Amazônia fossem implementados, a região se
convertería em uma gigantesca savana, com ilhas de floresta”, afirma Beto
Ricardo, do Instituto Socioambiental (ISA), do Brasil. “Uma importante
proporção dos territorios indígenas e áreas protegidas se encontra em situação
de risco, com consequências potencialmente desastrosas incluindo 40% dos
territórios indígenas, 30% das áreas naturais protegidas e os 24% que
correspondem a ambas as categorias, por se tratar de áreas de sobreposição”.
Ao sintetizar o estudo, seus autores concluem que
manter a estabilidade da atmosfera e a ampla gama de serviços ambientais e
sociais de significado global providos pelas florestas amazônicas dependerá a
curto prazo da decisão dos governos em adotar políticas que assegurem a
integridade ecológica dos territórios indígenas e áreas naturais protegidas. O
estudo adverte que a destruição destes ecossistemas ricos em carbono diminuirá
gradualmente sua capacidade de funcionar de forma adequada, e que isso
resultará em efeitos nocivos e potencialmente irreversíveis sobre a atmosfera e
o planeta.
“A solução é reconhecer os direitos dos povos
indígenas sobre os territórios que ainda não tenham sido reconhecidos
oficialmente e esclarecer os conflictos territoriais que afetam as áreas
naturais protegidas diante de intereses privados,” avalia o especialista em
políticas públicas sobre florestas tropicais Steve Schwartzman, do EDF.
O lançamento oficial ocorrerá na quinta, 4/12, em
side event do Ipam, na COP.
Assessoria de imprensa: Inês Zanchetta- ISA
Comunicação.
(11) 3515-8969
Fonte: Instituto Socioambiental
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