São Paulo: sem água, sem ar, sem
terra. E com fogo.
por
Leonardo Sakamoto*
Nível de água no Cantareira e em cinco mananciais
de São Paulo volta a cair. Previsão de chuva só na noite de quarta feira (12).
Foto: Vagner Campos/A2 FOTOGRAFIA.
A água dos reservatórios está acabando.
(Mas continuamos creditando o problema e a solução
a alguma divindade antropomórfica vingativa e torcendo o nariz para necessárias
mudanças no comportamento diante da falácia do recurso “renovável”, negando-nos
a combater o desperdício e a pagar mais pelo seu uso).
O ar é o mais poluído dos últimos sete anos.
(E seguimos tendo orgasmos múltiplos diante de
anúncios de automóveis e motocicletas e babando em frente a vitrines de
concessionárias enquanto mentimos em pesquisas de opinião, dizendo que amamos
ônibus e bicicletas para ficar bem na fita).
A terra e seu alto valor tornaram a cidade
proibitiva.
(Contudo, na hora de apoiar medidas para cumprir a
Constituição e impedir que a especulação imobiliária seja mais importante que a
dignidade, quem tem pouco adota, por vezes, um discurso violento, que seria
esperado dos grandes proprietários. Estufam o peito e gritam: A cidade é para
quem pode pagar por ela! E, percebendo que eles próprios não podem, com o rabo
entre as pernas, mudam-se para longe).
O fogo é uma exitosa política de desenvolvimento
urbano.
(Enquanto sentem pena de famílias que perderam
tudo, abrem imperceptíveis sorrisos de olho no erguimento de bancos, salas de
concertos e de exposições, teatros, sedes de multinacionais, escritórios da
administração pública, restaurantes, equipamentos públicos. E apartamentos,
para quem pode pagar, é claro.).
Se você era jovem na década de 90, pertinentemente
chegaria à conclusão de que resta apenas clamar pelo Capitão Planeta. O
problema é que, em São Paulo, há uma chance dele estar ocupado garantindo que a
periferia fique na periferia ou controlando “pacificamente” manifestações. E, é
claro, respondendo a demandas de doadores de campanha de seus chefes.
* Leonardo Sakamoto é jornalista e doutor em
Ciência Política.
Fonte: Blog do Sakamoto
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