sexta-feira, 14 de novembro de 2014

São Paulo: sem água, sem ar, sem terra. E com fogo.
por Leonardo Sakamoto*
Nível de água no Cantareira e em cinco mananciais de São Paulo volta a cair. Previsão de chuva só na noite de quarta feira (12). Foto: Vagner Campos/A2 FOTOGRAFIA.

A água dos reservatórios está acabando.

(Mas continuamos creditando o problema e a solução a alguma divindade antropomórfica vingativa e torcendo o nariz para necessárias mudanças no comportamento diante da falácia do recurso “renovável”, negando-nos a combater o desperdício e a pagar mais pelo seu uso).

O ar é o mais poluído dos últimos sete anos.

(E seguimos tendo orgasmos múltiplos diante de anúncios de automóveis e motocicletas e babando em frente a vitrines de concessionárias enquanto mentimos em pesquisas de opinião, dizendo que amamos ônibus e bicicletas para ficar bem na fita).

A terra e seu alto valor tornaram a cidade proibitiva.

(Contudo, na hora de apoiar medidas para cumprir a Constituição e impedir que a especulação imobiliária seja mais importante que a dignidade, quem tem pouco adota, por vezes, um discurso violento, que seria esperado dos grandes proprietários. Estufam o peito e gritam: A cidade é para quem pode pagar por ela! E, percebendo que eles próprios não podem, com o rabo entre as pernas, mudam-se para longe).

O fogo é uma exitosa política de desenvolvimento urbano.

(Enquanto sentem pena de famílias que perderam tudo, abrem imperceptíveis sorrisos de olho no erguimento de bancos, salas de concertos e de exposições, teatros, sedes de multinacionais, escritórios da administração pública, restaurantes, equipamentos públicos. E apartamentos, para quem pode pagar, é claro.).

Se você era jovem na década de 90, pertinentemente chegaria à conclusão de que resta apenas clamar pelo Capitão Planeta. O problema é que, em São Paulo, há uma chance dele estar ocupado garantindo que a periferia fique na periferia ou controlando “pacificamente” manifestações. E, é claro, respondendo a demandas de doadores de campanha de seus chefes.

* Leonardo Sakamoto é jornalista e doutor em Ciência Política.


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