Meio ambiente e riquezas naturais
disputam com esporte e cultura o orgulho do brasileiro.
por
Redação do WWF Brasil
A onça-pintada é um dos símbolos da fauna
brasileira. Foto: © Araquém Alcântara.
Além do futebol, o brasileiro acaba de revelar que
tem outra paixão. Uma pesquisa nacional encomendada pelo WWF-Brasil aponta que
a maior parte da população tem um forte sentimento de orgulho pelo meio
ambiente e as riquezas naturais do país. A maioria sabe da importância das
áreas protegidas para o bem estar humano e acha que a natureza não está sendo
tão bem cuidada como como deveria. Os resultados foram apresentados hoje em
Sidney, na Austrália, durante o Congresso Mundial de Parques.
A pesquisa feita pelo Ibope durante a segunda
quinzena de outubro com cerca de duas mil pessoas em todas as regiões buscou
entender como a população brasileira se relaciona com as unidades de
conservação, como parques, reservas e outras áreas protegidas.
Os dados mostram que 58% dos entrevistados têm no
meio ambiente um motivo de orgulho. Esse mesmo sentimento faz bater o coração
de 37% da população quando o tema é diversidade cultural, e 30% afirmam que têm
no esporte a razão para exaltar sua brasilidade.
O brasileiro também está ciente do papel das áreas
protegidas para o bem estar de todos. Entre os entrevistados, 65% afirmaram que
a proteção da fauna e da flora é um dos benefícios dessas áreas.
A população também sabe que proteger o meio
ambiente significa garantir a proteção das nascentes represas e rios, as
principais reservas de água para o consumo humano. Essa relação está clara para
55% dos que responderam à pesquisa.
Para 48% dos pesquisados, as áreas protegidas
ajudam a melhorar a qualidade do ar; 34% identificam nesses locais uma
oportunidade para o descanso e o lazer e 25% enxergam perspectivas econômicas a
partir da conservação do meio ambiente.
“O que a pesquisa deixa claro é que há um
descompasso entre as políticas públicas de meio ambiente no Brasil e os anseios
da população. Apesar do apreço que o brasileiro tem pelas áreas naturais, da
importância delas na vida cotidiana das pessoas, esse tema não é uma prioridade
nacional do ponto de vista dos governos”, afirma Maria Cecília Wey de Brito,
CEO do WWF-Brasil.
Exemplo disso, diz ela, é o fato de que no recente
debate eleitoral, o tema ambiental ficou na escuridão. “E foi isso que nos
inspirou a fazer a pesquisa. Achamos que os políticos ainda não percebem o
quanto o meio ambiente pode beneficiar o país. E o pior: não são capazes de
perceber que a proteção do meio ambiente é uma expectativa nacional.”
Segundo a CEO, as áreas protegidas ajudam a
conservar a água que abastece desde a agricultura até o consumo doméstico. As
florestas e outros ecossistemas também colaboram no equilíbrio do clima, no
regime de chuvas e fornecem uma diversidade enorme de outros serviços, como
matérias primas para medicamentos, alimentos e cosméticos. Têm, portanto, um
papel econômico que ainda não está sendo considerado.
“Será que vamos ter de sofrer outra crise como a da
água em São Paulo para começar a dar valor à conservação do meio ambiente?”,
pergunta Wey de Brito. Segundo ela, a resposta dada pelo governo de São Paulo
na questão hídrica foram obras que gastarão R$ 3,5 bilhões. “E não vai nada
para a conservação dos mananciais. Não está certo”.
Vista aérea do Pantanal. Foto: © WWF-Brasil / Adriano
Gambarini.
A falta de atenção com o meio ambiente é uma
preocupação do brasileiro que se reflete na pesquisa encomendada pelo
WWF-Brasil. De cada 10 entrevistados, oito consideram que a natureza não está
protegida de forma adequada. Apenas 11% acham que sim.
“De fato, nosso sistema nacional de unidades de
conservação nunca esteve tão ameaçado quanto agora. E isso está ocorrendo com
anuência do Congresso Nacional por meio de projetos de lei e uma avalanche de
pedidos de licença para mineração e construção de grandes obras de
infraestrutura”, adverte Jean François Timmers, Superintendente de Políticas
Públicas do WWF-Brasil.
Todas essas são atividades que podem gerar muito
desmatamento. E 27% dos entrevistados veem no corte raso das florestas uma das
principais ameaças à natureza. A poluição das águas vem em segundo lugar, com
26%. Caçar e pescar em locais proibidos são motivos de preocupação para 19% dos
entrevistados. Outras ameaças apontadas na pesquisa são as grandes obras de
infraestrutura e as mudanças climáticas.
E para resolver esse problema nacional, 74% dos
entrevistados acham que o governo deve agir em primeiro lugar. Em segundo, são
os cidadãos que devem tomar a frente (46%). AS ONGs também foram citadas. Para
20% dos brasileiros ouvidos na pesquisa, essas organizações têm papel
importante na hora de cuidar das unidades de conservação.
“Precisamos de um pacto amplo, que envolva todos os
setores, para mudar o cenário atual e posicionar a conservação da natureza e as
áreas protegidas como prioridades reais na agenda do governo nos próximos
quatro anos” afirma Timmers. “Não dá mais para esperar, os resultados dessa
negligência estão batendo à nossa porta”.
Fonte: WWF Brasil
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